GRANDES
VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS
ATIVIDADES
JOAQUIM
JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES) PARTE – II
Logo
estava Tiradentes de volta à Minas. A todos falava: pelo caminho,
pelas estalagens, em todas as oportunidades, sem temer coisa nenhuma.
Essa
exaltação logo cairia no ouvido do governador, agora Visconde de
Barbacena.
A ideia
de libertação, aliada à opressão terrível que sofria todo mundo,
terminou por aliciar alguns patriotas que comungavam também com as
ideias do Alferes. Em S. José morava o padre Carlos Correia de
Toledo e Melo (filho de Taubaté), que passou a frequentar Vila Rica
e lá conversar sobre essas ideias com o doutor Cláudio Manoel da
Costa, grande poeta, solteiro e muito influente. Em São João del
Rei, outro poeta, o Coronel Inácio José de Alvarenga Peixoto,
esposo da poetisa Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira que muito
influenciou o ânimo do marido para entrar na Inconfidência, aderiu
com entusiasmo. Luís Vás de Toledo Piza, Sargento Mor, irmão do
padre Carlos, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Domingos Vidal
Barbosa,José de Resende Costa, pai e filho, e muitos outros,passaram
a se reunir em casa do comandante da tropa Francisco de Paula Freire
de Andrade, que residia em Vila Rica.
Tiradentes
também convidou seu amigo Joaquim Silvério dos Reis, que devia
muito à Coroa, de impostos atrasados, e não pretendia pagar. Sendo
ele muito interesseiro, viu que o movimento daria certo, se todos
ficassem empenhados em fazê-lo. Liberto o país, ele,
Silvério,estaria livre de dívidas, em troca do serviço prestado à
nova república que iria criar. Ficou contente com o plano dos
inconfidentes e ofereceu seus 200 escravos para a luta pela
libertação.
Domingos
de Abreu Vieira, compadre de Tiradentes, ofereceu muitos barris de
pólvora e o padre José da Silva de Oliveira Rolim levantaria o povo
no Tejuco (hoje Diamantina).
Em breve
eram muitos os patriotas, que se reuniam secretamente na casa do
comandante das tropas de Minas, o tenente-coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade, que era cunhado de Alvares Maciel.
Os
planos iniciais foram lançados, sendo o ato principal para o
levante, a prisão de Visconde de Barbacena na fazenda Cachoeira,
cerca de três léguas de Vila Rica. O Desembargador Tomás Antônio
Gonzaga, grande poeta, que estava para casar com sua Marília (Maria
Dorotéia) estava incumbido de redigir, em companhia de Cláudio, as
leis da nação que seria fundada. Todos preferiam fosse uma
República, em vez de Monarquia. Não haveria escravidão. As
mulheres seriam amparadas pelo estado quando tivessem muitos filhos.
A Capital da nova República seria transferida para S. João del-Rei
e em Vila Rica se fundaria uma Universidade, para que a mocidade
universitária não precisasse sair do seu país para instruir-se. As
armas da República ostentariam um gênio quebrando uma correntes e
gritando: “Libertas quae sera tamen” (Liberdade ainda que tardia)
ideia de Alvarenga Peixoto, e a bandeira teria um triângulo, símbolo
da Santíssima Trindade, ideia de Tiradentes. A moeda seria a oitava,
em ouro, com o valor de 1$500 por oitava. Fábricas de todos os
produtos que a terra produzisse seriam fundadas para que o povo não
importasse coisas que a própria terra tinha. Além do mais, os
braços, nas cidades, seriam ocupados, com grande proveito para o
progresso futuro.
Aprovados
esses planos, Francisco de Paula deu a senha: “tal dia é o
batizado”. Os inconfidentes deviam se prevenir com armas e gente,
para quando o governador mandasse lançar a derrama, isto é, a
cobrança dos atrasados que o povo devia à Coroa. De há muito que
as minas se encontravam decadentes, não se conseguindo mais pagar as
100 arrobas anuais. Mas o fisco real não dispensava, e queria as 100
arrobas, atribuindo à negligência na cobrança, ou ao contrabando a
não arrecadação daquele montante. A dívida já estava em 596
arrobas (quase 9 mil quilos de ouro) que cerca de 400 mil pessoas
deveriam pagar com os bens, vendendo o que pudessem dispor, mesmo que
todo mundo ficasse reduzido à miséria.
O
desembargador Gonzaga ainda explicou ao Intendente da Coroa, que
aquela cobrança era desumana, e que se deveria apelar para a Rainha,
D. Maria I, clamando por uma anistia.
Tudo
debalde. Só restava o caminho da Revolução libertária.
Tiradentes
viu seus planos em marcha e aguardou a senha do seu comandante.
Caso
falhasse a Revolução, seriam todos presos, julgados, enforcados e
aqueles que conseguissem a piedade real, seriam pelo menos
desterrados para sempre às costas da África. Quem soubesse, por
outro lado, de qualquer plano de independência, tinha o prazo de 30
dias para delatar, sob pena de ser considerado também inconfidente.
Estavam
as coisas muito bem encaminhadas, quando Tiradentes outra vez seguiu
para o Rio. Pelo caminho ia falando “que em breve teriam em Minas
novos governadores!” Encontrando uns tropeiros na serra da
Mantiqueira, com os burros carregados de sal, bateu ele na anca dos
animais e gritou para os condutores: “Vão subindo! Vão subindo,
que de muito sal iremos precisar nessas Minas!” Todo mundo se
escandalizava com tamanha temeridade, pois estava ele publicamente
pregando a independência.
Chegando
ao Rio, viu que seus requerimentos ainda não haviam sido
despachados, e ficou mais de um ano esperando. Enquanto isso,
trabalhava na sua profissão e curava com medicina caseira os doentes
que lhe procuravam. Assim é que pôs boa a filha da viúva Inácia
Gertrudes de Almeida, de uma feia ferida num pé.
Enquanto
impaciente, esperava, já muito saudoso da sua Vila Rica, em Minas, o
seu amigo Joaquim Silvério dos Reis denunciava em muito segredo, ao
Visconde, os planos dos Inconfidentes. Estava ele aterrorizado, pois
Tiradentes falava muito e sem temor.
O
primeiro ato do Governador foi suspender a derrama!
Isso
significava o fracasso do movimento, pois iria deflagrar logo depois
da derrama. Os inconfidentes ficaram petrificados! “Alguém
denunciou o levante!” Pensaram.
Barbacena
imediatamente comunicou-se com o Vice-Rei, no Rio por um portador
enviado em segredo. A seguir exigiu que Joaquim Silvério fosse para
o Rio e não perdesse de vista seu amigo Tiradentes, para se saber
quais os inconfidentes que haviam ali. Silvério desceu lentamente, a
cavalo, a estrada, talvez pensando no seu infame papel de delator dos
seus companheiros, que certamente iriam morrer na forca, graças à
sua denúncia. O país iria continuar escravo, os brasileiros
oprimidos, os amigos presos, as famílias órfãs, e só ele, Joaquim
Silvério dos Reis, iria ganhar com isso, pois teria as dívidas
perdoadas e uma pensão vitalícia pelo serviço prestado, de 400$$
anuais. Não se lembrava que a História o iria apontar para sempre,
como o mais covarde, o mais abjeto dos traidores.
Quando
ele desceu do cavalo, o primeiro abraço que recebeu foi dado por
Tiradentes, que, cheio de saudades e abrasado de entusiasmo,
perguntava como ia Vila Rica e os amigos! A seguir, muito em surdina:
“como vai o movimento nas Gerais?”
Silvério
foi morar frente a habitação do Alferes, “para melhor observar
seus passos” como informou em carta ao Vice-Rei.
Com
muito disfarce foi visitar o poderoso Luís de Vasconcelos e Sousa (o
vice-rei), que de tudo já sabia, graças ao portador enviado pelo
Governador de Minas. Mas, mostrou-se surpreso, para dissimular.
Despachou dois soldados disfarçados, com bigodes raspados, à
paisana e encapotados, para que vigiassem à toda hora Tiradentes. Em
todas as esquinas, por todo canto, estavam eles, tanto que o povo
começou a temer, pois o Alferes tinha um ardentíssimo gênio e os
partiria a espada. Outros, porém, serviçais do Vice-Rei,
murmuravam: “Fujam de Tiradentes!” Toda gente se afastava e se
escandalizava. Até que um amigo, o Tenente-coronel Sardinha,
aconselhou Tiradentes a que fosse ao Vice-Rei reclamar contra a
vigilância sem propósito. Mas, diante do Alferes, Luís de
Vasconcelos disse que aquilo não era nada e ficasse sossegado.
Joaquim
José resolveu então esconder-se. E numa noite, quando aquelas
sombras perseguidoras o seguiam, ele enganou-as escondendo-se em
qualquer ponto escuro, vendo-as passar rápidas e desorientadas,
perdendo-se no escuro da noite. Tiradentes então seguiu por outras
ruas daquele Rio de Janeiro escuro, até a casa da viúva Gertrudes
de Almeida (aquela, cuja filha ele curara). A viúva o encaminhou à
rua dos Latoeiros, onde tinha um compadre, Domingos Fernandes Cruz,
natural da Vila de Mogi das Cruzes (S. Paulo), que o acolheu na
madrugada de 6 de maio de 1789.
Dois
dias depois, a viúva mandou ao esconderijo de Tiradentes seu
sobrinho padre Inácio Nogueira de Lima, saber do que precisava. O
Alferes pediu ao padre que procurasse Joaquim Silvério e indagasse
dele se a inconfidência já tinha deflagrado em Minas, pois ele
queria ir por dentro dos matos até lá.
Padre
Inácio procurou Silvério, que estava desassossegado, pois o
Vice-Rei queria dele que desse conta de Tiradentes sob pena de
enforcá-lo. Foi um achado para Silvério aquilo. Padre Inácio deu o
recado e Silvério quase não pode conter o contentamento. Pediu o
endereço do esconderijo, mas o padre desconfiou e não deu. Silvério
reclamou dizendo que era tanto amigo de Tiradentes quanto o padre.
Nada conseguiu, no entanto. Como o padre estava acompanhado de outro,
Silvério agradeceu o comunicado, mas conservou junto de si esse
companheiro do padre Inácio e aproveitou perguntar onde padre Inácio
residia. Depois, dirigiu-se rápido ao palácio e em breve estava o
padre Nogueira preso e levado ao Vice-Rei. Ouviam-se na rua os gritos
de Luís de Vasconcelos, enquanto o padre nada informava. Depois de
muita ameaça (até de fogueira) padre Inácio tudo informou. Um
sargento e alguns soldados foram despachados e a casa da rua dos
Latoeiros foi cercada. O sargento e os soldados subiram na
água-furtada do prédio e lá encontraram Tiradentes empunhando um
bacamarte, disposto a abater o primeiro que tentasse prendê-lo. Ao
ver tratar-se de companheiro de farda, que apenas obedeciam ordens,
rendeu-se. Foi levado à presença do Vice-Rei, que logo o
reconheceu, sendo a seguir mandado para as masmorras da fortaleza da
Ilha das Cobras onde ficou incomunicável. Na mesma fortaleza, mas em
cárcere diferente, foi também preso Joaquim Silvério.
O sonho
de Independência da Pátria estava desfeito.
Continua não no próximo post.
Fonte:
Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6,
escrito por Luís Wanderley Torres
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3 comentários:
Obrigado amigo por esta partilha que me deu a conhecer mais um pouco da vossa história em época comum à nossa.
Um abraço
Nossa história é rica. Existem controvérsias. Uns historiadores admitem a história que vc contou tão bem. Outros denigrem o nome de Tiradentes. Mas um dia quem sabe a história absoluta apareça.
Talvez isso nunca aconteça e o mundo das suposições continuem.
Mas seu trabalho foi muito bem feito.
Obrigado por compartilhar.
estive cá e li seu post, Rosemildo.
mto interessante, mas a História não é uma ciência exata e quem a faz são pessoas, portanto com ideais diferentes.
beijos.
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