Disputa da taça Archdeacon |
GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
SANTOS DUMONT – Parte 12.
Mais tarde, em setembro de 1908, apresentam os Wright meia dúzia de fotos à Century Magazine, contam uma história de carochinha qualquer, afirmam que uma chapa é de 1903, outra de 1904, outra de 1905 etc., e todo o mundo logo concorda que os homens são os tais. Atribuem-lhes, imediatamente, a paternidade da aviação. Os sábios dos Estados Unidos acham irrefutáveis as provas exibidas. E pronto.
Quase todos os velhos amigos franceses de Santos Dumont o abandonaram em 1908 e – ou de boa fé, ou comprados pela propaganda ianque – terminaram por admitir a prioridade dos Wright sobre ele. Não lhes queiramos mal por isso. Santos Dumont era, pessoalmente, brusco, fechado e, por vezes, insuportável. Depois, não nascera na França, mas no Brasil. Cumpria aos brasileiros defender a sua glória. Não aos franceses. Nós é que oficialmente o desprezamos, quase o repelimos. O povo festejava-o. O governo, porém, nunca ligou importância aos seus triunfos. Jamais um representante do Itamarati esteve presente á suas experiências, prestigiando-o, animando-o, apoiando-o em caráter oficial
Apesar, porém, de muitos franceses concordarem depois de 1908 com a prioridade dos Wright (embora de Paris, em 1903 e 1904, não lhes fosse possível vê-los subir em Dayton, Ohio) – sempre todos proclamaram que o primeiro homem a erguer-se no ar, em público, no mundo, foi Santos Dumont. Em 1927, após o voo de Lindbergh, Luís Blériot – o herói que em 1909 atravessara em avião o Canal da Mancha – escreveu um livro de parceria com Edouard Ramond intitulado La Glorie des Ailes. E diz isto:
“A 23 de outubro de 1906, diante da Comissão de Aviação, às 4 e 4” da tarde o aeroplano (“14-bis”) desgarra e, muito suavemente, perde contato com o solo… A multidão fica muda de espanto. Depois um frenesi a domina e ela precipita-se para o aparelho que, a uns setenta metros de distância, pousa novamente em terra… Carregam Santos Dumont em triunfo. Mas quando interrogam os comissários sobre a distância percorrida – o que era necessário saber para a conquista da taça Archdeacon (mínimo exigido, 25 metros) os comissários sentem-se embaraçados. Sob o império da emoção esqueceram-se totalmente de controlar… Não importa: a taça Archdeacon é concedida ao feliz voador. Um mês depois o recorde é levado a duzentos metros.
Continua
GONDIN DA FONSECA
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