quarta-feira, 16 de maio de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte - 04.

Luís Murat
GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 04.

Como redator da “Gazeta de Notícias” suas atividades chegaram a seu fim quando o mesmo se indispôs com a orientação limitada do jornal. Necessitava de um campo maior onde pudesse lançar, com a força de seu ímpeto, suas ideias abolicionistas, que não se submetiam a medidas. Patrocínio deixou-se envolver por imensa tristeza quando, então, seu sogro se dispôs a arranjar-lhe a quantia de quinhentos contos de reis para a compra da “Gazeta da Tarde”, jornal que acabava de perder um de seus donos, Ferreira de Menezes, também integrado na campanha. Novo ânimo se apossa do incontrolável e rutilante mulato e a “Gazeta da Tarde” desfralda, nas ruas do Rio de Janeiro, sua nova bandeira de guerra à escravidão, acompanhada pelos aguerridos soldados da pena. Luís de Andrade, Júlio Lemos, Gonzaga Duque, Campos Pôrto, Leite Ribeiro, Dias da Cruz e, na gerência, João Ferreira Serpa Júnior.

Dois grupos unidos pelo mesmo ideal, formaram-se durante a campanha abolicionista: o de Nabuco, chamado intelectual-filosófico, que procurava conquistar as elite, e o de Patrocínio, que comanda o povo, fá-lo vibrar pela causa redentora. Nabuco perante o Congresso, Patrocínio perante a massa popular.

Os escravagistas começaram a se insurgir contra sua campanha e o apelidaram de “preto cínico”. Sua cabeça era posta a prêmio pelos fazendeiros do sul. O terror não o abalava. Sua pena e sua voz sucediam-se em catadupas, cada vez mais arrasadoras, convincentes.

As atividades abolicionistas de José Carlos do Patrocínio dividiam-se, então, em quatro facetas distintas e convergentes: a do jornalista, destemido e radical; a do tribuno popular, fervoroso e dramático, nas ruas do Rio e, como caixeiro viajante, de São Paulo ao Ceará; a do escritor, poeta e romancista de parcos recursos, salvo algum soneto ou o poema intitulado “A Revista”, descrevendo uma cena de cativeiro e os romances “Mota Coqueiro, ou a pena de morte”, Os Retirantes” e “Pedro Hespanhol” ; finalmente, a do boêmio, nas mesas do Bar “Castelões”, da “Confeitaria Paschoal”, do “Recreio”, do “Ginásio”, da “Adega Maison”, onde se metamorfoseava no popular “Zé do Pato” entre seus diletos e fiéis amigos, Paula Nei, Luís Murat, Olavo Bilac, Coelho Neto, Guimarães Passos, Raul Pompéia, Aluísio Azevedo, Emílio Rouède, Artur Azevedo, Pardal Malet, Emílio de Menezes e outros escritores da época. A Paschoal era a preferida e ali entre a boemia, discutiam-se os destinos da Pátria e partia a voz de comando da campanha abolicionista, comandada pelo grande libertador de escravos.

Continua…

S. SILVA BARRETO

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