quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Grandes vultos: Santos Dumont: Parte - 04.


Gordon Bonnett

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

SANTOS DUMONT – Parte 04.

Passemos, agora, ao ponto principal, que é a demonstração insofismável de que os Wright não voaram antes do nosso ilustre patrício.

Eis o que ele escreve no livro O Que Eu Vi – O Que Nós Veremos.

Os partidários dos irmãos Wright pretendem que estes voaram na América do Norte de 1903 a 1908. Tais voos teriam tido lugar perto de Dayton, num campo ao longo de cujo limite passava um bonde. Não posso deixar de ficar profundamente espantado por este feito inexplicável, único, desconhecido: durante três anos e meio os Wright realizam inúmeros voos mecânicos e nenhum jornalista de tão perspicaz imprensa dos Estados Unidos se abalança a ir assisti-lo, controlá-lo, e aproveitar o assunto para a mais bela reportagem da época. E que época! Estávamos em plena carreira de Gordon Bennett, esse protótipo do jornalista americano, fundador da grande reportagem, que havia mandado um de seus homens, Stanley, procurar Livingstone no centro da África, então desconhecida e inexplorada. Tudo que era novo ele encorajava. Recordai a Taça Gordon Bennett para balões livres, e a de automóveis. Nas minhas oficinas se encontrava, quase dia e noite, um de seus repórteres.

Estamos – dizia-me ele – num período áureo da história do mundo. Interessam-me prodigiosamente os seus trabalhos.”

E estes quase cotidianamente eram relatados no jornal de Gordon Bennett. Como imaginar, então, que na mesma época os irmãos Wright descrevem círculos no ar durante horas sem que ninguém disso se ocupe?

Só em 1908 é que os Wright vieram à França e mostraram pela primeira vez a sua máquina. Haviam-na guardado em segredo, diziam eles, durante cinco anos, desde o seu primeiro voo de 17 de dezembro de 1903.

Entretanto – e eu peço notar bem isso – se os dois americanos exibiram sua máquina em 1908, é porque haviam recebido uma oferta de 500 mil francos de um empresário francês, que lhes pedia em troca demonstrações públicas com o aparelho e cessão dos direitos de patente do mesmo para a França. Ora, em 1904, na Exposição Universal de São Luís, isto é, na época em que os Wright diziam que a sua máquina voava havia um ano – e São Luís ficava a poucas centenas de milhas de Dayton – havia a ganhar um prêmio de 500 mil francos, do mesmo valor da oferta de 1908. E nessa ocasião, nenhum direito de patente a ceder! Mas esses 500 francos não interessavam aos dois irmãos. Preferiram esperar quatro anos e meio e viajar 10.000 quilômetros para vir disputar a oferta francesa, no momento em que eu próprio, os Farman, os Blériot e outros voávamos já!”

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GONDIN DA FONSECA

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Grandes vultos: Santos Dumont - Parte 03.

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

SANTOS DUMONT – Parte 03

Havia então, dois prêmios a disputar: um de 1.500 francos, oferecido por Ernest Archdeacon, para um voo de 25 metros. No dia 23 de outubro de 1906, Santos Dumont voou no campo de Bagatelle ganhando a Taça Archdeacon e a 12 de novembro desse mesmo ano obteve, lisamente, no mesmo local, o prêmio do Aero-Clube de França, voando 220 metros. Desse último voo existe um filme de que o Aero-Clube do Brasil possui cópia.

A seguir Santos Dumont construiu outros aeroplanos, o mais notável dos quais o “Demoiselle”, o primeiro avião de turismo do mundo.

O dinheiro foi-se-lhe minguando, Depois veio a grande guerra de 1914-18. Viajou muito e, afinal, já velho, fixou-se em Petrópolis. Uma vez lembrou-se de escrever ao Presidente da República que era Venceslau Brás, reprovando a construção do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Venceslau respondeu-lhe numa linha mais ou menos assim: “Recebi a sua carta, quando tiver necessidade de seus conselhos, avisarei”.

Nervoso, doente, abatido, vencido, Santos Dumont suicidou-se a 23 de julho de 1932, em Santos, no Hotel de la Plage, onde se encontrava com seu sobrinho Jorge Vilares.

Sumariando, esquematizando, a vida do nosso grande patrício é esta: Sua glória máxima – a de pioneiro da aviação – tem sido contestada. Dizem que, nos Estados Unidos, os irmãos Wright voaram antes dele. Isto é mentira. Demonstrei-o em meu livro “Santos Dumont” e vou expor, a seguir, as minhas razões. Julgue o leitor.

Santos Dumont deixou duas obras – Os meus balões e O Que EU Vi – O Que Nós Veremos, ambas interessantes, mas não essenciais para o conhecimento da sua trajetória na vida. A última traz, até, muitos erros contra ele.

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GONDIN DA FONSECA

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Grandes vultos: Santos Dumont - Parte 02.

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

SANTOS DUMONT – Parte 02.

Disse e repetiu-se que Santos Dumont inventara a dirigibilidade dos aeróstatos. Absurdo. A dirigibilidade é de outrem. Ele se dedicou primeiro aos balões, como esporte, e depois aos dirigíveis. Homem de gênio – e dos maiores homens de gênio do mundo – viu que o motor a explosão era o único certo para voar e aplicou-o, com espanto geral, num dos seus dirigíveis. Até então se utilizavam motores a vapor, pesadíssimos, ineficientes.

Desde a primavera de 1900, um tal Deutsch de la Meurthe, magnata francês de petróleo, estabelecera um prêmio de cem mil francos para a Comissão Científica do Aero-Clube de Paris conferir ao primeiro balão dirigível ou aeronave de qualquer natureza “que entre 1º de outubro de 1900, 1901, 1902, 1903 e 1904 se elevasse do Parque de Aerostação de Saint-Cloud e, sem tocar em terra, por seus próprios meios, após descrever uma circunferência tal que nada se encontrasse inclusive o eixo da Torre Eiffel, retornasse ao ponto de partida no tempo máximo de meia hora”. A esses 100.000 francos adicionaram-se, mais tarde, 25.000.

Depois de várias tentativas sem êxito, conseguiu Santos Dumont a 19 de outubro de 1901, realizar essa proeza. Muito rico, distribuiu o prêmio (enormíssimo para a época) pelos pobres de Paris. Um delírio. Ninguém no mundo alcançou, jamais, a sua popularidade após tão estrondoso feito.

Era a primeira viagem aérea científica, Havia um horário de partida, um horário de chegada e um percurso predeterminado. Santos Dumont efetuou-a e essa glória jamais lhe poderá ser contestada.

Ele numerava todas as suas aeronaves. Aquela com que contornou a Torre Eiffel chamava-se “Santos Dumont nº 6”

Mais tarde surge o problema do avião. Havia planadores; não, porém aviões. Santos Dumont fabricou um, baseando-se no “papagaio celular” de Lourenço Hargrave, e pendurou-o no seu dirigível nº 14 para aprender a manejá-lo. Depois soltou-o do dirigível e crismou-o de “14-bis”. Aplicara-lhe um motor Antoinette, de 24 cavalos, que alterou para outro – também Antoinette, mas por ele modificado – de 50 cavalos.

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GONDIN DA FONSECA

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