GRANDES VULTOS
BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS
ATIVIDADES
TOBIAS
BARRETO – PARTE 12.
Graça
Aranha, que então era um menino de 14 anos de idade, mas já
calouro, atesta que seus companheiros de república viviam “distantes
de qualquer preocupação intelectual”.
O futuro
autor de Canaã, como toda mocidade inteligente, espera por alguma
coisa que lhe desse sentido de vida e de renovação d’alma de quem
percebe que tudo aquilo estava superado, mas que não sabe como,
porque e pelo que. E o depoimento de Graça Aranha é precioso:
“O
concurso abriu-se como um clarão para nossos espíritos. A
eletricidade da esperança nos inflama. Esperávamos, inconscientes,
a coisa nova e redentora. Eu saía do martírio, da opressão para a
luz, para a vida, para a alegria. Era dos primeiros a chegar ao vasto
salão da Faculdade e tomava posição junto à grade, que separava a
Congregação da multidão dos estudantes. Imediatamente Tobias
Barreto se tornou o nosso favorito. Para estimular essa predileção
havia o apoio dos estudantes baianos ao candidato Freitas, baiano e
cunhado do lente Seabra. Tobias, mulato, desengonçado, entrava sob o
delírio das ovações. Era para ele toda admiração da assistência,
mesmo da emperrada Congregação. O mulato feio, desgracioso,
transformava-se na arguição e nos debates do concurso. Os seus
olhos flamejavam, da sua boca escancarada, roxa, móvel, saía uma
voz maravilhosa, de múltiplos timbres, a sua gesticulação
transbordante, porém sempre expressiva e completando o pensamento. O
que ele dizia era novo, profundo, sugestivo. Abria uma nova época na
inteligência brasileira e nós recolhíamos a nova semente sem saber
como ela frutificaria em nossos espíritos, mas seguros que por ela
nos transformávamos. Esses debates incomparáveis eram pontuados
pelas contínuas ovações que fazíamos ao grande revelador. Nada
continha o nosso entusiasmo. A congregação humilhada em seu
espírito revolucionário, curvava-se ao ardor da mocidade impetuosa.
Prosseguíamos impávidos, certos de que conduzidos por Tobias
Barreto, estávamos emancipando a mentalidade brasileira, afundada na
Teologia, no direito natural, em todos os abismos do conservantismo”.
E afirma
com segurança:
“Para
avaliar o que foi a ação de Tobias Barreto, basta atender o que
eram os estudos de Direito antes dele e depois dele”.
E mais
adiante:
“O
Código Civil Brasileiro, construção de Clóvis Beviláqua, se
filia à inspiração de Tobias. A crítica se renova por ele. Sílvio
Romero, Araripe e o próprio José Veríssimo são seus discípulos.
A nossa mesquinha Filosofia, o que tem de mais inteligente, vem da
libertação do grande mestre do pensamento livre. Ainda hoje se pode
dizer como se disse de Kant, que voltar a Tobias é progredir.
Continua…
BRASIL
BANDECCHI
2 comentários:
Muito interessante.
Um abraço
Li e deixo aplausos, muito bom e proveitoso um conhecimento a mais.
.
Bjs no coração.
Diná
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