quarta-feira, 29 de abril de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 17.



Camões lendo Os Lusíadas


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 17
 
Luís Vaz de Camões é o grande poeta épico de Portugal. Também não se sabe quando nasceu, nem em que lugar. Mas sabe-se que era filho de uma família pequeno nobre, que estudou muito, que seguiu a carreira militar (perdeu um dos olhos nas lutas dos portugueses na África), que teve uma vida aventurosa e que morreu em Lisboa, em 1580.
 
A sua obra principal é Os Lusíadas (= os Lusitanos), um extenso poema épico em que Camões canta as glórias do povo português, traduzidas especialmente pela viagem de Vasco da Gama ao Oriente. A influência dos autores clássicos – uma das características dos escritores humanistas renascentistas, como dissemos – é manifesta nos Lusíadas: Homero (Ilíada e Odisséia), Ovídio (Metamorfoses), Petrarca (Os Triunfos) e Virgílio (Eneida), especialmente deste último. Ao mesmo tempo que é um poema épico, porque canta as glórias do seu povo do primeiro ao último verso, Os Lusíadas também são um poema profundamente lírico e humano porque cantam as paixões humanas na luta do homem contra a natureza ou contra outros homens. Eis alguns exemplos:
 
No mar, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida/
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tao pequeno?
(Canto I, 106)
 
Não mais, Musa, não mais que a lira tenho
Destemperada e a voz enfraquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida...
(Canto X, 145)
 
Todavia, não é nos Lusíadas que o cantar lírico da Camões se faz sentir em toda sua plenitude, mas nas Redondilhas e Sonetos. Vejam, desse lirismo, dois exemplos bastante conhecidos, em versos de uma beleza sem par, dos mais belos da língua portuguesa. No primeiro, o Poeta canta o amor; no segundo, chora a amada que partiu para sempre e o deixou aqui “na Terra, sempre triste.” (Obras Completas de Luís de Camões, Livraria Sá da Costa, Portugal, com prefácio e notas explicativas do Prof. Hernani Cidade.)
 
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.  
Etc.   
 
Alma minha gentil que te partiste,
Tao cedo deste mundo descontente,
Repousa lá no céu eternamente,
E viva eu cá na Terra sempre triste.
Etc.

Além de poeta épico e lírico, Camões também se dedicou ao teatro. São conhecidas três peças suas, todas elas uma miscelânea de teatro clássico e de teatro popular: Anfitriões, El-Rei Selêuco e Filodemo, mas o seu teatro nem de longe se compara à sua poesia.
 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7. 

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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 16.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 16
 
A obra de Gil Vicente é muito extensa e compreende vários gêneros de teatro: peças alegóricas (Auto das Barcas, por exemplo), peças narrativas (D. Duardos, por exemplo), peças de temas pastoris (Auto Pastoril Português, por exemplo), farsas (Inês Pereira, por exemplo) etc. Todavia, há uma unidade de construção nas suas peças, qualquer que seja o gênero delas: a abundância de personagens, mais ou menos desligados uns dos outros, ausência da preocupação de fazer uma análise psicológica das personalidades dos personagens, intenção de fazer uma descrição dos costumes da época, inclusive caracterizando cada personagem pela linguagem que lhe seria própria, e intenção de criticar. Neste último sentido – críticas – o teatro de Gil Vicente é social, é popular, porque ele critica principalmente a aristocracia, a burguesia usuária e o clero dissoluto da sua época. Ao mesmo tempo, em grande parte por causa da sua profunda formação religiosa e mística, e também porque vivia dos favores da corte, Gil Vicente não consegue se libertar de certos preconceitos, respeitando e enaltecendo em suas peças certas virtudes ou ideias aristocráticas ou burguesas: a figura do rei, a noção de patriotismo guerreiro, a ideia de Deus, a noção de pureza sexual etc.
 
Entre nós, a sua peça mais conhecida é provavelmente o Auto das barcas, que tem, inclusive, sido levado em nossos palcos por vários conjuntos amadores e também por um profissional, ao que sabemos. O Auto das Barcas é uma trilogia: Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória. A influência de dante (A Divina Comédia) nessa trilogia é manifesta, bem como a da mitologia greco-romana – lenda de Carão ou Carone, filho de Érebo e da Noite, barqueiro no Rio Stix que deveria transportar, na sua barca, as almas dos mortos para o outro mundo – o que caracteriza Gil Vicente como um escritor humanista renascentista, ao mesmo tempo que a falta de unidade interna das suas peças caracteriza-o como um teatrólogo medieval. Gil Vicente foi autor bilíngue (português e espanhol) e deixou escola, mas nenhum dos seus continuadores conseguiu atingir a estatura do mestre, o que justifica a não citação dos seus nomes num trabalho resumido como este.

Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.
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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 15.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 15

Além dos trabalhos no campo histórico que mencionamos na parte anterior, apareceram em Portugal, nos séculos XIV e XV, trabalhos de outras categorias. Assim, por exemplo, D. João I escreveu um livro a respeito da arte de cavalgar (o Livro da Montaria), D. Duarte nos brindou com um livro de conselhos e observações pessoais de fundo psicológico, uma miscelânea a respeito de vários assuntos (o Leal Conselheiro), Frei João Álvares traduziu a Imitação de Cristo (de Tomás Kempis), Frei André Dias escreveu as Laudes e Cantigas Espirituais etc. 
 
E, com isso, chegamos ao século XVI, um século de excepcional brilho para as letras lusitanas, época do quinhentismo.

B – O quinhentismo 
 
Quinhentismo é o nome que se dá a uma época da história da cultura (e, em particular, da literatura) que se estende de 1500 em diante, até o fim do século. É a época do renascimento, das grandes descobertas marítimas, da ascensão das burguesias nacionais em toda Europa Ocidental, do aperfeiçoamento da imprensa etc. 
 
No quinhentismo literário português, três nomes devem ser citados: Gil Vicente, especialmente no teatro, Luís de Camões, especialmente na poesia épica e Sá de Miranda, em vários campos.

A respeito de Gil Vicente, também são conhecidos dados biográficos precisos. Acredita-se que ele tenha nascido em 1460 e falecido em 1540, mas não se sabe ao certo. Por outro lado, sabe-se com certeza que Gil Vicente era um homem da corte, onde ganhava o seu sustento organizando festas palacianas e explorando o seu inegável talento literário. Também se sabe que a sua iniciação como autor teatral, campo literário em que mais se destacou, deu-se em 1502, quando compôs sua primeira peça, o Auto do Vaqueiro, que recitou, em espanhol (a rainha era espanhola), na corte.
 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7. 
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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 14.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 14
 
Foi nesse ambiente politicamente conturbado, e como fruto dele, no fim das contas, que surgiu o grande cronista português: Fernão Lopes.
 
Não há muitos dados seguros a respeito dos fatos de sua vida. Acredita-se, contudo, que ele tenha nascido em 1380, de família humilde, e que tenha morrido em 1460, mas não se sabe ao certo. Por outro lado, sabe-se com segurança que Fernão Lopes foi nomeado, em 1418, guarda-mor da Torre do Tombo e encarregado por D. Duarte de escrever a historia dos anteriores reis de Portugal. No cumprimento dessa obrigação, escreveu ele várias crônicas: Crônica de D. Pedro, Crônica de D. Fernando, Crônica de D João I etc., a mais importante das quais é a última citada.
 
Fernão Lopes não foi um cronista comum como os da época porque não se limitou, nos seus trabalhos, a fazer uma simples descrição, embelezada, da vida dos reis que considerou. Foi além e descreveu todo o processo histórico revolucionário que estava ocorrendo em Portugal e de que ele tinha a oportunidade de ser testemunha de visu, em parte. Os heróis das crônicas de Fernão Lopes não são os reis, os nobres ou os cavaleiros andantes medievais, mas o homem do povo, o próprio povo, de Lisboa e das províncias, em quem ele, com exclusividade, reconhece as grandes virtudes da lealdade e do patriotismo, do “amor à terra”, nas suas próprias palavras. Não sem razão afirma-se que: Fernão Lopes não é o cronista de D. João I ou de Nuno Álvares, mas o cronista da revolução.” Além disso, as crônicas de Fernão Lopes são escritas numa linguagem bela, num estilo fluente e enxuto, repassado de emoção, que revelam, mais do que o historiador, o artista, o literato. Fernão Lopes foi a grande figura das letras portuguesas no século XV.
 
O exemplo de Fernão Lopes tentou ser imitado por outros cronistas, sucessores seus, ou seus continuadores: Gomes Eanes Zurara, que escreveu, entre outras crônicas, a terceira parte da Crônica de D. João I (tomada de Ceuta) e a Crônica dos Feitos da Guiné, Rui de Pina, que escreveu, entre outras, a Crônica de D, Duarte e a Crônica de Afonso V, Garcia Rezende, que escreveu, entre outras obras, a Crônica de D. João II. Destes cronistas, o verdadeiro continuador da obra de Fernão Lopes foi Rui de Pina, porque os outros dois voltaram ao velho hábito medieval do panegírico dos personagens retratados. 
 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 13.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 13 


Ao lado dessas obras todas, que podemos chamar de profanas, desenvolveu-se também nos tempos da consolidação da nacionalidade portuguesa uma literatura sacra, religiosa ou mística: comentários dos Santos Padres, tratados de Teologia, vidas de santos, sermões, poesias religiosas etc. Essa literatura – originais e traduções – têm pouco valor artístico e influenciou também pouco a vida cultural do país. E isso por uma razão principal: quase não era difundida fora dos muros dos conventos da época, a não ser no caso dos  sermoes. Além disso, muitas obras religiosas foram escritas em latim que, apesar de ser a língua oficial da Igreja Católica Romana e de já ter sido falado na península, não mais era compreendida pelos leigos, a não ser por certas culturas muito privilegiadas, que não eram muito numerosas naqueles tempos.


Finalmente, chegamos ao século XV, que tem uma particular importância, tanto para a história da nação portuguesa em geral, quanto para a literatura do país. Para a nação em geral, mercê das transformações socioeconômicas que se deram em Portugal nessa ocasião. Para a literatura portuguesa, porque foi nesse século que apareceu o primeiro real grande nome das letras lusitanas: Fernão Lopes, o verdadeiro fundador da historiografia em Portugal.  


O século XV marca em Portugal, da mesma forma que em outras partes da Europa, o começo da luta entre o feudalismo e a burguesia, classe social que começara a crescer em força e em número cerca de um século e meio antes, especialmente depois da expulsão do invasor muçulmano e da consolidação das fronteiras do país. Nos primeiros tempos, essa classe, artesanal e comerciante, viveu sob o mais férreo jugo feudal, crescendo à espera do momento oportuno para iniciar a luta de libertação. Em Portugal, esse movimento chegou nos fins do século XIV e teve como pretexto a sucessão de Fernando I, o último descendente masculino legítimo da Casa de Borgonha, fundada por Afonso Henriques. Fernando havia se casado com uma nobre portuguesa, Leonor de Teles, e tivera desse casamento uma filha apenas, Beatriz, que se casara com João I, de Castela. Quando Fernando morreu (1383), surgiu a luta entre partidários de castela, a nobreza feudal, e os que pretendiam manter a independência do reino, a burguesia artesanal e comerciante das grandes cidades, liderada por João, Grande Mestre de Avis, filho ilegítimo de Pedro I, o Cruel. João foi eleito pelas cortes reunidas em Coimbra, e João I, de Castela, invadiu Portugal. A luta entre as forças dos dois rivais foi rápida. Os espanhóis foram completamente desbaratados na Batalha de Aljubarrota (1385), e, a partir desse momento, a burguesia portuguesa caminhou a passos largos para a emancipação econômica e política. Começa a expansão marítima de Portugal – primeira conquista: Ceuta (1415), nas costas da Africa – e intensifica-se o comércio com algumas regiões do norte da Europa: Flandre e Inglaterra.
 

Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte
                   

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.
                  
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