quarta-feira, 27 de julho de 2011

Literatura como atividade humana essencial.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA COMO ATIVIDADE HUMANA ESSENCIAL – PARTE I

Estabelecer o exato sentido de literatura é, aparentemente, problema dos mais simples, pois, é o literário presença constante em nossas vidas. No entanto, e talvez justamente por sua união à existência, o literário revela-se como realidade das mais complexas para concisa e satisfatória definição.

Conceituá-la como conjunto de obras literárias de um país ou de uma época, como atividade profissional de produzir obras literárias, ou, ainda como conhecimento de obras literárias e de regras que presidem sua elaboração pode ser uma maneira de abranger-lhe sentidos comuns, mas, certamente, é também a maneira mais cômoda de elidir o ponto central necessariamente pressuposto: como distinguir uma obra literária de uma obra não literária? Ou, em termos finais, qual é a natureza essencial do fenômeno literário?

Adotaríamos talvez a comum definição de literatura como conjunto das comunicações que os homens fazem entre si por meio da linguagem escrita? Diversidades de forma mostrariam a deficiência inicial e intransponível de tal definição: O imenso repertório de literatura oralmente transmitido, já muito antes que o século XVI adotasse a ingênua obediência à etimologia e reservasse o termo literatura para designar comunicações fixadas pela escrita, seria motivo dos mais ponderados para o abandono de tal deficiente definição e para cuidadosa consideração do emprego moderno que inclui como fenômeno literário as artes orais e audiovisuais como o teatro, a música, o cinema, o rádio etc. No entanto, mesmo desconhecendo tais argumentos de forma, também considerações de conteúdo, apontaríamos: a extensão descabida que incluiria os Lusíadas, as novelas sentimentais, “O Ser e o Nada” e “A Evolução das Espécies” como obras igualmente literárias. Intacto estaria o problema de diferenciar o literário, pois reconhecemos sem dificuldades que das obras citadas apenas o poema camoniano pertence à literatura, sendo os demais pertencentes à subliteratura, à filosofia e à ciência.

Não menos vazias e inúteis as definições tradicionais que desenvolvem a caracterização da obra literária por aspectos julgados essenciais, como “união de ordem, força e elegância da expressão verbal” ou “expressão do belo por meio da palavra”. Para localização do essencialmente literário dever-se-ia recorrer ao estudo aprofundado dos clássicos greco-latinos para podermos comparativamente aos padrões, classificar o grau literário de obras sob consideração. Negligenciar o estuda da literatura como fenômeno situado no tempo e no espaço e com natural dinâmica de desenvolvimento é estimular as falsas concepções que acompanham o academicismo e aceitar a irreal e pejorativa visão do literário como um belo teórico e absolutamente distanciado do ser humano em toda sua dramaticidade existencial. Recorrer aos mágicos conceitos “liberdade”, “desinteresse”, “arte pura”, “beleza absoluta”, “forma”, “gênio” e outros semelhantes consiste em, fútil e diletantemente, transformar as “belas letras” em “letras ociosas”. É o fenômeno literário em sua real essência e generalidade, atividade essencial ao ser humano e possui, inevitavelmente, a função social de esclarecer e transformar o homem e o mundo. A suprema importância da literatura pode, paradoxalmente, ser evidenciada pelas imensas dificuldades que encontra para realizar a comunicação artisticamente válida.

Visões diacrônicas do fenômeno literário apresentam com dificuldades intransponíveis as imensas perdas ou destruições do patrimônio literário por surpresas do desenvolvimento histórico da humanidade. Como exemplo do que ocorreu na China, no México, na África muçulmana, em Bizâncio e no Peru, podemos lembrar o episódio lamentável da destruição da literatura ptolomêica de Alexandria, em 641, por ordem do Califa Omar que assim procedeu apoiado no “sublime” motivo de defender os supremos valores do Islã... Consumado estava um dos maiores crimes contra a humanidade e o defensor de Alá, indiscutivelmente seria um dos marcos iniciais do vandalismo que, por temor da verdade e da liberdade humana, prosseguiria na prática de seus crimes sob a cínica justificativa de defesa de valores pretensamente ameaçados.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 09/10.

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