quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Grandes vultos: Clóvis Beviláqua - Parte 18.

José Carlos de Macedo Soares

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
CLÓVIS BEVILÁQUA – PARTE – 18
Deviam magoar-lhe o coração as críticas, como a do nosso ilustre José Augusto César, que apontavam o projeto como uma peça jurídica destinada só a proteger os ricos, sem indicar “nenhuma solução para questões que tanto interessam aos trabalhadores, nenhuma forma plástica adaptável a matéria social...” (J.A. César, Ensaio sobre os atos jurídicos, 1013).
A verdade é que Clóvis sempre teve especial atenção para com os problemas sociais. Se mais não fez em seu projeto, foi porque não lhe era dado, na melindrosa missão de codificador, promover de um jacto, revolucionariamente, todas as reivindicações que ele próprio já indicava em seus livros. Avançado em anos e enriquecido de grande experiência, continuava a pregar os mesmos ideais, como se pode verificar na conferência que fez no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a convite de seu grande amigo, o Embaixador José Carlos de Macedo Soares. Nessa ocasião, Clóvis sustentou, com a sinceridade habitual, que “a Rerum Novarum exprime a justa compreensão do estado social do tempo e apresenta providências adequadas a adaptar a organização da sociedade ao equilíbrio dos interesses colidentes, à concórdia, à paz ativa entre as classes sociais, seguro alicerce, onde se apoia a prosperidade dos povos”.
Clóvis foi um sábio. Reconhecem os brasileiros e proclamam os estrangeiros: Lamberty, Meyer, Roul de La Grasserie, Zeballos, Posada, Martinez Paz, Colmo, Salvat…
Em poucas palavras, diremos aos moços, porque Clóvis foi também um santo.
Pelo saber, pela autoridade, pelo círculo de amizades, podia Clóvis tornar-se um dos homens mais ricos do país. No entanto, foi sempre dos mais pobres. Morreu pobre.
Ouvi de Raimundo de Menezes, que acaba de vencer honroso prêmio, escrevendo sobre Clóvis, um episódio triste, A modestíssima casa da rua Barão de Mesquita, da qual era inquilino havia muitos anos, fora vendida. O novo proprietário fazia exigências e queria a retomada. Que havia de fazer o pobre Clóvis? Recolher-se com a família, a biblioteca e os animaizinhos queridos, à sombra de sua estátua na Praça Paris? Era o que perguntava aos amigos mais próximos, entre os quais o Embaixador José Carlos de Macedo Soares. Pois este benemérito paulista promoveu a compra da casa da rua Barão de Mesquita, pela Caixa Econômica, para que se evitasse o antipático despejo do maior entre os juristas brasileiros…
Continua
MANUEL AUGUSTO VIEIRA NETO 
 

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