quarta-feira, 25 de março de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 12.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 12
 
Por fim, parece que existiu em Portugal, na época, a exemplo do que aconteceu no resto da Península Ibérica ( o Cantar de Mio Cid, por exemplo), trovadores épico que cantaram as epopeias nacionais, mas o assunto não é pacífico.
 
Paralelamente a essa literatura poética, mas com início provavelmente um pouco posterior, também apareceu em Portugal, no período que estamos considerando, manifestações literárias no campo da prosa. De menos valor artístico do que as poéticas, sem dúvida, mas que não pode deixar de ser consideradas. Neste campo da prosa, os escritos da época costumam ser classificados em dois tipos: trabalhos “históricos” (livros de linhagem) e novelas de cavalaria.
 
No terreno da historiografia, cumpre citar o nome de D. Pedro, Conde de Barcelos e filho bastardo do Rei D. Dinis, que foi o organizador – e talvez o próprio autor – de alguns desses livros de linhagem. Além de conterem as genealogias das principais famílias nobres do tempo – um serviço muito útil, sem dúvida, especialmente numa época em que havia tantos filhos bastardos – esses livros também reuniam algumas lendas (a do Rei Artur, por exemplo) e narrativas a respeito de fatos realmente históricos (descrição da Batalha do Salado, por exemplo). Esses escritos “históricos” não têm qualquer valor literário maior, e de muitos deles apenas temos notícias da sua existência, ou possuímos tão somente fragmentos.

As novelas de cavalaria, ao contrário, apresentam valor literário maior. Podem ser divididas em três ciclos: carolino, bretão e clássico. (Delson Gonçalves Ferreira, Língua e Literatura Luso-Brasileira.) As denominações são elucidativas. O ciclo carolino, ou carolíngio, reúne novelas que têm por tema central o Imperador Carlos Magno e sua corte. A obra principal desse ciclo é a Chanson de Roland, traduzida para o português no século XIII, provavelmente. O ciclo bretão compreende novelas cujo tema central é o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda. A principal obra desse ciclo é a Demanda do Santo Graal, provavelmente também traduzida no século XIII. Dentro desse ciclo também se situa o Amadis de Gaula, talvez a primeira novela escrita em português. (Ou em castelhano?) Seu autor teria sido Vasco Lobeira, um trovador que viveu no século XIII. Trata o escrito da proezas de um cavaleiro andante do País de Gales (= Gaula): Amadis. Finalmente, o ciclo clássico compreende as novelas que têm por tema central personagens da Antiguidade Clássica. A obra mais importante desse ciclo é o Romance de Alexandre, de Lambert de Tors e Alexandre de Bernay, também traduzido para o português nos fins do século XIII.
 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7. 

Visite também:

quarta-feira, 18 de março de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 11.

 



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 11 
      

Ao lado destas trovas líricas, aparece ainda no medievo português, uma terceira espécie de poesia: a cantiga do escárnio ou de maldizer. O próprio nome já define bem do que se trata: nelas, o poeta satiriza os seus inimigos, ou o seu rival.


Essas poesias todas foram reunidas, mais ou menos na época, em que manuscritos chamados cancioneiros, que apresentam mais de 2 mil exemplos de cantigas dos primeiros séculos da nação portuguesa. São vários os cancioneiros conhecidos, mas dois deles costumam ser citados como os principais: o Cancioneiro da Ajuda, do mosteiro e palácio do mesmo nome, e o Cancioneiro da Vaticana, da Biblioteca da Santa Sé. Também se menciona muitas vezes o Cancioneiro Colocci-Brancuti, do nome do humanista italiano – Ângelo Colocci – que o mandou copiar e do nome do seu último dono particular (atualmente está na Biblioteca Nacional de Lisboa): Conde Brancuti. Todavia, a importância deste cancioneiro já é menor porque ele repete, em boa parte, cantigas pertencentes aos outros dois. Isso também sugere que tenha sido copiado em data posterior.


Toda Essa poesia lírica sarcástica do medievo português, que figura nos cancioneiros, pode ser considerada como poesia palaciana, tanto cabelo autores, quanto cabelo seu público. E é fácil de se compreender porque, embora Hoje, Portugal é nação que se caracteriza pelo alto grau de analfabetismo do seu povo, em comparação com outros países europeus. Imagine, então, o leitor, o que não teria acontecido em plena Idade Média, época em que os próprios nobres, príncipes e reis distinguiam-se descasca sua incultura, e em que a baixa produtividade do trabalho, especialmente do trabalho agrícola, não deixava o povo, na verdadeira acepção da Palavra, qualquer tempo livre e disposição - o célebre ócio ( dia gogos ) das classes governantes da Grécia e da Roma antigas - para se dedicar às Coisas do espírito. Nessa Condições, compreende-se perfeitamente que a vida cultural da época só poderia centralizar-se em torno de Dois núcleos principais: os palácios da nobreza e da Igreja. As próprias universidades medievais - e a primeira de Portugal foi a de Lisboa, fundada por D. Dinís e mais tarde transferida para Coimbra, onde está até Hoje - Não passavam de prolongamentos das catedrais: o Chanceler da Universidade de Paris, por exemplo, era o arcebispo da cidade.

 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7. 

Visite também:
Com a História da Literatura Portuguesa

quarta-feira, 11 de março de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 10.

 


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 10
             
Vejamos dois exemplos dessa poesia lírica do medievo português, o primeiro de uma cantiga de amor atribuída a D. Dinis. (Seria o rei português de mesmo nome, conhecido como o Rei Trovador? É possível, se bem que não absolutamente certo.), e o segundo de uma cantiga de amigo de João Zorro.




Cantiga de amor 2
Quer eu em maneira Proençal
fazer agora hun cantar d'amor,
e querrei muyt'i loar mha senhor
a que prez nem fremusura non fal,
nen bondade; e nem vos direiy en;
tanto a fez Deos comprida de ben,
que mays que todas las do mundo val.
Etc.

Cantiga de amigo 3
Bailemos agora, por Deus, ai velidas,
so aquestas avelaneiras frolidas
e quem for velida como nos, velidas,
se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar.
Bailemos agora, por Deus, ai loadas,
so aquestas avelaneiras granadas
e quem for loada como nos, loadas,
se amigo amar,
so aquestas avelaneiras granadas
verrá bailar.

2 Quero, à maneira Provençal,
Fazer, agora, um cantar de amor,
Eu quererei muito aí louvar minha amada,
A quem mérito e formosura não faltam,
Nem bondade; e mais coisas direi a seu respeito,
Tanto a fez Deus cheia de virtudes,
Que mais em todas no mundo vale.
Etc.

3 Bailemos, agora, por Deus ai belas,
Sob estas avelaneiras floridas
E quem for bela como nós, belas,
Se amar o seu namorado,
Sob estas avelaneiras floridas
Virá bailar.
Bailemos, agora, por Deus, ai louvadas,
Sob estas avelaneiras carregadas,
E quem for louvada como nós, louvadas,
Se amar o seu namorado,
Sob estas avelaneiras carregadas,
Virá bailar.

A primeira coisa que talvez chame a atenção do leitor ao considerar os exemplos apresentados é o fato de ele ser capaz de entender – com algum esforço, é claro, e especialmente se conhecer um pouco de espanhol e de francês – relativamente bem essas poesia apesar de elas datarem de quase oitocentos anos. Essa é uma das características do português arcaico: a sua relativa semelhança (especialmente na gramática) com o português moderno, coisa que não acontece com outras línguas neolatinas (francês, por exemplo). Outra é a maior simplicidade de composição da cantiga do amigo, a sua ritmicidade e a presença de um refrão, que, provavelmente, deveria ser cantado em coro pelos que assistam o espetáculo. 
 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte. 
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.
 Visite também:
Clicando aqui:
 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 09.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 9

A LITERATURA PORTUGUESA

A -- Os tempos anteriores á formação da nacionalidade

Como dissemos, oficialmente a nação portuguesa constituiu-se em 1143 quando, pelo tratado de Zamorra, o Infante Afonso Henriques conseguiu que seu primo, Afonso VII de Leão e Castela, reconhecesse a independência do Condado Portucalense (ou Portugalense, como também se dizia) e o título de rei com que havia sido aclamado pelos seus comandados depois de vencer os muçulmanos na batalha de Ourique. Mas é claro que uma nacionalidade não se forma numa data fixa. Trata-se de um lento processo de evolução social que se estende por muitos anos. No caso de Portugal, pode-se dizer que a nacionalidade portuguesa, inclusive do ponto de vista da língua nacional, só se apresenta razoavelmente consolidada cerca de dois séculos após a paz de Zamorra. (E alguns autores falam em três séculos.) É aproximadamente esse período da literatura portuguesa que pretendemos citar nesta secção. 
 
Ao que tudo indica, o mais antigo documento literário da língua portuguesa é uma poesia. Uma poesia atribuída a Pai Soares Taveiros e dedicada a D. Maria Pais Ribeiro: “Cantiga de Ribeirinha”. Dataria de 1189, mas é claro que antes dessa data a poesia já deveria ser cultivada na região, especialmente sob a forma de tradição oral, pelos trovadores e jograis. Não se tratava de poesia pura, isto é, declamada, mas de poesia cantada. Criada pelos trovadores; simplesmente repetida pelos jograis. 
 
O tema central dessa poesia dos primeiros séculos da nação portuguesa, bem como de toda a Península Ibérica e, mesmo, de parte da atual França, é o amor em diversas formas, mas quase sempre um amor não correspondido, idealizado, saudoso, choroso. Essa poesia lírica galaico-portuguesa costuma ser classificada em dois tipos: cantigas de amor e cantigas de amigo. Nas de amor, o homem expressa os seus sentimentos em relação à mulher amada, ao passo que nas de amigo (= namorado em português arcaico), o trovador fala como se uma mulher tivesse composto a referida cantiga, isto é, como se a sua amada a ele se dirigisse. Às vezes, faz com que a amiga (= namorada) não se dirija a ele diretamente, mas fale dele para a mãe dela, suas amigas, ou, mesmo, para o seu santo protetor. 
 
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte. 
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.
Visite também:
 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...