quarta-feira, 27 de julho de 2022

Grandes vultos: Santos Dumont -- Parte 22.



GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

SANTOS DUMONT – Parte 22.

Subo no alto do Pão de Açúcar e engulo este livro folha por folha, se dois aviões, um de 300 e outro de 600 quilos de peso, se ergueram alguns metros do chão em pista plana e em dia sem vento, acionados, respectivamente, por motores do primeiro ano do século, de 16 e 24 cavalos, queimando gasolinas de 1903 ou 1905, pouco superiores aos querosenes de hoje – e voarem, o primeiro durante três minutos e meio e o segundo durante meia hora, conforme os Wright afirmam ter voado. Disseram eles que, ao subir em 1903, o vento soprava com uma velocidade de 22 milhas (cerca de 35 quilômetros). Comenta espirituosamente Gago Coutinho que, com semelhante vendaval, não seria só o biplano dos patuscos “inventores” a voar. Voaria telhados de zinco, andaimes, guarda-chuvas abertos, chapéus, paletós, saias de mulheres e roupa na corda ou em coradouros. Iria tudo pelos ares.

Provem, hoje, os Estados Unidos, mas honestamente, a superioridade aviatória dos dois melros sobre Santos Dumont: num terreno plano e em dia calmo – sem trilho de lançamento, pilão ou catapulta – levantem do chão o primeiro aparelho deles, com o seu motor-1903 de 16 cavalos e 4 cilindros alimentado a gasolina da época, aplicando-lhes três rodas para facilidade de decolagem. Repitam depois a prova, nas mesmas condições, com o suposto aparelho de 1905, de peso maior (cerca de 600 quilos) e motor de 24 h.p. Eu assistirei. Se as experiências forem bem sucedidas, correrei logo para o alto do Pão de Açúcar e cumprirei o prometido. Engolirei este livro folha por folha confessando, em público e raso, que os Wright e não Santos Dumont iniciaram, no mundo, o voo mecânico.

Escrevendo em Paris no jornal Le Fígaro Littéraire a 03 de julho de 1956, o velho Gabriel Voisin, que assistiu aos voos de 10, 12, 20 e 30 metros de Wilbur Wright em agosto de 1908 no Hipódromo de Hunaudières (antes de ele modificar o seu aeroplano e voar em Auvours aproveitando-se das experiências de Santos Dumont, Ferber, Delagrange e do próprio Voisin) espanta-se por teimarem ainda hoje os Estados Unidos em “descobrir qualquer valor nessa máquina inutilizável dos Wright, pois nada do que eles inventaram subsistiu no que veio depois”.

Em 1903 os Wright planavam: não voavam. Experimentariam, quando muito, motores elétricos. Isto no máximo. Voar invisivelmente com o motor a petróleo, que ronca de modo extraordinário, e de mais a mais a baixa altura (pois o recorde vertical de 100 metros só foi obtido em 18-12-1908) é absurdo.

Demonstrei, exaustivamente, que em 1906 não houve jornal da Europa que atribuísse aos Wright a paternidade do voo a motor. E ao jornais dos Estados Unidos, mesmo os que procuravam torcer a verdade para servir esses cavalheiros, classificavam-no como simples “experimenters” – “experimentadores” – sem os sobrepor a quaisquer outros. Não creio que, depois do que deixo escrito, haja alguém de boa fé, ou mesmo de má fé, que duvide da prioridade de Santos Dumont.

GONDIN DA FONSECA


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Grandes vultos: Santos Dumont - Parte 21.



GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

SANTOS DUMONT – Parte 21.

Existe a carta que, em 1904, escreveram a L’Aérophile, de Paris, sobre os voos confidenciais de 17-12-1903. Apresentada, todavia, em 1944, por um dos seus hidrófobos partidários, s engenheiros de São Paulo, técnicos de aviação, F. A. Brotero e Romeu Corsini – ambos honestamente declararam que, por ela, ninguém afirmaria terem-se os dois parceiros erguido do chão um milímetro. “Pela descrição sumária e tecnicamente incorreta que fazem do aparelho – assevera Corsini – nada se poderia afirmar. De fato, nem porque se chame aeroplano a um aparelho qualquer será obrifado a voar. No caso em apreço, a escassez de dados -e quase absoluta, forçando a um único pronunciamento seguro: sem a admissão, por nós, de determinadas condições imprescindíveis, não podemos julgar da possibilidade de voar uma tal máquina.” E adiante: “nada escreveram sobre o assunto que possa pesar decididamente a seu favor”. Salienta Brotero: “os dados fornecidos são omissos e incompletos. Sobre a questão dos conhecimentos aeronáuticos dos autores dessa máquina, se me cingir exclusivamente ao que está na carta, é impossível fornecer qualquer resposta.

Pesava o “14-bis”, a princípio, cerca de 200 quilos; e depois, segundo leio em revistas europeias e americanas de 1906, mais ou menos 300, o que equivale a umas 600 libras. Precisou de um motor de 50 h.p. para se erguer do chão. Ora, o fabuloso, o mitológico biplano dos Wright – elucida a revista The Scientific American de 3 de novembro de 1906 – pesava o dobro. Dispunha, no início, quando o seu peso ascendia apenas a 335 quilos, de um motor de 16 cavalos e 4 cilindros (segundo confissão dos mesmos Wright) substituído depois por um de 24 cavalos. Transcrevo, exatamente traduzidas, as palavras da citada revista Ianque:

O jovem brasileiro, embora com um aparelho do mesmo tipo usado pelos experimentadores americanos, mas de metade do seu peso (of about one-half its weight), achou que um motor 50 cavalos era necessário para se erguer ao ar e a prosseguir a uma velocidade de 25 milhas horárias – enquanto os Wright, com um aparelho que pesava o dobro e tinha a metade da força (of twice the weight and half the power), alegam ter desenvolvido quase o dobro da velocidade (38 milhas por hora)”.

Continua

GONDIN DA FONSECA

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