quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Literatura Ocidental - Parte 63.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 63
LITERATURA ITALIANA -- V

Decadência seiscentista: o marinismo e a Arcádia

O século XVI é caracterizado sócio-economicamente pelo processo de decadência experimentado pelas cidades italianas, com exceção de Veneza, e seu reflexo sobre a vida literária manifesta-se pelo esquecimento da época, do povo e dos próprios sentimentos pelos literatos que se dedicam aos exercícios marinistas e arcádicos. O formalismo e a abundância de imitações e plágios estender-se-ão ao século seguinte.

Um último escritor classicista aparece no século XVI: Torquato Tasso (1544-1595), autor de “Gerusalemme liberata”, poema épico que já introduz elementos do moderno romanesco ao realizar a síntese das inspirações cavalheirescas, clássica e cristã. Seu lirismo expressa-se não apenas no espírito épico, mas, também em sua original criação do drama pastoril ou, ainda, em seus sonetos. Em sua obra literária podemos destacar: “Rinaldo”, Lagrime di Gesu Cristo”, “II monte Oliveto”, “Aminta” e “Le sette giornate del mondo creato”.

O barroco em sua forma “marinista”, bem como no gongorismo, pode ser localizado em sua origem como um desenvolvimento do petrarquismo poético. É um estilo de culto à forma pela forma e predomínio das figuras sobre o pensamento a fim de se obter artisticamente a “argutezza” e, segundo G.B. Marini, alcançar o assombro admirativo, finalidade essencial da poesia.


Giambatista Marinni
Giambatista Marinni (1569-1625), principal representante deste preciosismo seiscentista, é autor da famosa “Adone”, excelente demonstração de sua técnica na construção de ritmo e de imagens. Além do citado poema mitológico-alegórico, Marini merece interesse na atualidade pela excelência de seus poemas eróticos. Seus imitadores foram numerosos, mas, bem menos talentosos: Achillini (1574-1640), Artale (1628-1679), Giordano Bruno (1550-1639), Stigliani (1573-1651) e Campanella (1568-1639).

Ao barroco marinista opôs-se o excelente satirista salvador Rosa (1615-1673), autor de “La Poesia”. Sendo poeta e pintor Salvador Rosa abraçou em seu estilo satírico a crítica ao mau gosto manifestado na música, na poesia e na pintura.

Ocorre, a seguir, o hipertrofiado crescimento das instituições acadêmicas, sob inspiração do neoplatonismo, cujo modelo mais famoso é a Academia da Arcádia, fundada em 1690 na cidade de Roma. Iniciada com os poetas de inspiração estilística marinistas Francesco di Lemene (1634-1704) e Giambattista Zappi, a Arcádia apresenta dois triunfos literários a seguir: o poeta Paole Rolli (1687-1765), cujos poemas atingem um grau agradável de espontaneidade, e Metastásio, poeta de grande sonoridade. Metastásio (1698-1782), cujo nome verdadeiro foi Pietro Trapassi, dedicou-se ao melodrama, ou seja, ao drama poético que era acompanhado por música. Além de numerosas cantatas, epitalâmios e serenatas, Metastásio é o autor de outros melodramas, mas, sobretudo, de “Clemenza di Tito”, na qual melhor se manifestou seu temperamento lírico e idílico.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 112/113.

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Literatura Ocidental - Parte 62.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 62
LITERATURA ITALIANA -- IV

O renascimento

No século XV é necessário destacar Angelo Poliziano (1454-1494), Girolamo Savonarola (1452-1498), Leonardo da Vinci (1452-1498), Matteo Maria Boiardo (1434-1493), Francesco Guicciardini (1483-1540) e, sobretudo, Ludovico Ariosto e Niccolo Machiavelli (1474-1533; 1469-1527).

Angelo Poliziano, como ficou conhecido Angelo Ambrogini, é autor dos poemas de “Stanze” e do drama idílico-elegíaco denominado “Favola d'Orfeo”, decadentisticamente inspirado nos ”mistérios” medievais. O poeta Poliziano tenta a harmonização existencial entre seu humanismo epicurista e a tendência à melancolia que traz em si.

Girolamo Savonarola é o grande representante da eloquência renascentista italiana. Em sua juventude, Savonarola compôs uma série de poemas com temática amorosa e desenvolvimento petrarquiano. Este monge dominicano por seu reformismo religioso e político terminou sua vida enforcado e queimado por ordem do papa Alexandre VI, contra o qual havia dirigido sua vibrante eloquência.


Leonardo da Vinci, exemplar como novo homem consoante dos ideais renascentistas, exerceu também significativa atividade literária e muito contribuiu para a fixação da língua italiana. O tema essencial de suas composições literárias pode ser colocado como centralizado nas demonstrações e meditações sobre a misteriosa grandeza do mundo.

Francesco Guicciardini tem seu espírito de escritor renascentista determinado pelas preocupações básicas de amoralismo e objetividade nas análises que empreende das realidades históricas e políticas. Na obra deste político e historiador é destacada a posição que assume seu estudo intitulado “Storia d'Italia dal 1492 al 1534”. Pode-se caracterizar seu método de estudos históricos como maquiavelismo que se aproxima do relativismo empírico. Seu estilo é constituído pela amplificação de frases à Cícero com encandeamento e claridade.

Niccolo Machiavelli foi o grande mestre de Guicciardini e seu livro “II principe” é um autêntico tratado de Sociologia Política. Machiavelli, senhor de uma prosa caracterizada pela sobriedade e concisão alcançadas, é o autor das comédias “Clizia” e “Mandragora”. O maquiavelismo é a teoria retirada de “II principe” e se refere exatamente ao predomínio que o Estado assume sobre o indivíduo para a realização do bem comum e à autonomia dos domínios político e moral.

Contrário a Machiavelli, que realisticamente observou a realidade de seu século, surge o escritor Lodovico Ariosto, o qual viu a época de uma maneira idealizada e fantasista. Retomando o tema da epopeia romântica, “Orlando Enamorado”, romance de cavalaria composto por Matteo Maria Boiardo, Ariosto elaborou o famoso poema “Orlando Furioso”. Ariosto apresenta em sua visão da vida a juventude e espontaneidade dos sentimentos humanos, bem como a adesão imediata aos impulsos e paixões, mas, observa-se a constante inserção do elemento maravilhoso durante a narrativa versificada.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 110/112.

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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Literatura Ocidental - Parte 61.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 61
LITERATURA ITALIANA -- III

Há a destacar como contemporâneo de Dante Alighieri e, portanto, como figuras do “trecento”, século que criou a epopeia religiosa, a lírica pessoal e o conto, os escritores Francisco di Petrarca e Giovanni Boccacio (1304-1374); (1313-1375). Petrarca, Boccacio e Dante são ainda pertencentes a literatura medieval mas anunciam o renascimento.


Francisco di Petrarca
Francisco di Petrarca é essencialmente um individualista em constante conflito entre a razão e os sentidos; como erudito é capaz de realizar comentários sobre os antigos quase sem ser atraído pela deformação interpretativa. Petrarca foi um dos iniciais humanistas e escreveu, além de sua obra em expressão italiana, versos e prosa em latim. Como poeta lírico italiano tem “Trionfi” e “II Canzoniere”, poemas de exaltação de Laura, mulher real e não símbolo místico, caracterizados pela riqueza e profundidade de introspecção, refinamento formal e, fundamentalmente, pela dolorida tristeza e caráter pessoal: Petrarca atinge artisticamente o desespero através da ampliação de sua pessoal melancolia nos 336 poemas de conflito existencialmente experimentado entre o novo e o velho, entre o amor e Deus e a urgência de conciliá-los. Giovani Boccacio, famoso autor dos contos realistas reunidos em “II Decamerone”, é fundamentalmente aquele que aceita a vida em toda sua naturalidade e espontaneidade e crê na força do amor como obediência aos sentidos e na força construtiva da inteligência humana. A variedade de suas narrações tem origem nas tradições orais, nas antigas narrativas e nos romances e seus temas prediletos são o amor, a inteligência, o heroísmo, o acaso e a gentileza. É notável a objetividade alcançada por Boccacio na apresentação de seus personagens e o fato paralelo de que não há em suas narrativas quaisquer intenções moralistas ou simbólicas. Apenas um autor pode ser aproximado em sua época pelo exercício do realismo, embora com certa ingenuidade: Giovanni Villani (1276-1348) cujas composições oferecem verdadeira reportagem da vida social florentina no século XIV. É esta sociedade de “trecento” que é saudavelmente apresentada pelo superior Boccacio, mestre de um realismo mais desenvolvido e de técnica especial na introdução do ceticismo e construção do erótico.

O humanismo constitui o primeiro movimento da cultura italiana a expandir-se territorialmente e assumir caráter nacional. O humanismo, que deixa entrever o renascimento, consiste numa nova maneira de estudar as obras dos clássicos e afirmará o sentimento da possibilidade inerente ao espírito humano de exercer a criatividade. O humanismo estende-se à consequente reelaboração dos problemas da vida segundo suas características de nova perspectiva.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 109/110

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Literatura Ocidental - Parte 60.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 60
LITERATURA ITALIANA-- II

“II dolce stil nuovo” não é apenas uma nova maneira de conceber o amor e a mulher, mas, uma autêntica visão de conjunto da realidade em seus níveis religiosos, filosóficos, científicos e políticos. Neste novo estilo sutil e original o amor não constitui simples paixão poética, mas, amplia-se à condição de meio para que o coração sensível se eleve à contemplação da perfeição divina; nesta renovação literária, que fundou a primeira tradição poética italiana e estimulou o processo de formação da língua literária toscana, há acentos tênues e musicais. Foram os seguidores desta nova concepção poética que criaram a inovação métrica conhecida como “ballata”. “Stilnovisti” foram Lapo Gianni, Gianni Alfani, Dino Frescobaldi, Cino de Pistoia e, de maneira especial, Guido Guinizélli (1235-1276), Guido Cavalcanti (1225-1300) e Dante Alighieri (1265-1321). Guido Cavalcanti é representante típico do “dolce stil nuovo” e autor de poemas que se caracterizam pela delicadeza de estilo e profundidade de inquietudes. Ao lado da função perene e exaltadora da mulher, a poesia de Guido Cavalcanti traz a constante da morte entre seus motivos.

Dante Alihhieri
A obra de dante é um universo perfeitamente estruturado que sintetiza toda a vida espiritual da Idade Média, seja em seu plano religioso, seja em seu plano moral. A poesia de Dante é excelente na presença artisticamente realizada da “terza rima”. Suas obras principais são: ”La Vita Nuova”, “Canzoniere” e “Commedia” – embora sejam também importantes para sua compreensão o poema de caráter político intitulado “Convivio”, o tratado de linguística “De Vulgari Eloquentia” e o paralelo que estabelece a natureza das relações entre o Estado e a Igreja denominado “De Monarchia”. “La Vita Nuova” reune poemas de juventude encaixados num comentário em prosa; estes cantos líricos são inspirados pelo grande amor do poeta a Beatriz Portinari, sentimento que não encontrará correspondência, mas desilusão profunda pelo casamento da amada com outro. Beatriz reaparece como figura central na “Commedia” ulteriormente denominada Divina, porém, o fato de que morrera e de que o poeta fracassara na ação política, trouxe a Dante a idealização de Beatriz como autêntica encarnação do Bem, da Verdade, da Justiça e do Ideal supremo. Além deste amor espiritualizado e do humor político-satírico de castigar seus inimigos no inferno no qual é o poeta orientado por Virgílio, a Divina Comédia é, indubitavelmente, uma vasta composição dotada de densidade simbólica e na qual o vate genialmente transpõe toda Teologia, a mística e a ciência de seu tempo. O excelente nesta obra-prima da literatura mundial é reconhecer a presença dominante do lirismo expresso nas confissões do poeta. Dante conferiu ao toscano primazia sobre os demais dialetos da península itálica elevando-o à condição de idioma literário nacional e com sua obra, na qual a Itália se reconhece em sua visão e sensibilidade, fundou a literatura italiana.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 108/109. 

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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Literatura Ocidental - Parte 59.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 59
LITERATURA ITALIANA -- I
 
A literatura italiana nasce no século XIII com S. Francisco de Assis (1182-1226), Jacopone da Todi (1230-1306) e Dante Alighieri (1265-1321), todos caracterizados pelo misticismo, pela intensa atividade exercida e pela atração do absoluto. Jacopone da Todi escreveu em dialeto úmbrio e suas composições constam de “laudi” veementes, que às vezes atingem a grosseria, mas que possuem sempre imensa visão mística, quase aniquilando o jogral de Deus. Jacopone compôs magníficas cenas de drama religioso, formas dialogadas dramáticas também denominadas “sacra rappresentazione”. Francisco de Assis é o iniciador da poesia sacra ao compor seu famoso “Cântico ao Sol”, autêntica ação de graças ao Criador através da linguagem poemática. Amplia-se “Cântico ao Sol” para abranger toda a criação, inclusive a morte, numa profissão de fé com acentos cósmicos. As famosas “fioretti” são obra de seus discípulos.
 
  Chiaro Davanzati
A criação poética é desenvolvida oralmente e apresenta caráter popular-medieval e abrange em sua temática o amoroso, o político e o burlesco. A transformação da poesia quantitativa em qualitativa, ou seja, a substituição da quantidade da sílaba como base poética pelo acento, pelo número fixo de sílabas e pela rima tem sua origem já nos tempos medievais; agora inicia a atribuição de novo sentido de harmonia rítmica. Entre as composições originais destaca-se a coleção “Novellino”, constituída de cem contos ou novelas breves. O novellino tem concisão e estilo com certo desenvolvimento, além de interesse no gênero do “bel parlar gentile”. A primeira passagem desta literatura popular a uma poesia erudita ocorre com a escola siciliana, centralizada na côrte do imperador Frederico II e caracterizada pelo preciosismo e nível palaciano-aristocrático. Observa-se ainda na escola siciliana a profunda influência recebida da escola provençal. A presença da mulher na poesia provençal sofre a passagem de sua visão como objeto de desejo sensual dotado de impassibilidade à exaltação do ânimo a alturas supra-terrenas através da apaixonada contemplação. Contribuições da escola siciliana são o aperfeiçoamento do soneto e o desenvolvimento da “canzone”.

O predomínio da escola siciliana foi, gradativamente, substituído pelo crescimento da escola toscana, que atingiu a supremacia literária na segunda metade do século XIII. Como seu principal representante aparece Chiaro Davanzati (? - 1285) que, numa antecipação do “stil nuovo”, dedica-se à temática de glorificação do amor e do culto à beleza feminina. “II dolce stil nuovo” será iniciado na escola seguinte, a bolonhesa, por Guido Guinizélli, que converterá o culto à dama num ato de enobrecimento ou, até mesmo, de quase angelização da mulher. Guinizélli (1235-1276), considerado por Dante como “o pai de todos os poetas do amor”, é autor de canções dotadas de delicadeza, harmonia e serenidade, mas, também de certo excesso de análises psicológicas e introdução de elementos intelectualísticos. Uma codificação dos princípios do doce estilo novo é apresentada em um de seus poemas.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 107/108

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