GRANDES
VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS
ATIVIDADES
IRINEU
EVANGELISTA DE SOUZA (MAUÁ) - PARTE 04.
Dois
fatos ocorridos a curto espaço de tempo um do outro determinaram a
concretização da aspiração de há muito acalentada: a nova tarifa
aduaneira da reforma Alves Branco, de 1844 e a extinção do tráfico
africano em 1850. Com a tarifa Alves Branco, os direitos sobre a
maioria das mercadorias passaram a 30% (antes eram de 15%) e para
outras essa majoração variava de 40% a 60%. Embora ainda fossem
moderadas em relação a certas nações europeias, já permitia a
instalação de manufaturas, a fim de utilizar a abundante
matéria-prima existente entre nós, lembrado pelo próprio ministro,
o que denota que seu intuito não era apenas fiscal, como por vezes
se alega. Isso leva-o a adquirir imediatamente o estaleiro da Ponta
da Areia e a inverter nele quatro vezes o capital no primeiro ano,
transformando-o no primeiro estabelecimento do gênero no país. Com
a suspensão do tráfico africano, calcula-se que 16.000 contos,
quantia avultada para a época, refluiu sobre a economia interna,
propiciando o desenvolvimento de nossa atividade comercial e
industrial, sofrendo o mercado uma pletora de capitais. Mauá, com
sua argucia proverbial, aproveitou-se logo da ocasião, fundando o
seu primeiro banco em 1851, com capital de 10.000 contos.
Ponta
de Areia, com as inversões feitas, transformou-se completamente. O
número de operários passou de 300 para 1.000, contando
as seguinte seções: fundição de ferro, de bronze, seção de
mecânica, ferraria, serralheria, caldeiraria de ferro, construção
naval, modeladores, aparelho, velame e galvanismo. Lá se construíram
tubos para encanamento de água, caldeiras para máquinas a vapor,
engenhos de açúcar, guindastes, prensas, galgas para fábricas de
pólvoras, molinetes e outras obras mais, além de 72 navios, dos
quais 15 para a marinha nacional, que prestaram relevantes serviços
na Guerra do Paraguai. De tal modo se destaca esse estabelecimento
industrial, que o ministro do Império, em seu relatório de 1850,
lhe faz elogio, considerando-o “o mais importante estabelecimento
fabril do Império”. Em 1857 um incêndio
destruiu quase que completamente o estabelecimento, inutilizando
valiosos moldes e modelos, que o levou a contrair um empréstimo para
salvá-lo. Um biógrafo de Mauá afirma que uma testemunha
lhe dissera poder “garantir que os modelos e moldes de construção
naval da Ponta da Areia foram criminosamente inutilizados por mãos
estrangeiras”. Já em 1849 começa a pressão
para reforma da tarifa Alves Branco, o que se deu em 1857,
baixando-se as tarifas sobre os produtos de importação,
entre eles os artigos de ferros, chegando ao cúmulo, como disse
Mauá, de permitir a entrada de navios a vapor e a vela, livre de
direitos, o que tornou naturalmente impossível a concorrência
do similar nacional. As encomendas do governo também começaram a
escassear, o que acarretou a ruína do estabelecimento, com prejuízo
superior a 1 mil contos, quantia que antes representava o seu lucro.
Terminava desse modo a primeira tentativa séria da implantação
da indústria naval no Brasil.
Iniciativa
importante de Mauá foi também a aquisição, por 500 contos, da
Cia. Luz Esteárica, fundada pelo francês Lajou, sendo
consideravelmente ampliada, que mais tarde passou para as mãos de
industriais brasileiros do qual faz parte o Moinho Luz. Fundou Mauá
uma Companhia de Curtumes, uma Companhia de Diques Flutuantes, a
Companhia Pastoril Agrícola e Industrial, bem como outras empresas,
de que nos ocuparemos posteriormente.
Mas
estas, que acabamos de mencionar, sobretudo o estaleiro da Ponta da
Areia, atestam inegavelmente a vocação industrial de Mauá e bastam
para colocá-lo como verdadeiro pioneiro nesse campo, em nosso país.
No
domínio dos melhoramentos urbanos, a atuação
de Mauá é das mais relevantes. Assim, na noite de 25 de março de
1854, graças aos seus esforços, várias ruas e praças do Rio de
Janeiro apareceram feericamente
iluminadas, conforme os jornais do tempo, porque os velhos lampiões
de azeite dos tempos coloniais eram substituídos por iluminação
a gás, a grande novidade da época. Era uma realização
sua exclusivamente, pois, como escreve em Exposição aos Credores,
“foi
só depois de 25 de março de 1854, em que a luz do gás mostrou o
seu brilho em algumas ruas e praças da capital, que pude conseguir a
organização da companhia, sendo apenas subscrita cerca de metade
das ações; e ainda assim, em condições onerosas para mim”. Do
capital primitivo de 1.200 contos, passou para 2.000 contos em 1858.
mais tarde, ao organizar-se a Rio de Janeiro Gaz Company Ltd., com
capital de 600.000 libras, recebeu Mauá o triplo do valor primitivo
e mais 120 libras pela concessão, proporcionando-lhe um lucro de
25.000 libras, sendo um dos poucos negócios felizes de Mauá –
assinala Alberto de Faria.
Continua...
Heitor
Ferreira de Lima
Um comentário:
Será k os políticos brasileiros, os atuais e quem os precedeu não sabem quem foi Mauá e tudo aquilo k ele fez para o desenvolvimento desse país?
Aqui, em Portugal, tb, já esqueceram, p exemplo, o Marquês de Pombal e Fontes Pereira de Melo. O Homem tem memória curta, ou isso lhe convém.
Beijos.
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