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quarta-feira, 6 de maio de 2020

Grandes vultos: Martins Júnior - Parte 06.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
MARTINS JÚNIOR – PARTE – 06
Sobre a memória de Tiradentes caiu quase um século de silêncio. Pouco se falava no mártir mineiro, pois que os escritores palacianos, na sua maioria, não queriam lembrar o ato de Maria I, bisavó de D. Pedro II. Além do que, o alferes mineiro era republicano.
Dentre os bem poucos que cantaram o herói da Revolução Mineira, está o autor de estilhaços:
 
                        Somos teus filhos, Tiradentes! Viemos
                        trazer-te um goivo e um pouco de cipreste,
                        para que a voz do nosso amor te ateste
                        que andamos inda a levantar, nos cimos
 
                        da pobre pátria, – aquele templo augusto
                        que tu sonhavas construir de auroras!…
                        Estamos ainda trabalhando. O adusto
                        sol do Equador bronzea-nos; as horas

                        vão gotejando, uma por uma, do astro
                        e nós, enquanto nossos pais – os velhos,
                        ouvem do trono os pérfidos conselhos,
                        vamos beijando o teu ciclópico rastro!”
 
Os ideais republicanos e abolicionistas aproximam Martins Júnior de Clóvis Beviláqua, tornando-os grandes amigos, e com ele publica as Vigílias Literárias. E, com João de Freitas e Clóvis, traduz o livro de Jules Soury, Jesus e os Evangelhos, isto, porém, quando já bacharéis, em 1886.
Cursando a Faculdade, no período 1879-1883, o faz naquele momento histórico que, nesta casa, já tive a oportunidade de examinar quando realizei conferência subordinada ao tema Tobias Barreto – aspectos de uma grande vida e que se encontra publicada na primeira série do livro “Juristas Brasileiros”, edição do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Momento de renovação, em que novas ideias alargam os horizontes do pensamento humano. Do grande Tobias Barreto parte a clarinada revolucionária.
Martins Júnior, em 1883, esclarecia sua posição:
“Sou ainda hoje o mesmo sectário convencido e entusiasta do grande sistema filosófico arquitetado na França por Comte. Até hoje, entretanto, não pude ainda substituir Littré por Laffitte, e Wiroubouff pelo Dr. Ribenet. Quer isto dizer que, em face do vertiginoso movimento científico da atualidade, faço-me com Roberty em positivista independente, e escudado no fecundo princípio da relatividade dos conhecimentos humanos, procuro agrupar ao redor da Lei dos Três Estados e da Classificação hierárquica das ciências todas as conquistas definitivas do evolucionismo spenceriano, do transformismo darwínico, do monismo haekelista e do realismo científico materialista”. E ainda: “Entendo que modernamente, ela, a Poesia, deve ser científica debaixo deste ponto de vista, deste modo: – Sentindo o influxo da concepção filosófica do universo quem domina em seu tempo; enunciando as verdades gerais que decorrem para a vida social dessa concepção; mas vestindo sempre os seus ideais com as roupagens iriadas das faculdades imaginativas, e nunca deixando de obedecer à emoção poética que dá nascimento à obra de arte.
Continua
BRASIL BANDECCHI

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Grandes vultos - Tiradentes - Parte III.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES 
   
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES)
 
Tiradentes diante da morte
 
O Alferes foi preso no dia 10 de maio de 1789.
 
Em Minas, foi decretada logo a severa ordem de prisão para todos os inconfidentes. De início foi preso o desembargador Tomás Antônio Gonzaga, o noivo de Marília, cujo casamento era aguardado como o que iria ser o mais belo em Vila Rica. Cláudio Manoel da Costa foi posto numa prisão na Casa dos Contos. Como previa o enforcamento, de conformidade com a rigorosa lei de então, não resistiu e suicidou-se, com grande sentimento para o povo. No Tejuco, depois de muito trabalho, foi preso o padre Rolim, enquanto o comandante das tropas, Francisco de Paula Freire de Andrade saía disfarçadamente para sua fazenda Caldeirão, sendo, porém, detido para ser posto no cárcere aos empurrões. Em S. João del Rei foi detido Alvarenga Peixoto, e na Vila de S. José o padre Carlos Correia de Toledo e Melo. Em breve as prisões se achavam cheias de sonhadores da liberdade, pouco a pouco remetidos para o Rio. Iam com os punhos acorrentados, a cavalo, enquanto os brutos soldados os humilhavam durante os 8 dias de marcha para os cárceres sombrios.
 
Tiradentes, que tinha sido o primeiro detido, foi jogado na prisão, apenas com a roupa do corpo. Depois de alguns meses foi levado à presença dos juízes, interrogado demoradamente, sem nada dizer que comprometesse os companheiros. Os juízes lhe faziam perguntas sobre coisas que só os inconfidentes sabiam; e ele ficava admirado deles saberem tanto sobre os planos do levante. Era que Silvério soprava, dizia, informava, através de bilhetinhos dirigidos ao Vice-rei, tudo o que sabia.
 
Os juízes desesperavam quando viam que o chefe, Tiradentes, nada informava, e excluía da acusação os antigos companheiros. Até que, já na 4ª audiência, mais de um ano depois que se encontrava preso, mandou um dos juízes que entrasse na sala Silvério. Tiradentes ainda sorriu para cumprimentá-lo, mas o infame delator deu-lhe as costas e se pôs a falar para os juízes, acusando todos e sobretudo o Alferes.
 
Tiradentes viu então de onde tudo partia. E enquanto falava Silvério, ele via com tristeza o sonho de independência desfeito; o Brasil continuava explorado por mãos estranhas, o povo sofrendo a opressão da Coroa, sem falar que aos poucos os companheiros se aproximavam da forca.
 
Quando Silvério se retirou, os juízes quiseram que ele tudo confirmasse. Tiradentes ergueu a cabeça e disse:
 
– Não há cabeças nem capatazes. Só eu sou o culpado e foi eu quem idealizou tudo!
 
Os que se encontravam na sala emudeceram, ante tamanha coragem.
 
No entanto, todos os companheiros ouvidos o acusaram de tal forma que só nele caiu a maior culpa. Uns diziam que ele era louco; outros, que era um falador sem nenhum propósito. Ninguém o defendeu.
 
Até que afinal, no dia 18 de abril de 1789 foi lavrada a terrível sentença. Na sala do Oratório da prisão, acorrentados, cerca de dez inconfidentes ouviram a sentença de morte por enforcamento, com esquartejamento a seguir. Lágrimas, blasfêmias, gritos, se seguiam quando o desembargador incumbido de ler a sentença pronunciava o nome do condenado. Já no Campo da Lampadosa se erguia a forca descomunal, a maior que se levantou no Rio. O advogado dos inconfidentes, José de Oliveira Fagundes, trabalhava sem cessar, procurando, através de sucessivas petições, convencer os julgadores de que deveriam perdoar, ou, no máximo, desterrar os inconfidentes, e nunca matá-los. O desespero tomou conta de todos, pois os juízes se mostraram inflexíveis. Quando já estava alta a madrugada do dia 20 de abril, e as tropas se estiravam pelas ruas, no rumo do Campo da Lampadosa, foi que um lampejo de esperança raiou. Os passos do desembargador pareceram mais rápidos e ele trazia um sorriso nos lábios. Entrou na sala e os condenados o cercaram, cheios de temor mas já com alguma esperança. A Rainha mandava que as penas fossem comutadas em degredo para a África!
 
Os gritos, as lágrimas, as saudações se erguiam de todos os lados em louvor à piedosíssima Rainha. Todos caíram de joelhos, erguendo os olhos e os braços, com as faces lavadas de lágrimas de reconhecimento pela mercê que acabavam de receber! Passados alguns anos poderiam voltar ao lar. á Pátria; e aquela inconfidência teria passado como um pesadelo. As correntes iam caindo dos punhos dos condenados, à medida que eram perdoados.
 
Só um condenado permaneceu de pé, com as correntes nos punhos: Tiradentes! Todos se abraçavam, sorriam, choravam. Passado o alvoroço, nem notaram que um companheiro sorria para eles, e os cumprimentava e formulava votos para que vivessem muitos anos.

21 de abril
 
O 21 de abril de 1792 foi um sábado. Muita tropa na rua e muita gente procurando um lugar por onde passaria o condenado em busca da forca. De todos os condenados, só o Alferes seria enforcado. Todo mundo se compadeceu daquela situação e muita gente saiu do Rio.
 
Às 8 horas da manhã, entrou na sala do Oratório o algoz. Trazia enrolada no braço a corda e tinha nas mãos uma longa camisola branca, chamada “alva dos condenados”. O padre confessor, Penaforte, aproximou-se de Tiradentes para ouvi-lo dizer: “padre, se eu tivesse dez vidas, dez eu daria para que os companheiros não sofressem nada”.
 
O negro Capitania, tremulo, se aproximou, e pediu ao condenado que o perdoasse. Tiradentes o encarou e disse: “Meu amigo! Deixa-me beijar teus pés e tuas mãos! És um inocente!”
 
Quando foi pedido que tirasse o paletó, ele tirou também a camisa dizendo: “O meu Salvador morreu também assim, pelos meus pecados!”
 
Tambores rufavam na rua, cavalos com crinas amarradas de fitas coloridas agitavam-se ante as esporas de prata dos cavalos que bradavam vozes de comando.
 
Às 9 horas, pouco mais ou menos, Tiradentes, vestido com o camisolão, pisou o chão da rua, empunhando um crucifixo, tendo a corda passada pela garganta, enquanto o Capitania segurava a ponta. Um meirinho gritava a frente apontando-o e chamando-o de “infame réu” que havia tentado libertar o país do poder da Rainha piedosíssima! “O Alferes caminhava trôpego , pois fazia quase três anos que estava encarcerado. Depois de andar sob um sol abrasador, mais de quilômetro e meio, entrou no triângulo formado por soldados. Rápido subiu as escadas do cadafalso. Um padre recitou um longo sermão, enquanto ele, em voz baixa, pedia que o Capitania acabasse logo o “trabalho”. A seguir o padre convidou o povo para rezar o credo, ouvindo-se clara, sem tremor a voz firme do Alferes.
 
Súbito, um rumor! Tiradentes foi jogado ao espaço enquanto o negro cavalgava seus ombros para rapidamente enforcá-lo. Tambores, vozes enérgicas de comando, brados, rumor enfim foram ouvidos, enchendo toda a praça.
 
A seguir, para ser cumprida a sentença, constatada a morte do condenado, foi erguido seu corpo ao estrado e, à vista do povo, seguiu-se o esquartejamento. Postos os quartos em sacos de couro, foram sendo semeados no caminho de Minas Gerais. A cabeça foi pregada num poste em Vila Rica para que o tempo a consumisse. Todos os bens foram confiscados e vendidos em benefício da Coroa, e considerados infames seus filhos e netos “se os tivesse”.
 
Assim foi desfeito esse belo sonho de liberdade, em virtude da traição de um companheiro.
 
Silvério teve perdoadas as dívidas. Recebeu da Coroa algumas honras; mas jamais pode voltar a Minas Gerais. Morreu alguns anos após roído de bichos.
 
Trinta anos depois da morte de Tiradentes raiou a Liberdade do país, isto é,a 7 de setembro de 1822 o príncipe D. Pedro proclamava a independência.
 
Um poeta disse de Tiradentes:
 
“Tombou! Mas esplenderam num céu azul de glória,
– Escritas com seu sangue – as páginas da História Da Terra da Liberdade por quem ele morria!”

 
Fonte: Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6, escrito por Luís Wanderley Torres.

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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Grandes vultos - Tiradentes - Parte II.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES 
   
Momento da prisão de Tiradentes
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES) PARTE – II

 
Logo estava Tiradentes de volta à Minas. A todos falava: pelo caminho, pelas estalagens, em todas as oportunidades, sem temer coisa nenhuma.


Essa exaltação logo cairia no ouvido do governador, agora Visconde de Barbacena.

 
A ideia de libertação, aliada à opressão terrível que sofria todo mundo, terminou por aliciar alguns patriotas que comungavam também com as ideias do Alferes. Em S. José morava o padre Carlos Correia de Toledo e Melo (filho de Taubaté), que passou a frequentar Vila Rica e lá conversar sobre essas ideias com o doutor Cláudio Manoel da Costa, grande poeta, solteiro e muito influente. Em São João del Rei, outro poeta, o Coronel Inácio José de Alvarenga Peixoto, esposo da poetisa Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira que muito influenciou o ânimo do marido para entrar na Inconfidência, aderiu com entusiasmo. Luís Vás de Toledo Piza, Sargento Mor, irmão do padre Carlos, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Domingos Vidal Barbosa,José de Resende Costa, pai e filho, e muitos outros,passaram a se reunir em casa do comandante da tropa Francisco de Paula Freire de Andrade, que residia em Vila Rica.

 
Tiradentes também convidou seu amigo Joaquim Silvério dos Reis, que devia muito à Coroa, de impostos atrasados, e não pretendia pagar. Sendo ele muito interesseiro, viu que o movimento daria certo, se todos ficassem empenhados em fazê-lo. Liberto o país, ele, Silvério,estaria livre de dívidas, em troca do serviço prestado à nova república que iria criar. Ficou contente com o plano dos inconfidentes e ofereceu seus 200 escravos para a luta pela libertação.

 
Domingos de Abreu Vieira, compadre de Tiradentes, ofereceu muitos barris de pólvora e o padre José da Silva de Oliveira Rolim levantaria o povo no Tejuco (hoje Diamantina).

 
Em breve eram muitos os patriotas, que se reuniam secretamente na casa do comandante das tropas de Minas, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, que era cunhado de Alvares Maciel.

 
Os planos iniciais foram lançados, sendo o ato principal para o levante, a prisão de Visconde de Barbacena na fazenda Cachoeira, cerca de três léguas de Vila Rica. O Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, grande poeta, que estava para casar com sua Marília (Maria Dorotéia) estava incumbido de redigir, em companhia de Cláudio, as leis da nação que seria fundada. Todos preferiam fosse uma República, em vez de Monarquia. Não haveria escravidão. As mulheres seriam amparadas pelo estado quando tivessem muitos filhos. A Capital da nova República seria transferida para S. João del-Rei e em Vila Rica se fundaria uma Universidade, para que a mocidade universitária não precisasse sair do seu país para instruir-se. As armas da República ostentariam um gênio quebrando uma correntes e gritando: “Libertas quae sera tamen” (Liberdade ainda que tardia) ideia de Alvarenga Peixoto, e a bandeira teria um triângulo, símbolo da Santíssima Trindade, ideia de Tiradentes. A moeda seria a oitava, em ouro, com o valor de 1$500 por oitava. Fábricas de todos os produtos que a terra produzisse seriam fundadas para que o povo não importasse coisas que a própria terra tinha. Além do mais, os braços, nas cidades, seriam ocupados, com grande proveito para o progresso futuro.

 
Aprovados esses planos, Francisco de Paula deu a senha: “tal dia é o batizado”. Os inconfidentes deviam se prevenir com armas e gente, para quando o governador mandasse lançar a derrama, isto é, a cobrança dos atrasados que o povo devia à Coroa. De há muito que as minas se encontravam decadentes, não se conseguindo mais pagar as 100 arrobas anuais. Mas o fisco real não dispensava, e queria as 100 arrobas, atribuindo à negligência na cobrança, ou ao contrabando a não arrecadação daquele montante. A dívida já estava em 596 arrobas (quase 9 mil quilos de ouro) que cerca de 400 mil pessoas deveriam pagar com os bens, vendendo o que pudessem dispor, mesmo que todo mundo ficasse reduzido à miséria.

 
O desembargador Gonzaga ainda explicou ao Intendente da Coroa, que aquela cobrança era desumana, e que se deveria apelar para a Rainha, D. Maria I, clamando por uma anistia.

 
Tudo debalde. Só restava o caminho da Revolução libertária.

 
Tiradentes viu seus planos em marcha e aguardou a senha do seu comandante.

 
Caso falhasse a Revolução, seriam todos presos, julgados, enforcados e aqueles que conseguissem a piedade real, seriam pelo menos desterrados para sempre às costas da África. Quem soubesse, por outro lado, de qualquer plano de independência, tinha o prazo de 30 dias para delatar, sob pena de ser considerado também inconfidente.

 
Estavam as coisas muito bem encaminhadas, quando Tiradentes outra vez seguiu para o Rio. Pelo caminho ia falando “que em breve teriam em Minas novos governadores!” Encontrando uns tropeiros na serra da Mantiqueira, com os burros carregados de sal, bateu ele na anca dos animais e gritou para os condutores: “Vão subindo! Vão subindo, que de muito sal iremos precisar nessas Minas!” Todo mundo se escandalizava com tamanha temeridade, pois estava ele publicamente pregando a independência.

 
Chegando ao Rio, viu que seus requerimentos ainda não haviam sido despachados, e ficou mais de um ano esperando. Enquanto isso, trabalhava na sua profissão e curava com medicina caseira os doentes que lhe procuravam. Assim é que pôs boa a filha da viúva Inácia Gertrudes de Almeida, de uma feia ferida num pé.

 
Enquanto impaciente, esperava, já muito saudoso da sua Vila Rica, em Minas, o seu amigo Joaquim Silvério dos Reis denunciava em muito segredo, ao Visconde, os planos dos Inconfidentes. Estava ele aterrorizado, pois Tiradentes falava muito e sem temor.

 
O primeiro ato do Governador foi suspender a derrama!

 
Isso significava o fracasso do movimento, pois iria deflagrar logo depois da derrama. Os inconfidentes ficaram petrificados! “Alguém denunciou o levante!” Pensaram.


Barbacena imediatamente comunicou-se com o Vice-Rei, no Rio por um portador enviado em segredo. A seguir exigiu que Joaquim Silvério fosse para o Rio e não perdesse de vista seu amigo Tiradentes, para se saber quais os inconfidentes que haviam ali. Silvério desceu lentamente, a cavalo, a estrada, talvez pensando no seu infame papel de delator dos seus companheiros, que certamente iriam morrer na forca, graças à sua denúncia. O país iria continuar escravo, os brasileiros oprimidos, os amigos presos, as famílias órfãs, e só ele, Joaquim Silvério dos Reis, iria ganhar com isso, pois teria as dívidas perdoadas e uma pensão vitalícia pelo serviço prestado, de 400$$ anuais. Não se lembrava que a História o iria apontar para sempre, como o mais covarde, o mais abjeto dos traidores.

 
Quando ele desceu do cavalo, o primeiro abraço que recebeu foi dado por Tiradentes, que, cheio de saudades e abrasado de entusiasmo, perguntava como ia Vila Rica e os amigos! A seguir, muito em surdina: “como vai o movimento nas Gerais?”

 
Silvério foi morar frente a habitação do Alferes, “para melhor observar seus passos” como informou em carta ao Vice-Rei.

 
Com muito disfarce foi visitar o poderoso Luís de Vasconcelos e Sousa (o vice-rei), que de tudo já sabia, graças ao portador enviado pelo Governador de Minas. Mas, mostrou-se surpreso, para dissimular. Despachou dois soldados disfarçados, com bigodes raspados, à paisana e encapotados, para que vigiassem à toda hora Tiradentes. Em todas as esquinas, por todo canto, estavam eles, tanto que o povo começou a temer, pois o Alferes tinha um ardentíssimo gênio e os partiria a espada. Outros, porém, serviçais do Vice-Rei, murmuravam: “Fujam de Tiradentes!” Toda gente se afastava e se escandalizava. Até que um amigo, o Tenente-coronel Sardinha, aconselhou Tiradentes a que fosse ao Vice-Rei reclamar contra a vigilância sem propósito. Mas, diante do Alferes, Luís de Vasconcelos disse que aquilo não era nada e ficasse sossegado.

 
Joaquim José resolveu então esconder-se. E numa noite, quando aquelas sombras perseguidoras o seguiam, ele enganou-as escondendo-se em qualquer ponto escuro, vendo-as passar rápidas e desorientadas, perdendo-se no escuro da noite. Tiradentes então seguiu por outras ruas daquele Rio de Janeiro escuro, até a casa da viúva Gertrudes de Almeida (aquela, cuja filha ele curara). A viúva o encaminhou à rua dos Latoeiros, onde tinha um compadre, Domingos Fernandes Cruz, natural da Vila de Mogi das Cruzes (S. Paulo), que o acolheu na madrugada de 6 de maio de 1789.

 
Dois dias depois, a viúva mandou ao esconderijo de Tiradentes seu sobrinho padre Inácio Nogueira de Lima, saber do que precisava. O Alferes pediu ao padre que procurasse Joaquim Silvério e indagasse dele se a inconfidência já tinha deflagrado em Minas, pois ele queria ir por dentro dos matos até lá.

 
Padre Inácio procurou Silvério, que estava desassossegado, pois o Vice-Rei queria dele que desse conta de Tiradentes sob pena de enforcá-lo. Foi um achado para Silvério aquilo. Padre Inácio deu o recado e Silvério quase não pode conter o contentamento. Pediu o endereço do esconderijo, mas o padre desconfiou e não deu. Silvério reclamou dizendo que era tanto amigo de Tiradentes quanto o padre. Nada conseguiu, no entanto. Como o padre estava acompanhado de outro, Silvério agradeceu o comunicado, mas conservou junto de si esse companheiro do padre Inácio e aproveitou perguntar onde padre Inácio residia. Depois, dirigiu-se rápido ao palácio e em breve estava o padre Nogueira preso e levado ao Vice-Rei. Ouviam-se na rua os gritos de Luís de Vasconcelos, enquanto o padre nada informava. Depois de muita ameaça (até de fogueira) padre Inácio tudo informou. Um sargento e alguns soldados foram despachados e a casa da rua dos Latoeiros foi cercada. O sargento e os soldados subiram na água-furtada do prédio e lá encontraram Tiradentes empunhando um bacamarte, disposto a abater o primeiro que tentasse prendê-lo. Ao ver tratar-se de companheiro de farda, que apenas obedeciam ordens, rendeu-se. Foi levado à presença do Vice-Rei, que logo o reconheceu, sendo a seguir mandado para as masmorras da fortaleza da Ilha das Cobras onde ficou incomunicável. Na mesma fortaleza, mas em cárcere diferente, foi também preso Joaquim Silvério.

 
O sonho de Independência da Pátria estava desfeito.

 
Continua não no próximo post.

 
Fonte: Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6, escrito por Luís Wanderley Torres 

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quarta-feira, 30 de março de 2016

Grandes vultos - Tiradentes - Parte I.

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES   
 

  
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES)
[1746-1792]
...se eu tivesse dez vidas,
dez eu daria para que os
companheiros não sofressem nada”


Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha – o Tiradentes, nasceu na fazenda Pombal, município de São João del-Rei (Minas Gerais) no ano de 1746, em dia e mês até hoje ignorados. Foram seus pais: Domingos da Silva dos Santos (português) e Antônia da Encarnação Xavier (brasileira)


Irmandade: 

O futuro Alferes era o 4º filho, sendo ao todo 7 irmãos. Dois dos seus irmãos foram padres: Domingos (o mais velho) e Antônio, que era o 3º. Todos os seus irmãos lhe sobreviveram; por conseguinte: tiveram notícia da sua morte.

Situação familiar  

A família de Tiradentes era católica praticante. Seus pais, de bom coração, eram muito conceituados em São João del-Rei (hoje Tiradentes), sendo que o pai chegou a ser vereador, e o avô por parte de mãe, Procurador dos Quintos do Rei, emprego de alto destaque, de que dependia a fiscalização dos rendimentos da Coroa em S. José.
 
A fazenda Pombal se situava à margem direita do lendário Rio das Mortes, num vale amplo, com colinas afastadas das margens do rio, que deslizava tranquilamente até se perder de vista, ao longe.

Ali, em suas margens ou nas suas águas, brincaram felizes os 7 filhos do casal Domingos da Silva dos Santos, em companhia de alguns escravos pequenos, até o início da segunda metade do século XVIII, quando Antônia da Encarnação adoeceu gravemente, passando-se o pai do Alferes definitivamente para S. José, com toda a família. Data de 22 de julho de 1751 o testamento que ambos fizeram, estando Antônia da Encarnação <temendo a morte> e bastante doente, deitada numa <cama de doença que Deus Senhor foi servido dar-lhe>.

Curou-se, no entanto, e, já no ano seguinte lhe nascia uma filha, que recebeu na pia batismal o nome de Antônia Rita.
 
O futuro Alferes da Cavalaria Paga das Minas Gerais, o Protomártir da nossa independência, não teve uma infância feliz.
 
A 6 de dezembro de 1755 falecia Antônia da Encarnação, sua mãe, estando ele com apenas 9 anos. O fato de se ver sem os carinhos maternos em tenra idade se gravou tão fortemente em seu espírito, que, homem feito, tinha um ar espantado. Por outro lado, Domingos, seu pai, de uma ora para outra se viu cercado por 7 filhos, todos menores, tendo o mais velho 17 anos, e a menor, Antônia Rita, pouco mais de dois.
 
Uma sombra pesada de tristeza caiu sobre a família, vindo o pior ocorrer dois anos depois, quando levado pela saudade e pelo desânimo, falecia Domingos da Silva dos Santos.
 
Fatos contemporâneos
 
Quando nasceu Tiradentes era rei de Portugal D. João V, opulento, faustoso, beato, tendo-se caracterizado seu reinado pela corrupção aqui e na Corte portuguesa.
 
As minas de ouro do Brasil forneciam a riqueza que alimentava essa ostentação que desmoralizava os costumes, outrora severos, que fizeram Portugal grande e respeitado.
 
A Capitania de Minas Gerais tinha então, aproximadamente, 100 mil habitantes, espalhados em grande parte pelas serras e rios, na faina de descobrirem ouro e diamantes. Os diamantes, na sua totalidade, pertenciam à Coroa, enquanto o ouro era explorado pelos faiscadores que eram obrigados a pagar, depois do ano de 1751, um quinto do que extraia das lavras. Como era difícil fiscalizar a parte reservada ao fisco real, depois de muita discussão entre os representantes do rei e as Câmaras das Vilas, ficou estabelecido que o povo da Capitania pagaria anualmente de imposto, pelo ouro extraído, 100 arrobas anuais (1.500 quilos). Era uma imposição exagerada a que, pacientemente, se submeteu o mineiro, ante o temor de passar por inconfidente, isto é, de não merecer mais a confiança do rei, ser preso, os bens arrecadados para o Erário real, e em dados casos ser até enforcado e esquartejado. Isso era da lei e toda gente pagava com enorme sacrifício, pois além das 100 arrobas de ouro, quatro outros tributos caíam sobre o infeliz povo.
 
Os governadores nomeados para a Capitania das Minas traziam sempre instruções para fazerem cada vez mais renderem os tributos, enquanto nenhum melhoramento se fazia em benefício dos habitantes. O famigerado governador José da Cunha Menezes levou o tempo todo do seu governo em construir uma cadeia pública, onde os presos sofriam por qualquer coisa que muitas vezes nem estava na lei, mas que feria o orgulho do insolente governador.
 
Os soldados em geral, pertenciam a milícias particulares, e estes, em compensação, recebiam pomposos título em recompensa, entrando, no entanto, com as despesas da manutenção dessas milícias, que estavam sempre dispostos a defender os bens e interesses da Coroa. Não faltavam os vaidosos que assim compravam os títulos de Coronel, Tenente-coronel e outros mais. Entre eles, Joaquim Silvério dos Reis, que era Coronel da Cavalaria dos Campos Gerais, muito vaidoso, senhor de 200 escravos e muitas fazendas, que morava na Borda do Campo (hoje Barbacena).
 
Tiradentes entrou como soldado num regimento que pagava soldo. Era o Regimento da Cavalaria Paga das Minas Gerais, que servia junto aos governadores. Em breve era Alferes e passou a comandar uma patrulha que vigiava o caminho que ligava Vila Rica ao Rio de Janeiro. Levantava mapas de municiamento da tropa: prendia os contrabandistas de ouro e diamantes; informava todas as ocorrências sob sua vigilância. Era brando, comedido e leal para com seus comandados. Exercia também a profissão de protético, surgindo desse fato a alcunha de Tiradentes. Os escravos nas senzalas, o povo em geral, acorriam para que o Alferes aliviasse suas dores, e ele o fazia de boa vontade. Era quando ouvia as queixas com referencias aos pesados tributos que seus conterrâneos tinha que pagar a um rei sempre faminto de ouro. Começou ele então a murmurar, irado, contra isso. Ao mesmo tempo via que dependia em grande parte da sua vigilância o enriquecimento da Coroa.
 
À falta de escolas superiores tinham os pais de mandar para além-mar os filhos estudarem. Ficavam desterrados, às vezes por anos, e isso era um fator velado, de revolta. Mas ao voltarem, tinham os filhos outra mentalidade, e sofriam ao verem sua pátria em tão lamentável estado, sobre pesados grilhões de uma exploração sem fim.
 
Outros estudantes, filhos da América Inglesa (depois Estados Unidos) não puderam suportar esse regime de opressão, se levantaram contra a poderosa Inglaterra e proclamaram sua independência.
 
Poucos anos depois, um estudante brasileiro se encontrava na França com um desses jovens libertadores. Thomas Jefferson e pediu que auxiliasse o Brasil na sua libertação. Thomas Jefferson prometeu algum auxílio, mas nada se pode concretizar porque esse estudante brasileiro, que se chamava José Joaquim da Máia, pouco tempo depois falecia em Lisboa.
 
Tiradentes, porém, que há muito bradava contra a opressão do seu povo, continuava a falar em todas as oportunidades que se ofereciam, dizendo sempre que ele queria mais do que libertar! Ele queria restaurar a sua terra, explorada, roubada, ignorante, sem nenhum conforto e progresso, porque os cruéis dominadores nada construíam nela e só queriam oprimir e levar suas riquezas.
 
Em breve passou ele da palavra para os fatos. Destemeroso, possuído de uma flama patriótica invencível, pouco se lhe dava saber que poderia ser preso e esquartejado, se continuasse na sua pregação.
 
Veio ao Rio e fez uns requerimentos para conseguir canalizar as águas do Andaraí e Maracanã para dentro da cidade, construindo então chafarizes para vender a água, ruim e difícil na época. Pedia ainda à Coroa Real licença para construir um embarcadouro para gado, no porto. O terceiro seria a construção de um trapiche, para guardar as mercadorias a serem embarcadas ou as que se desembarcassem dos navios.
 
Depois de esperar que os requerimentos fossem à Lisboa e voltassem teve oportunidade de se encontrar com um moço, já formado, que voltava de além-mar para o Brasil. Era ele José Alvares Maciel. Passou a conversar com o Alferes sobre a independência americana e o que isso significava para a liberdade.
 
Tiradentes inflamado
 
Em dado instante Alvares Maciel encarou-o e disse:
– Lá na Europa todo mundo estranha que o Brasil não faça o mesmo que a América Inglesa. O Brasil é muito mais rico e poderoso, mas os moços são diferentes dos de lá...
 
O Alferes não se conteve. “Ah! Se todos tivessem o meu ânimo”, disse com olhar brilhante de revolta. E ficou repetindo a frase muitas vezes. “Sinto em mim a vontade de botar esse Vice-Rei abaixo, e mandá-lo para a Corte com um recado... Não precisamos aqui deles!”
 
Alvares Maciel ficou impressionado com tamanha exaltação, e viu que ali estava uma chama viva de amor à sua terra.
 
Continua não no próximo post.
Fonte: Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6. Autor: Luís Wanderley Torres.

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