quarta-feira, 28 de maio de 2014

Literatura Ocidental - Parte 88.

 


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 88
LITERATURA ESPANHOLA - V
 
Lope de Vega deu origem a um autêntico ciclo teatral em Espanha, dos quais os mais representativos são Tirso de Molina (1583-1648), Guillén de Castro (1569-1631) e Ruiz de Alarcón (1580-1639).

Tirso de Molina reforça o conteúdo nacional do teatro de seu país e alcança posição excepcional como autor magnífico de comédias e retratista extraordinário de personagens, especialmente dos femininos. Seu teatro é, por essência, de expressão barroca originalmente dinâmica e quase que até cinematográfica, tal a mobilidade e o caráter leve e elegante de suas composições. De suas criações teatrais duas estão distintamente compostas com maturidade artística: “El burlador de Sevilla y convidado de piedra” e “El condenado por desconfiado”, o primeiro introduzindo a mítica figura de don Juan e o segundo combinando teologicamente a onisciência divina e a essencial liberdade humana.

Guillén de Castro é autor de “Mocedades del Cid”, cuja inspiração provém do Romancero e que, por sua vez, serviu de matriz direta à inspiração de Racine em “Le Cid”. Também Cervantes serviu à inspiração de Guillén de Castro fornecendo-lhe recursos para a elaboração de “Don Quijote de la Mancha” e “El curioso impertinente”. Em “Las mocedades del Cid” Guillén de Castro y Bellvís conseguiu magistralmente transcrever as poéticas tradições populares.

Ruiz de Alarcón, embora mexicano de nascimento, é literariamente natural da Espanha, onde construiu sua maturidade de autor teatral. Sua força máxima pode ser localizada na elaboração das comédias de caracteres, como em “Elexamen de maridos”, “Las paredes oyen” e “La verdad sospechosa”. O teatro de don Juan Ruiz de Alancón é significativamente bem construído através do domínio da técnica no emprego de minúcias e eticamente determinado pelo apresentar da dignidade humana. Ainda pertencente ao ciclo lopeano, é necessário recordar a excelência de Luis Vélez de Guevara (1579-1644) revelada, sobretudo, na apresentação clássica do trágico, como pode ser observado em sua obra mais significativa: “Reinar después de morir”. Necessário é recordar como contemporâneo de Cervantes o escritor Mateo Alemán (1547-1614), autor do primeiro romance picaresco de características barrocas, notável pela elegância de estilo e perfeição dos comentários psicológicos. 
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume7. 

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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Literatura Ocidental - Parte 87.

 


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 87
LITERATURA ESPANHOLA - IV

O início do século XVII marca o apogeu da literatura espanhola, com a produção de Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616), Lope de Vega (1562-1635) e Francisco de Quevedo y Villegas (1580-1645).
Cervantes é a grande expressão universal da literatura espanhola pela extraordinária apresentação de “El Ingeniosa hidalgo Don Quijote de la Mancha”, vasta síntese artística dos elementos da cavalaria agonizante, contra os quais é vigorosa sátira, e do realismo popular. Don Quijote tem sua força artístico-expressiva afirmada na maestria e perfeição com que fornece dois mitos, resumidos e simbolizados no “ingenioso hidalgo” e em seu companheiro Sancho Panza, e a inspiração do artista consegue neles revelar o autêntico reflexo da alma espanhola. Admirável é também a habilidade e o conhecimento no retratar as mulheres, o que é definitivamente atestado na apresentação de Dulcinéia, reunião extraordinária da beleza, do bem e da verdade. A presença universalmente significativa de “Don Quijote” e sua verdade nacional insuperável convertem a literatura espanhola a ele posterior em autêntico processo de diálogo e retorno. Cervantes não se esgota em sua realização máxima, porém, alcançaria excepcional posição literária com a prosa de suas “Novelas exemplares”.


Até o aparecimento de Lope de Vega a arte teatral espanhola podia ser resumida na inspiração religiosa ou no máximo na original existência dos aspectos de comédia de costume que apresenta as partes dialogadas do romance picaresco da “Celestina”, composto durante o século XV e cuja autoria, embora às vezes atribuída a Fernándo de Rojas, é desconhecida. Lope de Vega vem enriquecer a arte teatral com a criação da comédia espanhola e com a transcrição harmoniosa e globalizante dos tipos humanos e dos sentimentos em seus numerosos enredos, em seus personagens e em qualquer dos gêneros que poeticamente serviram-lhe de expressão: o épico, o lírico e o dramático. Em sua inacreditável produção duas obras podem superiormente revelar-lhe a grandeza artística: “Peribáñez y el comendador de Ocaña” e “Fuente Ovejuna”, ambas no gênero de comédia heróica. Lope Félix de Vega Carpio é o criador do teatro espanhol, seja pela temática, seja pela própria estruturação de suas criações. Lope de Vega foi, ainda, significativo como prosador e como poeta, respectivamente agradável em “La Dorotea”, de narração elegante e que inclui traços picarescos, e em “Canción a la muerte de Carlos Félix”, poema-elegia que transmite vigorosamente o sentimento doloroso do poeta. 
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7
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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Literatura Ocidental - Parte 86.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 86
LITERATURA ESPANHOLA - III

Na literatura que descreve e narra a conquista de novos territórios assinala-se: Hernan Cortés (1485-1574) com os relatos oficiais de suas viagens e conquistas e Cristóvão Colombo com seu Diário de Bordo e suas cartas, mas, os grandes narradores são, realmente, Gonzalo Fernández de Oviedo (1478-1557) – que revela dons de historiador em sua “Historia general y natural de las Indias” – e Bartolomé de las casas, que adota a humana perspectiva de observar os fatos históricos e de acusar os conquistadores para defesa dos povos originais em sua famosa “Brevísima relación de la destrucción de las Indias”.

Poeta que antecede o culteranismo pelo brilho metafórico, sonoridade rítmica e eloquência é Fernando de Herrera (1534-1582), continuador de Garcilaso e lider da escola poética de Sevilha, caracterizada pelos enriquecimentos formais, imagísticos e de estrato sonoro desenvolvido. “A la victoria de Lepanto”, “A don Juan de Austria” e “Por la pérdida del rey don Sebastián” são suas principais composições poéticas. Assinala-se em Herrera aspectos estilísticos que seriam desenvolvidos por don Luis de Gongora y Argote (1561-1627) e dariam origem ao culteranismo. Gongora revela suas qualidades de poeta, seja em nível popular, seja em elaborações herméticas. Há em seus versos, na realidade, um excesso de inversões da ordem sintática, uma abundância imagística, uma acumulação de figuras, certas obscuridades, mas a compilação de estilo é sempre empregada para criação de recursos musicais ou para destaque semântico. Sua obra-prima é “Soledades”, mas, incluem também muitas composições em trovas, novelas e poemas, como “Polifemo” e sonetos diversos. Sua obra máxima é bem representativa da direção geral do barroco na lírica de Espanha; seu estilo teve divulgação e imitadores em toda a Europa.

O florescimento da poesia mística encontra desenvolvimento notável, tanto numa orientação informada pelo renascimento em Fr. Luís de Granada ou em Fr. Luís de León (1504-1588; 1537-1591), como numa direção determinada claramente por elementos barrocos, em Santa Teresa de Ávila ou em San Juan de la Cruz (Teresa de Capeda y Ahumada-1515-1582; Juan de Yepes-1542-1591). Fr. Luís de Granada apresenta-se como dominicano que traz em si o tomismo e o misticismo que transmite em estilo que se adapta com naturalidade ao conteúdo expresso e sua oratória é excelente tanto no caráter preciso de assuntos práticos como nas alturas poéticas dos assuntos sublimes. Fr. Luís de León é dotado de vigorosa visão platônico-idealista e sua habilidade garante-lhe a classificação como um dos maiores poetas de sua pátria. É notável a defesa dos camponeses e a afirmação do espírito de tolerância religiosa nos escritos deste renascentista utópico. Santa Teresa de Ávila é merecidamente considerada a maior representante do poético místico, como o revela sua técnica de transmitir artisticamente o sublime através de excepcional criatividade imagística sensível em “La Moradas o Castillo Interior”. Juan de Yepes y Álvares está imortalizado na harmonia de seu estilo e na suavidade de sua expressão, como observado em seus três livros: “Subida al Monte Carmelo”, Cântico espiritual” e “Llama de amor viva”. Talvez seja S. Juan de la Cruz um dos mais perfeitos harmonizadores das duas tendências básicas da literatura e do lirismo, em especial, em terras de Espanha: o realismo espontâneo e a exaltação espiritual.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.
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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Literatura Ocidental - Parte 85.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 85
LITERATURA ESPANHOLA - II

Apogeu seiscentista da literatura espanhola

No século XVI a Espanha era parte do imenso Estado de Carlos V (na Espanha denominado Carlos I), que a converteu em monarquia ilimitada ou absoluta ao eliminar a resistência das cidades e a insubordinação dos senhores feudais, bem como ao converter a nobreza em arma submissa da autoridade real. O Estado de Carlos V é um império verdadeiramente universal dotado de riquezas aparentemente inesgotáveis. Com seu filho Filipe II, a Espanha separa-se do domínio hereditário dos Habsburgos, mas conserva a liderança de seu imenso mundo geográfico, constituído na época por possessões italianas, dos Países Baixos e pelas colônias americanas. A amplitude dos domínios territoriais e da riqueza resultante é acompanhada de notável ampliação cultural e artística.

A criação da língua literária data desta época com as obras poéticas de Juan Boscán (1490-1552), Garcilaso de la Vega (1503-1536) e Diego de Mendonza; com a literatura de conquistas territoriais; com Luis de Gongorra y Argote (1561-1627) e com o imenso desenvolvimento da poesia mística.
 
Deve-se a Boscán o aparecimento da escola poética do verso italiano e a introdução da influência petrarquiana. A influência provençal e o petrarquismo já havia surgido na literatura com o lirismo palaciano refinado até o convencional dos “Cancioneiros” anteriores ao século XVI, porém, triunfa literalmente com os sonetos ao modo itálico de Juan Boscán e sua escola. Deve-se a Boscán, ainda, a tradução de “II cortegiano” de Castiglione.

Garcilaso de la Vega é o suave poeta das canções toscanas, a mais famosa das quais é indiscutivelmente a canção V, conhecida como “A la flor de Gnido”. Também a musicalidade de garcilaso de la Vega muito recebe da poética de Petrarca. D.on Diego de Hurtado de Mendonza harmoniza com perfeição o lirismo itálico e a tradição poética espanhola em suas trovas, sonetos e epístolas. É comum atribuir-lhe a autoria do “Lazarillo de Tormes” (“Vida del Lazarillo de Tormes y de sus fortunas y adversidade” – 1554), primeira novela picaresca, mas, é problema insolúvel e altamente improvável sua composição pelo humanista Diego de Mendonza (1503-1575).

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7,
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