quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Literatura ocidental - Parte 03.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 03

A IDADE DA POESIA LÍRICA

As condições sociopolítico-econômicas que se constituem a partir do século VIII e chegam até o século V a.C. proporcionam maior estabilidade a sociedade grega e desenvolvem a noção dos direitos das comunidades e dos indivíduos. O centro de interesse fundamental não mais é organizado em sínteses mitológicas, mas, concentrado no próprio homem, o que fornece propício terreno para pleno desenvolvimento do lirismo.

Existem dois grandes tipos de poesia lírica: o canto coral e a monódia. Procedendo do canto popular, apresentava a monódia texto e música mais simples que o canto coral e era caracterizada pelo melancólico. Pode ser considerada como ancestral da moderna ópera.

Novo lirismo de profunda expressão pessoal e autenticamente literário nasce com Arquiloque de Paros (século VII) que, numa linguagem simples quase coloquial, fala em termos subjetivos do amor por uma jovem que não desposou e da guerra que mutila sua existência.

As duas mais importantes personalidades do lirismo grego foram Safo, autora de numerosas canções, epitalâmios, hinos e elegias; e Píndaro, criador da Ode e estilista brilhante, imaginoso e de rara vivacidade.



A TRAGÉDIA E A COMÉDIA

São imensamente importantes os nomes de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, pois determinaram a evolução do teatro e fornecem a constante fonte de mitos e arquétipos que recorrerão em toda a literatura ocidental posterior. Devem ser acrescentados, embora em plano não tão elevado, os nomes de Aristófanes e Meandro. Ésquilo (525-456) baseia suas peças em motivos épicos da Grécia e concebe o drama como fator de unidade nacional. Restam de suas 70 tragédias e 20 dramas as seguintes peças: Agamenon, As Suplicantes, Os Sete contra Tebas, Prometeu Acorrentado, Os Persas, Coéforas. Sua tragédia, lírica por excelência, é caracterizada pela violência de sentimentos e pela presença toda poderosa do Destino. É suprema a importância dos coros.

Sófocles (496-405), autor de Antígona, Ajax, Édipo em Colona, Édipo Rei, Filoctetes e Traquinianas – ultrapassa a realidade humana pela predominância do ideal e apresenta ação mais complexa e desenvolvida de Ésquilo.

Eurípedes (480-406) apresenta a máxima fidelidade possível ao real em suas peças, das quais destacamos: Hipólito, Ifigênia em Táurida, Ifigênia em Áulida, Medéia e, como obra-prima, Baco. Seu tema principal é o amor.

Na comédia, destacam-se Aristófanes (445-338), excelente na sátira político-social, e Menandro, que se dedica à crítica ao homem em geral. São obras de Aristófanes: As Rãs, As Nuvens e Os Pássaros; de Menandro restam-nos apenas fragmentos de obras da Comédia Nova, como A Arbitragem.


Prosadores

Obras em prosa – tais como, narrativas históricas, discursos, romances e diálogos – não empregavam a língua literária e sim a língua comum de propósitos utilitários, motivo pelo qual não eram consideradas pertencentes à expressão propriamente artística.

Desde o século VI a.C. surgem historiadores que, por não diferenciarem dos fatos que observavam em suas cidades o natural do maravilhoso, devem, preferencialmente, ser classificados como logógrafos. Dois nomes conservados são os de Cadmos e Acusilaos. O primeiro escreveu “Fundação de Mileto”, “Acusilaos”, “Genealogias”. A primeira tentativa de separar o histórico do lendário foi empreendida por Hecateu de Mileto em seu livro “Genealogias” O mesmo prosador tem também o mérito de ser um dos fundadores da Geografia com seu livro “Volta ao Mundo”. Esta tradição de primeiros historiadores é encerrada com o aparecimento do primeiro historiador no sentido moderno de uma ciência que abrange não apenas o povo, mas, pretende uma visão quase universal e que procura a objetividade da pura pesquisa. Sua grande obra é “Investigações”. Em seus esforços para apresentar países e seus habitantes, Heródoto viaja a vários países e seus relatos inauguram o moderno jornalismo. Sua obra é escrita em dialeto jônio com imensa simplicidade de estilo e clareza.

Novo progresso aos estudos históricos, no sentido em que os concebem o classicismo latino e o humanismo ocidental, surge com Tucidides (460-395). É excelente na crítica de fatos, na interpretação de documentos e na análise do caráter dos povos. Escreveu “Guerra do Peloponeso”. Se Heródoto apresentou aspectos de jornalismo de viagens e descrições de costumes, Tucídides conseguiu artisticamente compor reportagens de guerra. Simplicidade, clareza, vivacidade e precisão de estilo caracterizam a obra do historiador seguinte: Xenofonte (430-355). Em “Memorabilia” apresenta Sócrates em descrições plenas de humanidade e em “Anábase”, o vivo relato da retirada dos dez mil gregos com a autoridade de quem a comandou como general. É necessário citar ainda o historiador Plutarco(50-125) cujos temas não são exclusivamente gregos pois em “Vidas Paralelas” compara sempre um herói grego a um romano. O mérito de Plutarco alcança níveis culturais que o destacam em nossa época tanto em suas narrações de real talento como na compreensão do caráter humano.

Literatos podem ser considerados também os filósofos Platão (429-347), Aristóteles (384-322), Zenão (336-264), Epicuro (324-270), Epiteto (40-121) e o imperador romano de expressão literária grega Marco Aurélio (122-180).

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 27/30. 

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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 02.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 02

A ANTIGUIDADE CLÁSSICA

O tronco comum de que derivam nossas culturas ocidentais encontra-se na Antiguidade Clássica greco-romana. Embora durante alguns séculos tenha existido a concepção romântico simplista de um milagre grego que marcasse o início da magnífica e quase insuplantável riqueza literária helênica no século VI a.C., as modernas disciplinas auxiliares da história revelam que este florescimento artístico foi o resultado de longa evolução da tradição principalmente oral dos séculos anteriores. A civilização cretense, que floresceu entre 3000 e 1400 a.C., era já portadora de literatura em língua não indo-europeia. Do amálgama posteriormente ocorrido entre cretenses e povos indo-europeus invasores e outros autóctones resultará o povo grego a cujos dialetos será superposta uma língua escrita e com expressão literária. Este fato ocorre nas proximidades de 1400 a.C. quando devido a frequentes contatos sociais é elaborado um fundo de cultura comum, incluindo uma concepção do mundo e do homem e das relações seja entre os homens, seja entre o homem e o mundo, ou ainda, entre o homem e os deuses. E 1200 a.C. surgem os gigantescos e prestigiosos monumentos literários que marcam o começo histórico da literatura ocidental: a Ilíada e a Odisseia atribuídas a Homero.


HOMERO

A existência de Homero, incontestada até o século XIX, foi pela primeira vez colocada em dúvida graças aos trabalhos do filólogo alemão Wolf. No século atual é recolocada por Victor Bérard. Embora a questão homérica não possa ser definitivamente resolvida, alguns fatos são incontestáveis: os textos não são contemporâneos às façanhas descritas; a Ilíada foi composta no final do século IX a.C. e a Odisseia, no início do VIII; finalmente, o estado de civilização apresentado data de épocas bem mais recuadas do que tradicionalmente se julgava. Análises linguísticas e literárias colocam dúvidas quanto a um único autor para as duas obras.

Ciclos de mitos, que serviram de repositório para os valores culturais do período compreendido entre os séculos XIV e IX a.C., comporiam toda uma literatura épica a partir de cujos episódios teriam sido compostas as duas obras referentes à Guerra de Troia. A Ilíada é a narrativa das catástrofes provocadas pelos deuses contra os homens e que acende a cólera de Aquiles, que se retira dos combates após altercação com o chefe da armada grega, Agamenom. Esta obra fornece-nos ampla visão da civilização pré-helênica. A Odisseia narra o retorno de Ulisses e as aventuras que encontra por intervenções prejudiciais dos deuses. Aspectos ainda importantes na Odisseia são a extrema fidelidade de sua esposa Penélope, o zelo de seu filho Telêmaco e a emoção de seu pai, Laerte.

A técnica empregada é altamente artística e a língua, a métrica e a própria composição elaborada indicam estágio cultural muitíssimo desenvolvido.

As duas epopeias homéricas encerram a síntese clássica dos valores religiosos, morais, intelectuais, que informam a civilização grega clássica e para a atualidade, uma das mais importantes fontes de sua sensibilidade e consciência moral e histórica.

Outra importante obra, inicialmente também atribuída a Homero, a Batracomiomaquia (Guerra das rãs e dos ratos) imita com grande perfeição as formas gerais da epopeia heroica, mas, com intenção eminentemente burlesca. Epopeia inferior e com caráter de imitação é “Os Argonautas”, composto pelo poeta Apolônios no século III antes de nossa era. Apresenta como tema a procura do velocino de ouro pelos príncipes chefiados por Jasão.


HESÍODO

Hesíodo (século VIII a.C.) é o seguinte autor que surge. Dominando habilmente a língua literária, compõe os poemas “Teogonia” e “os Trabalhos e os Dias”, ambos com dupla intenção didática: transmitir conhecimento sobre a técnica agrícola e apresentar um conjunto de normas morais retiradas da vida campestre. Observa-se nos poemas de Hesíodo o início de uma estruturação jurídica substituindo gradualmente o poder da força e da astúcia.

Costuma-se atribuir também a Hesíodo a obra “O Escudo de Aquiles” que estabelece uma primeira genealogia aos deuses do Olimpo grego.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 25/27.

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 01.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 01

ORIGENS

O conjunto cultural Ocidental resulta do grande amálgama ocorrido aproximadamente no século VII com a inclusão de elementos germânicos e eslavos dentro da civilização greco-latina já cristianizada. Apresenta uma igualdade de concepção de vida, com parentescos linguísticos áricos e um complexo de mitos e de ideias-forças. A ideia central do domínio cultural do ocidente é o aprofundamento pelo cristianismo da noção greco-romana do homem livre e do cidadão. Valores religiosos que a enriqueceram são: a ideia de um único DEUS Universal, o messianismo e a atribuição de um sentido ao desenvolvimento histórico com a inserção do devenir humano ao devenir cosmológico.

A extraordinária expansão do Ocidente supera os demais conjuntos culturais e realiza, com certo sucesso, a transmissão ou imposição de sua cultura e de suas formas de expressão. Os heróis típicos desta civilização em incessante movimento de expansão orientam-se em direção ao devenir humano, no sentido da imposição do humano sobre todas as coisas do mundo e do cosmo. Prometeu, Hércules, Ulisses, Aquiles, Fausto, Hamlet, Rolando, Don Quixote são, essencialmente, homens de ação que desejam esclarecer os mistérios, ainda que sob risco de vida; que querem substituir o destino cego e implacável pela humanização do mundo: que lutam para substituir as forças cegas pelo conhecimento de sua realidade e posterior aplicação benéfica.


A BÍBLIA

Uma das fontes desta cultura é a Bíblia, obra que fundamenta o cristianismo e informa todo o pensamento do Ocidente, direta ou indiretamente. Esta famosa e permanente influência central dentro do complexo cultural do Ocidente marca a elevação de línguas modernas à dignidade literária: fornece temas a sua literatura e engloba todos os valores nascidos no Oriente clássico e integrados pelos pensadores judeus.

A Bíblia cristã compreende duas partes: o Antigo e o Novo Testamento , especificamente cristão. O Antigo Testamento está escrito em hebreu, o Novo em grego.

Até o século X a.C. Apenas tradições orais existem. No século X a.C. São consignadas por escrito as Crônicas Reais e no século seguinte, as Leis e Tradições. No século VIII a.C. surgem os livros de Amós, Oséias, Miquéias e o primeiro Isaías; no século seguinte, o Deuteronômio, Jeremias; no outro século, Juízes, Samuel, Reis, Ezequiel, o segundo Isaías e Zacarias; mais um século – o V a.C. – e aparecem graficamente Leis, Pentateuco e Malaquias e, no século seguinte, inspirado numa tradição de origem árabe, é redigido o Livro de Jó. Crônicas e Eclesiastes datam do século III a.C.; os Salmos e Daniel, no século seguinte; e, finalmente, no século I, aparece o Livro da Sabedoria. As datas têm valor aproximativo, alguns livros foram compostos em partes com diferente localização cronológica.

Divulgados inicialmente a todos lugares de prece na Palestina são recolhidos no século III a.C. por doutos judeus que procedem com os critérios científicos possíveis. Obedecendo a ordens de Ptolomeu Filadelfo, reuniram grande número de manuscritos, estabeleceram um texto definitivo e o traduziram para o grego. Esta versão conhecida como alexandrina ou, pitorescamente, como Versão dos 70 (quando na realidade eram 72 os sábios do empreendimento religioso-cultural...) compreende os textos que hoje conhecemos como os Deuterocanônicos e que os doutos da Palestina recusaram como apócrifos, julgamento que, modernamente, foi referendados pelos Reformadores. A Igreja considera os Deuterocanônicos como textos inspirados.

O Novo Testamento compreende os evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, bem como os Atos dos Apóstolos, as Epístolas e o Apocalipse. Acredita-se que estes textos datem do século primeiro da nossa era.

No século I foi constituída uma tradução latina da Versão Alexandrina e acrescentados textos posteriormente compostos. São jerônimo fez a revisão no século IV, adotando o procedimento comparativo com textos hebreus e caldeus. Com exceção dos Salmos, que são os da primeira Vulgata, o restante da Bíblia admitida pela Igreja provém da Vulgata de São Jerônimo.

A primeira tradução da Bíblia em língua moderna foi a de John Wycliff em inglês (1320-1395). Seguiram-na as versões alemã, por Martinho Lutero e a francesa por Jacques Lefebvre d'Etaples. A mais famosa versão em língua inglesa foi realizada em 1611 pelo rei Jaime.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, volume 7, páginas 23/25.  

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA MUÇULMANA

Se os domínios culturais até aqui apresentados definem-se quanto ao isolamento cultural por condições naturais, inerentes a definidas condições geográficas, o Islã encontrou barreiras sociais advindas de seu complexo moral religioso.

Sua literatura nasce, praticamente, com o Alcorão, síntese em prosa rimada da ciência, direito, sabedoria, história e teologia muçulmanos. Esta obra religiosa, que compreende 114 capítulos ou surates, transcreve, através do profeta Maomé, a palavra eterna de Alá. Por ocasião da morte de Maomé apenas alguns fragmentos estavam configurados por escrito e o primeiro sucessor, Abu-Bakr, temendo perdas ou deformações, realizou sua transcrição da tradição oral e sua composição por ordem decrescente de surates. Sua influência é exercida como fonte de inspiração oculta dos povos convertidos ao Islã, pois, a influência diretamente determinável seria sacrílego porque o Alcorão é “inimitável”.

POESIA ÁRABE

O florescimento máximo da poesia árabe coincide com a expansão e domínio muçulmano (do século VIII ao XIII) e sua decadência com a invasão de Bagdá pelos otomanos em 1258. Esta poesia é eminentemente uma poesia de rudes e nostálgicos condutores de camelos pelos desertos, sendo temas constantes as doçuras da vida, simbolizadas pela água e pelos verdejantes oásis, o amor e a morte solitária.

Poetas e prosadores muçulmanos são, em sua maioria, inacessíveis ao mundo não-árabe. No entanto, duas obras alcançaram o mundo ocidental: o Romance de Antar e As Mil e Uma Noites.

O Romance de Antar foi, provavelmente, compilado pelo filósofo Açma'i (740-828). Este primeiro texto tinha certa organização lógica, mas, a atual forma de novela de cavalaria foi-se constituindo através de acréscimos e revisões posteriores. Trata-se de um ciclo de lendas ao redor da vida de um poeta, Antar, pré islamita.

As Mil e Uma Noites são uma súmula mais importante de temas encadeados em torno de Chahrazâd, heroína cuja história remonta a uma origem hindu. Três contribuições podem ser distinguidas: um primeiro texto iraniano (século IX), outro composto em Bagdá (século X), e um final no Cairo (século XII).

Uma revisão e redação definitiva datam do século XIV e sua vulgarização no Ocidente data do século XVIII por intermédio da versão reduzida por Antoine Galland.

Modernamente, devem ser citados Nasif Al-Yasidji (1800-1871), Ahmed Chawqui Bey (1868-1932) e Aboulquasin Al-Chabbi (1909-1934). Não há no mundo muçulmano um pensamento cultural que não esteja interiormente circunscrito e incapaz de atingir nível internacional e a influência ocidental é exercida diretamente até na adoção de línguas estrangeiras para expressão literária.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 21/22.

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