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Apresentação
alegórica no Teatro Lucinda em 13 de maio de 1902, comemorando a
abolição da escravatura no Brasil
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GRANDES
VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS
ATIVIDADES
JOSÉ
CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 09.
Parece
que o vaticínio estava escrito no livro do destino.
O
libertador não admitia a ideia de proclamação da república antes
da libertação e tinha conceitos lapidários como este: “que
adianta uma república com milhões de escravos?”
Entretanto,
os republicanos, tendo à frente Silva Jardim, não lhe perdoavam
esta atitude. Certo dia, no auge da campanha, defrontaram-se os
dois tribunos no Teatro Lucinda. Silva Jardim, com seu verbo
inflamado, acusava-o de traição à causa: “o cativo de um beijo
com que a princesa ameigara o filho”. Quando chegou a sua vez de
falar, pronunciava palavras trôpegas, tímidas, num ambiente
carregado. Seus amigos previram seu fracasso. Paula Nei, artimanhoso,
misturou-se à multidão e soltou um desaforado aparte:
– “Cala
a boca, negro!”
A
injuria foi uma tremenda punhalada no coração do tribuno. Súbito o
mesmo se recompõe e começa uma oração fulminante. Dos apupos que
havia recebido antes, o povo passa às palmas. Sua vitória estava
assegurada com o delírio final do povo o ovacionando sem cessar.
Na
redação do jornal “Cidade do Rio”, o velho amigo que o
aparteou, acabou confessando seu crime, que visou salvá-lo do
abismo, pois, somente espicaçado, Patrocínio saía-se das
enrascadas. Foi como se despertasse um titã.
Por
causa do seu temperamento emocional, numa constante vivência de
entrechoques, não conhecia amigos se estes se colocavam contra a
causa redentora, sua obsessão. Tudo o mais era para ele secundário.
Era tomado de um furor negro e quando lhe ressalvavam suas aparentes
contradições, dizia aos amigos: “Sou filho de um padre com uma
preta. Às vezes fala em mim a eloquência do padre; outras vezes, a
língua da preta.”
Continua…
S. SILVA
BARRETO