quarta-feira, 15 de julho de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 28.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 28

Segundo exemplo:

No meio d'uma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar em cima de um jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda gente deu esmola aos tais ciganos;
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver esse quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
 
Na sua crítica, Guerra Junqueiro investiu contra inúmeras instituições do seu tempo, mas a igreja foi a sua grande vítima. Contam, inclusive, uma anedota a seu respeito: Quando estava para morrer, pediu a presença de dois jesuítas, que fez sentar um de cada lado da sua cama. Como ele nada dissesse, os religiosos começaram a se impacientar e, por fim, um deles rompeu o silêncio perguntando ao moribundo qual a razão de os ter chamado, ao que o poeta respondeu: “Para morrer como Cristo, entre dois ladrões.” Apesar de esse episódio estar perfeitamente de acordo com o espírito sarcástico do poeta, é pouco provável que seja verdadeiro porque Guerra Junqueiro, no fim da vida, reconciliou-se de certa forma com a Igreja, como mostra esta passagem de Prosas Dispersas: “Eu tenho sido, devo declará-lo, muito injusto com a Igreja. A Velhice do Padre Eterno é um livro de mocidade. Não o escreveria já aos 40 anos.”
 
Ob: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

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5 comentários:

CÉU disse...

Olá, Rosemildo!

Pois aqui temos mais um exemplo da forma como Guerra Junqueiro escrevia e da sua forma de pensar.
Rude, grosseiro e sarcástico, quanto bastou.
Bom, paz à sua alma, é o k me apraz dizer.

Tudo de bom!

Beijos pra você e família

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

O grande Guerra Junqueiro um homem multifacetado, político, deputado, jornalista, escritor e poeta. Foi um dos poetas mais populares da sua época e representante da chamada "Escola Nova".
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Daniel Costa disse...

Poeta de uma geração de oiro, talvez seja pelo ateísmo demonstrado, que ficou menos popular.
Abraços

POESIAS SENSUAIS E CONTOS disse...

Um universo foi Guerra Junqueiro... Um belo fim de semana.

Maria Teresa Valente disse...

Olá Furtado, pode-se perceber o quanto Guerra Junqueiro era intenso,
até no seu expressar.
Agradeço, abraços carinhosos
Maria Teresa

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