GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
EUCLIDES DA CUNHA – Parte 05.
Euclides da Cunha regressou de Canudos e foi, em 1898, dirigir a reconstrução de uma ponte na cidade paulista de São José do Rio Pardo. Nessa cidade, encontrando ambiente propício, calma, compreensão de amigos, começou a escrever e concluiu o seu livro mais importante, ponto basilar de toda a sua obra e uma das mais importantes contribuições feitas por um escritor à cultura nacional: Os Sertões.
A obra, publicada em dezembro de 1902, elevou, de chofre o seu autor a um nível dos mais distinguidos entre os escritores do Brasil.
Divide-se em três partes: “A terra”, “O Homem” e “A Luta”. Na primeira parte, o autor procura estudar o esqueleto geológico e geográfico da área do sertão, a influência do meio físico, o clima da região, a sua flora, tarefa que foi facilitada pela sua qualidade de geógrafo. Traçou as coordenadas de uma teoria geográfica que, embora atualmente superada, ainda tem os seus seguidores. No entanto, muito do que Euclides da Cunha escreveu na primeira parte do seu livro ainda resiste. Um especialista como Aroldo de Azevedo escreveu sobre a primeira parte da sua obra: “façamos, pois, rigorosa justiça a Euclides e proclamemos mais esta valiosa faceta de sua obra-prima: nos seus capítulos preliminares, nada existe que possa assemelhar-se ao sistema então geralmente aceito, de dividir a matéria naqueles clássicos e bolorentos itens: orografia, geologia, potamografia, limonografia, climatologia, riquezas naturais, etnografia… Leem-se hoje as páginas de Os Sertões, sentindo-se o mesmo bem-estar que nos proporcionam as páginas de um moderno geógrafo, se as encaramos sob o ponto de vista exclusivamente de método.”
Na segunda parte do livro, procura traçar uma visão dos nossos tipos regionais, focalizando o problema do caldeamento das diversas raças que formaram a base antropológica das diversas áreas, especialmente a sertaneja. Analisa, também, a diferenciação que se operou entre o mestiço do sertão, isolado, e o do litoral, em contato com outras raças, etnias e culturas. Intoxicado de teorias que endossavam a existência de raças superiores e inferiores, Euclides da Cunha, embora emitindo conceitos atualmente inaceitáveis, procura estabelecer, pela primeira vez, as características dos diversos tipos regionais do Brasil, sendo chamado, por isso, por Artur Ramos, um dos seus mais severos críticos, de “fundador de nossa antropologia regional”. Finalmente, a última parte do livro – “A Luta” – narra os lances da tragédia de Canudos, as diversas expedições militares que foram organizadas pelo governo da República, o fanatismo dos adeptos de Antônio Conselheiro, líder dos camponeses sublevados e a vitória das forças legais.
Continua
CLÓVIS MOURA
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