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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Grandes vultos: Visconde de Mauá - Parte 02.


Estátua de Mauá no Uruguai

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA (MAUÁ) - PARTE 02.

Era a época do grande predomínio do comércio inglês em nossa terra. Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, fugindo da invasão napoleônica, nossos portos foram abertos ao comércio internacional, ou mais especificamente, ao inglês, o único em condições de transacionar conosco. Em consequência, dos 80 navios estrangeiros de comércio entrados no Rio de Janeiro em 1808, passam rapidamente para 442 em 1810. Tarifa alfandegária favorecida proporciona aos negociantes ingleses vantagem até mesmo sobre Portugal. O comércio britânico passou a dominar completamente o nosso mercado, o que levou um contemporâneo a dizer “Que se devia temer mais um escritório comercial inglês do que todas as peças de artilharia britânica”. Em 1827 já existia entre nós trinta casas de negócios inglesas, os chamados armazéns de grossistas, abarrotados de artigos de ferro, ferramentas, louças, vidros e até queijos de manteiga. Data desse tempo a influência inglesa entre nós, da qual fala tão enternecidamente o Sr. Gilberto Freyre, influência nos hábitos e costumes, que se manifestaram no vestuário, nas jaquetas, nas casacas, nas meias, nos lenços, nas luvas, nas calças de montaria, tudo desses panos de lã e tecidos que a indústria britânica fabricava e nos vendia. Isso levava nossos avós a andarem de sobrecasaca fechada, de lã , com luvas e polainas, em pleno verão tropical do Rio de Janeiro ou Recife, suando em bicas, sob aqueles tecidos pesados e escuros, em moda em Londres. Meio século depois em 1878, 50% dos gêneros importados pelo Brasil vinham do Reino Unido, cerca de 17% da França, 8% de Portugal, 7% dos Estados Unidos e 6% da Alemanha.

Irineu Evangelista de Souza permaneceu no comércio até 1846, quando contava então trinta e seis anos, entregando-se em cheio depois à sua ação industrial e outros negócios. Era uma nova vida que iria começar, com assinalados serviços ao país, entremeadas de aventuras, lançando-o a píncaros talvez não sonhados, mas também plena de dissabores.

Estava rico, com fortuna que lhe assegurava a mais completa independência, mas que para ele representava apenas um início, a possibilidade de realização de sonhos acalentados.

De fato. O balcão não representava somente o recurso a que Mauá recorrera para conquistar uma posição definida e elevada,
mas era também seu posto de observação. E o que via em redor, de si? Um país atrasado, por organizar-se, com as lutas políticas do Primeiro Império dilacerando-o. As mercadorias que vendia eram todas importadas do exterior. A cidade era acanhada, sem meios de comunicação. Um país vasto, sem ligação entre o litoral e o centro. Tudo estava por fazer-se, a fim de igualá-lo aos outros países, sobre os quais lia nos jornais ou ouvia seus patroes falarem. Era um imenso campo de negócios e iniciativas que se apresentava ao jovem ambicioso e ávido de empreendimentos.

Lançou-se por isso ao novo campo de atividades com suas energias robustas, desejoso de realizações grandiosas. E os êxitos obtidos desde o início não lhe faltaram, confirmando seus prognósticos. Torna-se em certa época, em decorrência disso, a pessoa   mais rica do país, dirigindo grandes empresas, das mais diversas categorias, o que lhe dá reputação no mundo inteiro. É agraciado com títulos nobiliárquicos e mantém relações e amizades com as personalidades mais importantes do seu tempo, quer do mundo econômico e financeiro, quer do político e administrativo.

E depois dessa ascensão gloriosa, sem par em nossa história até então, vem a debate, a ruína, com uma falência de enorme   repercussão, que o leva a desfazer-se até de objetos de uso pessoal, para atender aos credores.

Temos em segundo lugar, o patriota, o homem que se empenha ao lado do seu governo numa luta internacional de grande   envergadura, a chamada campanha do Prata, prestando auxílio valiosíssimo, decisivo mesmo e cujo concurso lhe é solicitado pelo próprio governo. (Não entramos no mérito daquela luta, mas apenas queremos destacar o papel prestado por Mauá numa ocasião delicada para   nós). Seu concurso é financeiro e diplomático, dando-lhe considerável projeção no Uruguai, em cuja Capital esse feito é lembrado com uma estátua erguida em sua homenagem.

Continua...

Heitor Ferreira Lima

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Grandes vultos: Visconde de Mauá - Parte - 01.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA (MAUÁ) - PARTE 01.
(1813-1889)
“Cumpre estar prevenido contra certas ideias apregoadas com dogmática severidade por parte de doutrinários inflexíveis, as quais nem sempre são aplicáveis a países onde as causas que determinam certos fenômenos são diversas...”
Irineu Evangelista de Souza, barão e depois visconde de Mauá, foi sem dúvida alguma, a maior figura no campo econômico que tivemos no Segundo Império, o mais audaz empreendedor do seu tempo e o iniciador da industrialização entre nós. Seu nome, por isso, projetou-se largamente na época, chegando aos nossos dias coberto de glória, embora sua personalidade seja por vezes controvertida. Mas isso é próprio das fortes personalidades humanas, que realizaram algo de imorredouro.
Sua existência, como a de todo grande homem, é fascinante, rica de sinuosidades, compondo-se das mais variadas facetas, todas elas plenas de ensinamentos. Se encontramos nela momentos de glória e esplendor, há também episódios amargos, comoventes mesmo, que só um espírito forte seria capaz de suportar, sem cair no desespero. E no meio disso tudo, um esforço hercúleo, uma vontade inquebrantável de atingir os objetivos visados. É a vida dos predestinados que nos servem de exemplo. Temos assim, em primeiro lugar o lado humano, ou seja, a trajetória do homem neste mundo, que foi eivada de sacrifícios e caracterizada por uma nobilitante força de vontade singular. Tendo nascido nos confins do país, em Arroio Grande, Município de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, ficou órfão de pai aos cinco anos, o que o obrigou a ganhar o seu próprio sustento desde os verdes anos. Tendo aprendido a ler com a mãe, evidenciando desde cedo inteligência invulgar, menino ainda, aos nove anos é levado por um tio para o Rio de Janeiro, onde se emprega no comércio, pois não tem qualquer recurso para estudar. Do minguado salário que percebe nesse modesto emprego ainda tira uma pequena parte para enviar à mãe pobre, que ficara distante.
Desembarca na Corte, trazido por um navio a vela, em 1822, o ano da nossa Independência. Sua escola, por isso, foi o rude balcão sobre o qual dormia as poucas horas que lhe sobravam à noite, depois de ler sequiosamente livros e mais livros à luz morta do lampião de azeite, guardando os livros na gaveta do mesmo balcão. Demonstrando sisudez precoce e desejando ardentemente vencer, procurava por todos os meios instruir-se e ganhar simpatias. Um dos fregueses da casa, notando naquele menino vivo e sério, incontido anseio de saber, dá-lhe lições à noite, a portas fechadas, escondido do patrão, proporcionando-lhe com isso mais instrução e conhecimentos práticos, ensinando-lhe Contabilidade, Francês e outras matérias.
Transferindo-se a seguir, para outra casa de comércio, onde consegue desde logo impor-se, conquista a confiança do chefe, a ponto de entregar-lhe a chave do cofre. O dono desta casa comercial, João Rodrigues Pereira de Almeida, não foi porém feliz nos negócios, tendo de liquidá-lo contra a sua vontade, para satisfazer os credores. Entre estes encontrava-se Ricardo Carruthers e Cia., a quem o rapazinho Irineu é apresentado e com quem vai trabalhar daí por diante. Tinha então dezesseis anos, no entanto, sua superioridade sobre os demais caixeiros já era notória. Aprende inglês rapidamente, praticando-o nas transações cotidianas que realizava, adquirindo dessa forma o manejo da língua inglesa em forma exemplar. Isso ajuda-o a subir e ganhar a simpatia dos patrões. Com sete anos de atividade constante e dedicada, torna-se sócio da firma, contando apenas vinte e três anos.
Estava vencida assim a primeira etapa, a mais difícil, a que tivera de criar do nada, sem parentes nem instrução prévia para auxiliá-lo. Em sua famosa Expedição aos Credores, considerada com razão como sua própria autobiografia, recordará mais tarde: “Um dos melhores tipos da humanidade, representado em um comerciante inglês, que se distinguia pela inteira probidade da velha escola da moralidade positiva, depois de provas suficientes de minha parte em seu serviço, escolheu-me para sócio-gerente da sua casa, quando era ainda imberbe, pondo-me assim tão cedo, na carreira comercial em atitude de poder desenvolver os elementos que por ventura se aninhavam em meu espírito”.
Continua...
Heitor Ferreira Lima
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