GRANDES
VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS
ATIVIDADES
JOAQUIM
JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES)
Tiradentes
diante da morte
O
Alferes foi preso no dia 10 de maio de 1789.
Em
Minas, foi decretada logo a severa ordem de prisão para todos os
inconfidentes. De início foi preso o desembargador Tomás Antônio
Gonzaga, o noivo de Marília, cujo casamento era aguardado como o que
iria ser o mais belo em Vila Rica. Cláudio Manoel da Costa foi posto
numa prisão na Casa dos Contos. Como previa o enforcamento, de
conformidade com a rigorosa lei de então, não resistiu e
suicidou-se, com grande sentimento para o povo. No Tejuco, depois de
muito trabalho, foi preso o padre Rolim, enquanto o comandante das
tropas, Francisco de Paula Freire de Andrade saía disfarçadamente
para sua fazenda Caldeirão, sendo, porém, detido para ser posto no
cárcere aos empurrões. Em S. João del Rei foi detido Alvarenga
Peixoto, e na Vila de S. José o padre Carlos Correia de Toledo e
Melo. Em breve as prisões se achavam cheias de sonhadores da
liberdade, pouco a pouco remetidos para o Rio. Iam com os punhos
acorrentados, a cavalo, enquanto os brutos soldados os humilhavam
durante os 8 dias de marcha para os cárceres sombrios.
Tiradentes,
que tinha sido o primeiro detido, foi jogado na prisão, apenas com a
roupa do corpo. Depois de alguns meses foi levado à presença dos
juízes, interrogado demoradamente, sem nada dizer que comprometesse
os companheiros. Os juízes lhe faziam perguntas sobre coisas que só
os inconfidentes sabiam; e ele ficava admirado deles saberem tanto
sobre os planos do levante. Era que Silvério soprava, dizia,
informava, através de bilhetinhos dirigidos ao Vice-rei, tudo o que
sabia.
Os
juízes desesperavam quando viam que o chefe, Tiradentes, nada
informava, e excluía da acusação os antigos companheiros. Até
que, já na 4ª audiência, mais de um ano depois que se encontrava
preso, mandou um dos juízes que entrasse na sala Silvério.
Tiradentes ainda sorriu para cumprimentá-lo, mas o infame delator
deu-lhe as costas e se pôs a falar para os juízes, acusando todos e
sobretudo o Alferes.
Tiradentes
viu então de onde tudo partia. E enquanto falava Silvério, ele via
com tristeza o sonho de independência desfeito; o Brasil continuava
explorado por mãos estranhas, o povo sofrendo a opressão da Coroa,
sem falar que aos poucos os companheiros se aproximavam da forca.
Quando
Silvério se retirou, os juízes quiseram que ele tudo confirmasse.
Tiradentes ergueu a cabeça e disse:
– Não
há cabeças nem capatazes. Só eu sou o culpado e foi eu quem
idealizou tudo!
Os que
se encontravam na sala emudeceram, ante tamanha coragem.
No
entanto, todos os companheiros ouvidos o acusaram de tal forma que só
nele caiu a maior culpa. Uns diziam que ele era louco; outros, que
era um falador sem nenhum propósito. Ninguém o defendeu.
Até que
afinal, no dia 18 de abril de 1789 foi lavrada a terrível sentença.
Na sala do Oratório da prisão, acorrentados, cerca de dez
inconfidentes ouviram a sentença de morte por enforcamento, com
esquartejamento a seguir. Lágrimas, blasfêmias, gritos, se seguiam
quando o desembargador incumbido de ler a sentença pronunciava o
nome do condenado. Já no Campo da Lampadosa se erguia a forca
descomunal, a maior que se levantou no Rio. O advogado dos
inconfidentes, José de Oliveira Fagundes, trabalhava sem cessar,
procurando, através de sucessivas petições, convencer os
julgadores de que deveriam perdoar, ou, no máximo, desterrar os
inconfidentes, e nunca matá-los. O desespero tomou conta de todos,
pois os juízes se mostraram inflexíveis. Quando já estava alta a
madrugada do dia 20 de abril, e as tropas se estiravam pelas ruas, no
rumo do Campo da Lampadosa, foi que um lampejo de esperança raiou.
Os passos do desembargador pareceram mais rápidos e ele trazia um
sorriso nos lábios. Entrou na sala e os condenados o cercaram,
cheios de temor mas já com alguma esperança. A Rainha mandava que
as penas fossem comutadas em degredo para a África!
Os
gritos, as lágrimas, as saudações se erguiam de todos os lados em
louvor à piedosíssima Rainha. Todos caíram de joelhos, erguendo os
olhos e os braços, com as faces lavadas de lágrimas de
reconhecimento pela mercê que acabavam de receber! Passados alguns
anos poderiam voltar ao lar. á Pátria; e aquela inconfidência
teria passado como um pesadelo. As correntes iam caindo dos punhos
dos condenados, à medida que eram perdoados.
Só um
condenado permaneceu de pé, com as correntes nos punhos: Tiradentes!
Todos se abraçavam, sorriam, choravam. Passado o alvoroço, nem
notaram que um companheiro sorria para eles, e os cumprimentava e
formulava votos para que vivessem muitos anos.
21 de abril
O 21 de
abril de 1792 foi um sábado. Muita tropa na rua e muita gente
procurando um lugar por onde passaria o condenado em busca da forca.
De todos os condenados, só o Alferes seria enforcado. Todo mundo se
compadeceu daquela situação e muita gente saiu do Rio.
Às 8
horas da manhã, entrou na sala do Oratório o algoz. Trazia enrolada
no braço a corda e tinha nas mãos uma longa camisola branca,
chamada “alva dos condenados”. O padre confessor, Penaforte,
aproximou-se de Tiradentes para ouvi-lo dizer: “padre, se eu
tivesse dez vidas, dez eu daria para que os companheiros não
sofressem nada”.
O negro
Capitania, tremulo, se aproximou, e pediu ao condenado que o
perdoasse. Tiradentes o encarou e disse: “Meu amigo! Deixa-me
beijar teus pés e tuas mãos! És um inocente!”
Quando
foi pedido que tirasse o paletó, ele tirou também a camisa dizendo:
“O meu Salvador morreu também assim, pelos meus pecados!”
Tambores
rufavam na rua, cavalos com crinas amarradas de fitas coloridas
agitavam-se ante as esporas de prata dos cavalos que bradavam vozes
de comando.
Às 9
horas, pouco mais ou menos, Tiradentes, vestido com o camisolão,
pisou o chão da rua, empunhando um crucifixo, tendo a corda passada
pela garganta, enquanto o Capitania segurava a ponta. Um meirinho
gritava a frente apontando-o e chamando-o de “infame réu” que
havia tentado libertar o país do poder da Rainha piedosíssima! “O
Alferes caminhava trôpego , pois fazia quase três anos que estava
encarcerado. Depois de andar sob um sol abrasador, mais de quilômetro
e meio, entrou no triângulo formado por soldados. Rápido subiu as
escadas do cadafalso. Um padre recitou um longo sermão, enquanto
ele, em voz baixa, pedia que o Capitania acabasse logo o “trabalho”.
A seguir o padre convidou o povo para rezar o credo,
ouvindo-se clara, sem tremor a voz firme do Alferes.
Súbito,
um rumor! Tiradentes foi jogado ao espaço enquanto o negro cavalgava
seus ombros para rapidamente enforcá-lo. Tambores, vozes enérgicas
de comando, brados, rumor enfim foram ouvidos, enchendo toda a praça.
A
seguir, para ser cumprida a sentença, constatada a morte do
condenado, foi erguido seu corpo ao estrado e, à vista do povo,
seguiu-se o esquartejamento. Postos os quartos em sacos de couro,
foram sendo semeados no caminho de Minas Gerais. A cabeça foi
pregada num poste em Vila Rica para que o tempo a consumisse. Todos
os bens foram confiscados e vendidos em benefício da Coroa, e
considerados infames seus filhos e netos “se os tivesse”.
Assim
foi desfeito esse belo sonho de liberdade, em virtude da traição de
um companheiro.
Silvério
teve perdoadas as dívidas. Recebeu da Coroa algumas honras; mas
jamais pode voltar a Minas Gerais. Morreu alguns anos após roído de
bichos.
Trinta
anos depois da morte de Tiradentes raiou a Liberdade do país, isto
é,a 7 de setembro de 1822 o príncipe D. Pedro proclamava a
independência.
Um poeta
disse de Tiradentes:
“Tombou!
Mas esplenderam num céu azul de glória,
– Escritas
com seu sangue – as páginas da História Da Terra da Liberdade por
quem ele morria!”
Fonte:
Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6,
escrito por Luís Wanderley Torres.
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3 comentários:
Estão interessantíssimos este dois capítulos sobre Tiradentes. Mais tarde, volto para lê-los melhor.
Beijo e bom dia*
essa personagem sempre me fascinou e tem feito correr rios de tinta, mas o importante é k ela faça escrever muito e muita gente.
beijos e bom fim de semana, Rosemildo.
Interessantíssima esta narrativa. Obrigado por partilhá-la. São homens como este que mudam o rumo da história.
Abraço
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