quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Grandes vultos: Custódio de Mello - Parte 02.

Custódio de Mello

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JÚLIO DE CASTILHOS – PARTE 02.
Foi durante as discussões que então se processaram, que procurou por em prática suas ideias positivistas, colocando-se por várias vezes em oposição a Rui Barbosa, em virtude do seu “ultra-federalismo”.
Entre outras ideias, advogou o unicameralismo, que dispensava a existência do senado, sendo, todavia, derrotado. Também não viu vencedora sua proposta no sentido de conceder o voto aos analfabetos. Lutou ainda, sem êxito pela liberdade tributária, segundo a qual os Estados poderiam estabelecer cada qual seus próprios tributos, com uma determinada percentagem para o governo federal. Defendeu finalmente a liberdade dos cultos, ideia que viu vencedora, pois essa era a opinião geral, nas circunstâncias.
Encerrados os trabalhos da Constituinte, regressou ao Rio Grande, sendo logo solicitado para elaborar a Constituição do Estado. Nesse seu trabalho, Castilhos esmerou-se por impregná-lo de suas ideias positivistas, aliás nem sempre ortodoxas. Uma das singularidades desta Constituição era a que permitia a qualquer cidadão exercer a Medicina, a Cirurgia Dentária, manipulação de drogas (farmácia) sem diploma e sem mesmo haver cursado qualquer escola, bastando saber ler e escrever e registrar-se na Diretoria da Saúde.
A 13 de junho de 1891 é nomeado Presidente do Estado. Mas a 3 de novembro dissolve o Congresso e esse ato provocou no Rio Grande uma onda de descontentamento. Um grupo de cidadãos dirigiu-se ao Palácio do Governo exigindo que Castilhos renunciasse “para ficar com o povo” contra a ditadura. E Castilhos decide renunciar. Quando lhe perguntaram “a quem entregaria o Governo” respondeu: “Ao caos, à anarquia”. E foi de fato o que aconteceu.
Com a curta normalização da situação política, que se seguiu à renúncia de Deodoro e a ascensão de Floriano, foi por fim eleito Castilhos Presidente do Estado. Era de fato o primeiro presidente realmente eleito. Estávamos a 25 de janeiro de 1893.
Mas não era ainda a paz. Ao contrário, os acontecimentos na Capital Federal, com a rebelião da Marinha sob as ordens do Almirante Custódio de Mello, repercutiram no Rio Grande, para onde, aliás, seguiram alguns dos revoltosos. Todas as forças anticastilhistas se uniram para derrubar não apenas Floriano, mas principalmente Júlio de Castilhos.
O Presidente teve de empregar a maior energia e severidade, e mesmo a extrema violência para derrubar as forças inimigas, o que afinal conseguiu.
Continua
LEONCIO BASBUM

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Grandes vultos: Júlio de Castilhos - Parte 01.

Júlio de Castilhos

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JÚLIO DE CASTILHOS – PARTE 01.
(1859 – 1903)
“Adversários não se poupam nem se dá quartel”
Júlio Prates de Castilhos, o 1º presidente eleito do Rio Grande do Sul, embora tivesse ocupado um cargo executivo por pouco tempo, exerceu grande influência ideológica sobre pelo menos duas gerações de políticos.
Nasceu, sendo o mais novo de seis filhos, na propriedade de seus pais, abastados estancieiros, na fazenda da Reserva, na região da Serra, a cerca de 70 quilômetros de Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul.
Aprendeu as primeiras letras, juntamente com seus irmãos e com professora particular. Apesar das facilidades e do conforto que lhe proporcionava a boa situação econômica de sua família, teve a sua infância e adolescência atormentadas por dois fatos singulares que talvez tivessem influído no seu caráter: era ligeiramente gago, o que lhe dava uma certa timidez ao falar e no trato com seus amigos. E aos 14 anos foi acometido de varíola. Mas, dotado de inteligência incomum, sempre procurou superar esses males, e nesse esforço moldou o seu caráter firme e austero e, segundo alguns biógrafos, rigoroso e impiedoso, para com os seus inimigos.
Aos 17 anos seguiu para S. Paulo onde se matriculou na Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco, onde se formaram tantos nomes eminentes da política e das letras no Brasil. Era uma época de grandes e profundas agitações ideológicas. Dissipando a atmosfera modorrenta da província, começavam a penetrar as ideias avançadas que já proliferavam na Europa, e nas quais predominavam o agnosticismos e Spencer e Littrré, o materialismo e sobretudo o positivismo, de Augusto Conte, que iria ter grande influência na formação das ideias republicanas. Ainda estudante, com outros colegas funda um periódico A Evolução, cujo nome bem marca as tendências ideológicas que começavam a predominar na época. E então começam suas relações com as ideias republicanas e abolicionistas.
De volta a sua terra natal, participa da 1ª convenção regional do partido Republicano. Uma das suas resoluções era a de editar um periódico “A Federação”, da qual foi escolhido em 1º de janeiro de 1884 para ser o principal redator. Esse jornal, que ele dirigiu por vários anos – de 1884 a 1889 – era não apenas republicano mas abolicionista, e exerceu grande influência na época para a difusão das novas ideias republicanas e positivistas.
Proclamada a República, foi nomeado a 9 de fevereiro de 1890, por telegrama do Marechal Deodoro, Presidente do Estado, mas recusa em favor de Júlio Frota. Pouco depois, é eleito para deputado à Constituinte que se reúne na Capital Federal, a fim de elaborar a primeira Constituição republicana.
Continua
LEONCIO BASBUM

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 14.

Igreja do Rosário

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 14.

Seu corpo foi trasladado da humilde casa do Engenho de Dentro para a Igreja do Rosário, onde foi alvo das homenagens consagradoras do povo que desfilava para vê-lo, tendo como guardião de sua cabeça um exemplar da “Cidade do Rio”. Grande foi a multidão que o acompanhou à última morada, entre os quais Olavo Bilac que, à beira do túmulo, disse o célebre soneto, só por si consagrador de sua imortalidade, cujo final é o seguinte:

“E, eterno, à eterna luz dos séculos exposto,

Ficas tu, que ao nascer, já na pele trazias

A imorredoura cor do bronze imorredouro!”

A 31 de janeiro de 1905, escrevia Félix Pacheco: “A figura do gigante adormecido irrompe da terra fria, numa redenção magnifica, e retoma, com o majestoso fulgor de antanho, o lugar que lhe cabe na história do País… negro pela cor, mas ariano pelo espírito, esta contradição fundamental entre um fútil acidente da natureza transitória e a manifestação superior da eterna luz, devia forçosamente fazer de José do Patrocínio um rebelado da vida”… e termina magistralmente o mestre dos perfis: José do Patrocínio representou exatamente isso. Ele constituiu a angústia milenar do negro, abrindo-se, rebentando-se aqui numa eclosão vingadora.

Emílio de Menezes, no dia 2 de fevereiro do mesmo ano fatídico, homenageava, também, o dileto amigo que partiu, com dois sonetos magníficos, o último dos quais assim termina:

“Negro feito da essência da brancura,

Esse que a Terra hoje em seu seio cobre,

Sóis porejava pela pele escura!”

Assim se extinguiu, aos 51 anos de idade, uma vida de contradições, sempre voltada à defesa incondicional dos fracos. Não se extinguiu, porém, o seu espírito, o exemplo de sua coragem, a nobreza das causas que defendeu. Cada dia que passa, mais esclarecida e compreendida é sua alma tempestuosa à qual tanto deve o Brasil.

S. SILVA BARRETO
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