GRANDES
VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS
ATIVIDADES
RUI
BARBOSA – PARTE 03.
Mas, a
clarividência de Rui Barbosa, na questão da extinção do trabalho
servil, ia além da simples substituição de uma forma de trabalho
por outra. Ele sentia que havia necessidade de uma reforma muito mais
profunda na estrutura da nossa sociedade, sem o que a abolição
seria apenas um passo a mais, porém não o definitivo. Arguia com
veemência: “abolicionismo é reforma sobre reforma; abolicionismo
é reconstituição fundamental da pátria; abolicionismo é
organização radical do futuro; abolicionismo é renascimento
nacional. Não se há de indicar por uma sepultura com uma inscrição
tumular, mas por um berço com um horóscopo de luta.”
Contra
essa abolição sem reformas sociais capazes de transformá-la em um
veículo de progresso da nossa estrutura social profligava, ainda, ao
afirmar que após a extinção do labor escravo devia ser instituída
“a liberdade religiosa, a democratização do voto, a
desoligarquização do senado, o desinfeudalismo e a federação.
Era a
previsão de um homem que antevia a necessidade de uma modificação
nas relações de propriedade no campo, a fim de que a massa egressa
das senzalas pudesse se enquadrar em um tipo novo de produção e não
ficar como borra, elemento marginal, econômica, cultural e
socialmente.
Depois
de extinto o trabalho servil, Rui Barbosa volta à carga, denunciando
a forma atabalhoada e compromissada como fora feita a abolição.
Dizia: “estava liberto o primitivo operariado brasileiro, aquele a
quem se devia a criação da nossa primeira riqueza nacional.
Terminava o martírio em que os obreiros dessa construção haviam
deixado, não só o suar do seu rosto e os dias de sua vida, mas
todos os direitos da sua humanidade, contados e pagos em opróbrios,
torturas e agonias. Era uma raça que a legalidade nacional
estragara. Cumpria às leis nacionais acudir-lhe na degradação, em
que tendia a ser consumida, a se extinguir, se lhe não valesse.
Valeram-lhe? Não. Deixaram-na estiolar nas senzalas de onde se
aumentara o interesse dos senhores pela sua antiga mercadoria, pelo
seu gado humano de outrora. Executada, assim, a abolição era uma
ironia atroz. Era uma segunda emancipação o que teria de
empreender, se o abolicionismo houvera sobrevivido à sua obra, para
batizar a raça libertadora nas fontes de civilização.” E
concluía: “Evidentemente, senhores, as duas situações distam
imenso uma da outra. Entre a posição do trabalhador e a do escravo
não ha nada substancialmen
a antiga mercadoria, pelo
seu gado humano de outrora. Executada, assim, a abolição era uma
ironia atroz. Era uma segunda emancipação o que teria de
empreender, se o abolicionismo houvera sobrevivido à sua obra, para
batizar a raça libertadora nas fontes de civilização.” E
concluía: “Evidentemente, senhores, as duas situações distam
imenso uma da outra. Entre a posição do trabalhador e a do escravo
não ha nada substancialmente comum. Mas uma relação de analogia as
subordina à mesma ordem moral de ideias. A ambas interessa o
trabalho: a primeira nas liberdades elementares e do cidadão, a
segunda na independência econômica do trabalhador.”
Continua…
CLÓVIS
MOURA
Um comentário:
Oi, Rosemildo!
O seu Brasil está precisando de um Rui Barbosa há muito, aliás, quase todos os países.
Abolição da escravatura, sim, mas todinha. Aos trabalhadores e aos escravos interessa o mesmo: o trabalho em liberdade e devidamente pago. A independência económica é o marco da liberdade do indivíduo.
Beijos e bom domingo.
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