segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Criação da Árvore de Natal.


CRIAÇÃO DA ÁRVORE-DE-NATAL

1530 – (dezembro) Cria-se a “árvore-de-natal”. E foi assim: Martinho Lutero caminha, meditativo, na noite de Natal. É límpida e clara. Entra por uma floresta de pinheiros. Aí divisa milhares de estrelas brilhando através dos galhos cobertos de neve. Tal espetáculo o deixa deslumbrado e embevecido. Corta um galho de pinheiro. Leva-o para casa. Enfeita-o com velas acesas para que seus filhos compartilhem do espetáculo que se desenrola do lado de fora. A árvore-de-natal torna-se daí, um símbolo de esperança, paz, alegria. Os imigrantes alemães trazem-na para a América, na época colonial.

Fonte: Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 1, página 116.

MEUS QUERIDOS AMIGOS(AS)1

O Natal está chegando, mais um final de ano que aos poucos vai se aproximando, e cada vez mais forte está a minha esperança do dever cumprido neste 2018. Procurei fazer o possível para agradar com as ínfimas baboseiras que postei.

Hoje estou iniciando uma pausa para descansar um pouco a cuca e a carcaça, analisar os erros e os acertos e dar uma arrumadinha no nosso humilde espaço, prometendo, se “DEUS” quiser, retornar em fevereiro para dar continuidade às atividades.

Aproveito a oportunidade para apresentar as minhas desculpas àqueles que, de alguma forma, não agradei com as minhas postagens, e agradecer a todos indistintamente, amigos(as) e seguidores(as) e visitantes, pelo carinho, compreensão e, principalmente, pelo grande apoio que é de vital importância neste mundo virtual, esperando no próximo 2019, poder continuar sendo merecedor dessas ímpares e valiosas companhias. Muito obrigado de coração.

A todos, um “Maravilhoso NATAL” e um “Fantástico ANO NOVO”, não com fortuna, mas, com muitas felicidades.

QUE 'DEUS' SEJA LOUVADO!”

Literatura & Companhia Ilimitada 
Rosemildo Sales Furtado. 


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Grandes vultos: Clóvis Beviláqua - Parte 01.

Clóvis Beviláqua

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
CLÓVIS BEVILÁQUA – PARTE - 01
(1859 – 1944)
“… possuía na juventude a gravidade, as tendências e os hábitos de hoje...”
Em 1774, procedente de Trieste, chega às prais do Ceará, vítima de um naufrágio, o piloto italiano Ângelo Beviláqua. Casa-se, em Fortaleza, com D. Luísa Gaspar de Oliveira. Dos seus dez filhos, o segundo era José, de temperamento arrebatado e interessado em política, tendo sido deputado à Câmara Geral. Esse foi o pai de Clóvis. Sua mãe, D. Martiniana Maria de Jesus Ayres, natural da Província do Piauí.
Nasceu Clóvis a 4 de outubro de 1859, dia de São Francisco de Assis. Viçosa, sua terra natal, fica plantada no alto de uma serra, em meio do caminho que vai das alvas praias dos verdes mares, como diz Alencar, ao sertão rude e trágico, onde o sertanejo se faz forte e resignado.
Não é vã a referência ao panorama. O berço natal traçou o destino de Clóvis. Se voltado para o norte seus olhos se perdiam no infinito do oceano, como em busca de um ideal, do sul chegava-lhe ao ouvido a voz quente do sertão agreste. Assim se fez aquele ente singular que elevava o coração aos páramos dos mais elevados sonhos, sem se afastar da realidade, que enfrentava corajosa e resignadamente. O próprio Clóvis confessa a influência telúrica em sua vida: – “O cearense educou-se na luta e a ela afeiçoou-se. O solo esquivo recusa-lhe os meios de subsistência sem aturado esforço; o sol cai, como um incêndio, sobre uma terra que não possui rios, nem lagos, nem grandes matas, onde toda vegetação desaparece com o verão; o mar só se deixa domar pela afoiteza da jangada alvíssima. Numa escola assim, aprende-se a lutar, sem jamais cansar. Adquire-se a intrepidez e perseverança...” – (Revivendo o passado, volume II, pág. 96).
Muito criança sai Clóvis de seu lar. Faz os primeiros estudos em Sobral. O curso secundário iniciado em Fortaleza é concluído no Rio de Janeiro, em 1877.
Na Corte, torna-se amigo de Paula Ney e de Silva Jardim, que procurou convencê-lo a vir morar em São Paulo. Com esse diletos companheiros, publica um jornalzinho escolar: – o “Labarum Litterarium”, que obteve pleno êxito e revelou os primeiros bruxoleios daquele que seria poeta, tribuno e jurista.
Continua
MANUEL AUGUSTO VIEIRA NETO

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Grandes vultos: Júlio de Castilhos - Parte 03.


Borges de Medeiros

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JÚLIO DE CASTILHOS – PARTE 03.
Não obstante três anos de guerra civil em seus cinco anos de governo, Castilhos realizou uma grande obra administrativa, nesse período de reorganização da vida política do Rio Grande e do Brasil, quando se passava da Monarquia para a República. Castilhos foi sobretudo um organizador e sua principal tarefa foi a de adaptar o Estado à nova vida republicana.
Além dessa indispensável reorganização administrativa e judiciária, reformou o sistema de tributação, instituiu o imposto de transmissão de propriedade e outros, conseguindo recursos para a realização de uma série de obras de grande importância econômica: algumas linhas telegráficas, a desobstrução de canais de navegação, de modo a assegurar o livre trânsito entre os portos de Guaíba, Lagoa dos Patos, S. Gonçalo e Lagoa Mirim. Garantiu ainda a colonização de pequenas propriedades, o que foi de algum modo o ponto de partida para o progresso do Estado garantindo-as contra as investidas de grileiros, que tanto êxito tiveram em outros Estados, e estimulando a imigração, sobretudo de italianos, que deram grande impulso à agricultura e em particular à indústria do vinho.
Em 1898, terminando seu período de governo, indicou como candidato do Partido Republicano à sua sucessão, a Borges de Medeiros, seu discípulo, como tantos outros jovens políticos da época. Borges de Medeiros tinha apenas 37 anos de idade e governou o Estado, através de sucessivas eleições, por cerca de 25 anos.
Desde que deixara o cargo, Castilhos não mais participava ativamente da política, pois se achava esgotado e adoentado, retirando-se para a sua estância. A 24 de outubro de 1903, com 44 anos apenas, falece em consequência de uma operação.
Seus funerais foram uma verdadeira apoteose àquele que dedicara sua vida à causa republicana e à reorganização de seu Estado natal. Até mesmo seus inimigos reconheceram o valor de sua obra que se transformou em símbolo de austeridade e de honestidade.
Castilhos era positivista embora não aceitasse certos dogmas positivistas, tais como a Religião da Humanidade, a não participação nas atividades políticas e a proibição de ocupar cargos políticos. Levou sobretudo em conta esse outro princípio positivista e que foi o fundamento de sua vida pública: Viver às Claras!
LEONCIO BASBAUM


quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Grandes vultos: Custódio de Mello - Parte 02.

Custódio de Mello

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JÚLIO DE CASTILHOS – PARTE 02.
Foi durante as discussões que então se processaram, que procurou por em prática suas ideias positivistas, colocando-se por várias vezes em oposição a Rui Barbosa, em virtude do seu “ultra-federalismo”.
Entre outras ideias, advogou o unicameralismo, que dispensava a existência do senado, sendo, todavia, derrotado. Também não viu vencedora sua proposta no sentido de conceder o voto aos analfabetos. Lutou ainda, sem êxito pela liberdade tributária, segundo a qual os Estados poderiam estabelecer cada qual seus próprios tributos, com uma determinada percentagem para o governo federal. Defendeu finalmente a liberdade dos cultos, ideia que viu vencedora, pois essa era a opinião geral, nas circunstâncias.
Encerrados os trabalhos da Constituinte, regressou ao Rio Grande, sendo logo solicitado para elaborar a Constituição do Estado. Nesse seu trabalho, Castilhos esmerou-se por impregná-lo de suas ideias positivistas, aliás nem sempre ortodoxas. Uma das singularidades desta Constituição era a que permitia a qualquer cidadão exercer a Medicina, a Cirurgia Dentária, manipulação de drogas (farmácia) sem diploma e sem mesmo haver cursado qualquer escola, bastando saber ler e escrever e registrar-se na Diretoria da Saúde.
A 13 de junho de 1891 é nomeado Presidente do Estado. Mas a 3 de novembro dissolve o Congresso e esse ato provocou no Rio Grande uma onda de descontentamento. Um grupo de cidadãos dirigiu-se ao Palácio do Governo exigindo que Castilhos renunciasse “para ficar com o povo” contra a ditadura. E Castilhos decide renunciar. Quando lhe perguntaram “a quem entregaria o Governo” respondeu: “Ao caos, à anarquia”. E foi de fato o que aconteceu.
Com a curta normalização da situação política, que se seguiu à renúncia de Deodoro e a ascensão de Floriano, foi por fim eleito Castilhos Presidente do Estado. Era de fato o primeiro presidente realmente eleito. Estávamos a 25 de janeiro de 1893.
Mas não era ainda a paz. Ao contrário, os acontecimentos na Capital Federal, com a rebelião da Marinha sob as ordens do Almirante Custódio de Mello, repercutiram no Rio Grande, para onde, aliás, seguiram alguns dos revoltosos. Todas as forças anticastilhistas se uniram para derrubar não apenas Floriano, mas principalmente Júlio de Castilhos.
O Presidente teve de empregar a maior energia e severidade, e mesmo a extrema violência para derrubar as forças inimigas, o que afinal conseguiu.
Continua
LEONCIO BASBUM

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Grandes vultos: Júlio de Castilhos - Parte 01.

Júlio de Castilhos

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JÚLIO DE CASTILHOS – PARTE 01.
(1859 – 1903)
“Adversários não se poupam nem se dá quartel”
Júlio Prates de Castilhos, o 1º presidente eleito do Rio Grande do Sul, embora tivesse ocupado um cargo executivo por pouco tempo, exerceu grande influência ideológica sobre pelo menos duas gerações de políticos.
Nasceu, sendo o mais novo de seis filhos, na propriedade de seus pais, abastados estancieiros, na fazenda da Reserva, na região da Serra, a cerca de 70 quilômetros de Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul.
Aprendeu as primeiras letras, juntamente com seus irmãos e com professora particular. Apesar das facilidades e do conforto que lhe proporcionava a boa situação econômica de sua família, teve a sua infância e adolescência atormentadas por dois fatos singulares que talvez tivessem influído no seu caráter: era ligeiramente gago, o que lhe dava uma certa timidez ao falar e no trato com seus amigos. E aos 14 anos foi acometido de varíola. Mas, dotado de inteligência incomum, sempre procurou superar esses males, e nesse esforço moldou o seu caráter firme e austero e, segundo alguns biógrafos, rigoroso e impiedoso, para com os seus inimigos.
Aos 17 anos seguiu para S. Paulo onde se matriculou na Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco, onde se formaram tantos nomes eminentes da política e das letras no Brasil. Era uma época de grandes e profundas agitações ideológicas. Dissipando a atmosfera modorrenta da província, começavam a penetrar as ideias avançadas que já proliferavam na Europa, e nas quais predominavam o agnosticismos e Spencer e Littrré, o materialismo e sobretudo o positivismo, de Augusto Conte, que iria ter grande influência na formação das ideias republicanas. Ainda estudante, com outros colegas funda um periódico A Evolução, cujo nome bem marca as tendências ideológicas que começavam a predominar na época. E então começam suas relações com as ideias republicanas e abolicionistas.
De volta a sua terra natal, participa da 1ª convenção regional do partido Republicano. Uma das suas resoluções era a de editar um periódico “A Federação”, da qual foi escolhido em 1º de janeiro de 1884 para ser o principal redator. Esse jornal, que ele dirigiu por vários anos – de 1884 a 1889 – era não apenas republicano mas abolicionista, e exerceu grande influência na época para a difusão das novas ideias republicanas e positivistas.
Proclamada a República, foi nomeado a 9 de fevereiro de 1890, por telegrama do Marechal Deodoro, Presidente do Estado, mas recusa em favor de Júlio Frota. Pouco depois, é eleito para deputado à Constituinte que se reúne na Capital Federal, a fim de elaborar a primeira Constituição republicana.
Continua
LEONCIO BASBUM

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 14.

Igreja do Rosário

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 14.

Seu corpo foi trasladado da humilde casa do Engenho de Dentro para a Igreja do Rosário, onde foi alvo das homenagens consagradoras do povo que desfilava para vê-lo, tendo como guardião de sua cabeça um exemplar da “Cidade do Rio”. Grande foi a multidão que o acompanhou à última morada, entre os quais Olavo Bilac que, à beira do túmulo, disse o célebre soneto, só por si consagrador de sua imortalidade, cujo final é o seguinte:

“E, eterno, à eterna luz dos séculos exposto,

Ficas tu, que ao nascer, já na pele trazias

A imorredoura cor do bronze imorredouro!”

A 31 de janeiro de 1905, escrevia Félix Pacheco: “A figura do gigante adormecido irrompe da terra fria, numa redenção magnifica, e retoma, com o majestoso fulgor de antanho, o lugar que lhe cabe na história do País… negro pela cor, mas ariano pelo espírito, esta contradição fundamental entre um fútil acidente da natureza transitória e a manifestação superior da eterna luz, devia forçosamente fazer de José do Patrocínio um rebelado da vida”… e termina magistralmente o mestre dos perfis: José do Patrocínio representou exatamente isso. Ele constituiu a angústia milenar do negro, abrindo-se, rebentando-se aqui numa eclosão vingadora.

Emílio de Menezes, no dia 2 de fevereiro do mesmo ano fatídico, homenageava, também, o dileto amigo que partiu, com dois sonetos magníficos, o último dos quais assim termina:

“Negro feito da essência da brancura,

Esse que a Terra hoje em seu seio cobre,

Sóis porejava pela pele escura!”

Assim se extinguiu, aos 51 anos de idade, uma vida de contradições, sempre voltada à defesa incondicional dos fracos. Não se extinguiu, porém, o seu espírito, o exemplo de sua coragem, a nobreza das causas que defendeu. Cada dia que passa, mais esclarecida e compreendida é sua alma tempestuosa à qual tanto deve o Brasil.

S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 13.

Nilo Peçanha

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 13.
Seu afastamento dos problemas políticos, com seu gênio inquieto, levaram-no a sublimar-se na mais digna de todas as causas: o bem estar da humanidade. E se pôs, novamente, com o mesmo furor que combateu a escravidão, a serviço de seu invento, o balão dirigido “Santa Cruz”. Em 1902 foi apresentada na Câmara dos Deputados, por Nilo Peçanha, uma emenda para conceder-lhe a quantia de quarenta contos de réis para a construção de seus aerostatos “Sta. Cruz” e “Paz”. A emenda foi combatida por Barbosa Lima e rejeitada pelos deputados.
A carcaça do balão de Patrocínio “enferrujou num retiro, por obra da incompreensão ou do despeito dos homens. Pobre inventor!” é o que nos noticia um de seus biógrafos.
Doente, minado pela tuberculose, Patrocínio passou a morar num casebre do distante subúrbio de Engenho de Dentro, onde lá ia ter, costumeiramente, seu inseparável amigo João Marques, alguns seresteiros, que procuravam alegrar seus últimos dias, entre os quais o poeta Catulo da Paixão Cearense, o serenatista Mário Cavaquinho e o pistonista Luís de Sousa que, na bela imagem de Osvaldo Orico, eram os “Sabiás da Mata” a se “aninharem sobre o tronco padecente e carcomido do jequitibá majestoso” após “ver seus galhos destroçados pelos temporais e os raios”.
No dia 30 de janeiro de 1905, entre as 3 e 4 horas da tarde, expirava com hemoptises, em golfadas de sangue consecutivas, um dos maiores gênios da tribuna popular e uma das maiores penas do jornalismo brasileiro, símbolo máximo da libertação escrava.
Expirou quando escrevia um artigo sobre a Sociedade Protetora dos Animais, inacabado, no qual expendeu aquela sua frase lapidar: “Eu tenho pelos animais um respeito egípcio” Artigo esse que mereceu de Coelho Neto, em seu discurso de recepção a Mário de Alencar na Academia, as seguintes frases: “Morreu como vivera, defendendo os fracos, batendo-se pela piedade. O seu último apelo foi em prol dos animais, talvez mais gratos do que os homens”.
Continua…
S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 12.

Prudente de Morais

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 12.
Em sua disputa com Patrocínio, Rui publicou pelas colunas da “Imprensa”, o conhecido artigo intitulado “A Difamação”, de grande repercussão na época, e, no dia 16 do mesmo mês de dezembro de 1898, pelas colunas da “Cidade do Rio”, o segundo respondia com o não menos célebre artigo “A Hipocrisia”. São duas peças literárias, ressalvada a injustiça dos conceitos expendidos por ambos os contedores, dignas de figurar em qualquer antologia dos mais exigentes exegetas da língua pátria.
A amizade de Prudente por Patrocínio está assinalada em uma carta que o mesmo lhe escreveu em 22 de novembro de 1901, cujo final transcrevemos: “quaisquer que sejam as nossas divergências políticas, a nossa amizade nada sofrerá com isso, seremos sempre bons e leais amigos”.
Zé do Pato tinha gosto pelo pioneirismo. Foi assim que no ano de 1902 apareceu no Rio com o automóvel nº 1 do Brasil, acompanhado por Olavo Bilac, causando enorme reboliço na cidade e espanto pela geringonça que os transportava e andava sozinha. A máquina assombrava e o povo acompanhava o monstrengo sob os gritos da garotada de rua. Foi um sucesso e um espanto geral.
No primeiro aniversário da abolição, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio concedeu a Patrocínio a medalha de bronze entre outros agraciados.
Depois da abolição e da proclamação da República, cansado e abandonado pelos amigos, cada vez mais o gigante da redenção escrava se afastava do reboliço da cidade e da política, desiludido, talvez, da compreensão do povo e daqueles que, anteriormente, viam nele a bandeira de duas causas concretizadas. Realizava-se o vaticínio de João Marques. A morte no dia 13 de maio de 1888 tê-lo-ia salvo, puro, intocável, mas, seu retardamento trouxe-lhe amargos dias de desilusão e pobreza, de solidão e salpicos de lama que, em face da sua cor bronzeada e fortidão de espírito, não chegaram a manchá-lo perante a história.
Continua…
S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 11.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 11.
Quanto a Princesa Isabel, não entendia ele, embora sua extraordinária gratidão pelo gesto magno da coroa, fosse a Lei Áurea uma dádiva do governo, mas, sim, o atendimento aos anseios do povo. Anteriormente, no Teatro Politeama, num de seus discursos iluminados pela centelha do gênio dramático, sentenciava, no final:
“Ou cede à vontade do povo ou cai”
Grato a sua Redentora, em sua humildade de mulato, colocava-se numa antítese: a gratidão e a república de seus sonhos.
Durante o governo discricionário de Floriano, Patrocínio, não se dando bem com o mesmo, passou a enfrentá-lo pelas colunas da “Cidade do Rio” com fulminante campanha. Daí resultou-lhe o exilo de Cucuí, no Amazonas, decretado pelo ditador, após a malograda revolta da armada do Almirante Custódio de Mello. Rui Barbosa colocou sua pena a favor do abolicionista heroico e de seus companheiros de exilo, impetrando perante o Supremo Tribunal o célebre “habeas corpus” que marcou época na história da luta pela liberdade no Brasil.
Mais tarde, caindo Floriano e subindo Prudente do Morais, o piracicabano, ocorrido o atentado de Marcelino Bispo, várias prisões ilegais foram efetuadas e Rui, mais uma vez, coerente com seus princípios democráticos, tomou a defesa dos perseguidos políticos. Patrocínio, que o considerava “o maior dos brasileiros”, “o príncipe dos advogados”, “o mestre dos juízes”, não teve dúvidas em romper essa admiração para se colocar ao lado de Prudente a quem chamava de “Santo Varão”. Prudente era amigo de Patrocínio com quem participara, lado a lado, da campanha abolicionista e republicana e este, após os padecimentos sofridos durante o governo florianista, via na ascensão do Presidente amigo a salvação da Pátria, a paz que descia sobre a cabeça de todos os brasileiros. Não se conteve ante as verberações de Rui e passou a atacar justamente aquele que, tempos antes, corajoso, fora confortá-lo na prisão, às vésperas do desterro.
Continua…
S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio = Parte 10.

D. Pedro II

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 10.
Acusavam-no de conduta vacilante e volúvel, a ponto de se ver, em certas ocasiões, entre dois fogos de velhos companheiros. Silva Jardim o acoimava de traidor da causa republicana e André Rebouças de traidor da Princesa Isabel. Ao primeiro respondia que sempre foi republicano, mas os abolicionistas não poderiam esquecer sua gratidão à Redentora, motivo pelo qual não admitia o advento da república durante o governo de Isabel. Em relação a Pedro II, entretanto, não lhes ocultava suas antipatias.
Exilado como monarquista, após a proclamação da República, André Rebouças não perdoou o amigo o ter-se manifestado a favor da nova ordem. Sua defesa, fê-la Patrocínio num artigo intitulado “André Rebouças e eu”. Começou por dizer que Rebouças foi, sempre, “a alma de sua alma” e que nunca se permitira a liberdade de contrapor-lhe um pensamento”. Contudo, divergiam num ponto: “Rebouças era monarquista e ele republicano”.
Com a volta de D. Pedro II, muitos republicanos, ao contrário de Patrocínio, entendiam que se deviam respeito ao imperador e esperar por sua morte para a mudança do regime. Patrocínio, ao contrário, entendia que Isabel seria a salvação e suas esperanças estavam depositadas no terceiro reinado. Acreditava num futuro promissor para a Pátria dentro do coração daquela mulher que ouvia a voz do povo para governar. A frialdade de D. Pedro II o assustava.
A opinião de alguns de seus biógrafos de que, adepto franco do terceiro reinado, proclamada a república, não se pejou de passar de armas e bagagens para o novo regime, colocando as colunas da “Cidade do Rio” a serviço dos novos governantes, com as diárias a Deodoro, deve ser rebatida, pois foi o próprio Patrocínio quem, de maneira insofismável, procurou justificar sua atitude. Primeiro, não era ele um monarquista ou um republicano de
última hora. Era realmente, um dos fundadores do “Clube Republicano”. O homem dos primeiros momentos da causa, das primeiras reuniões da “chácara do Capitão Sena”. As linhas tortas escritas por sua conduta temperamental e aparentemente contraditória tinham, objetivamente, um ideal perfeito e retilíneo: a libertação dos escravos. A causa republicana não era sua. Ele seguia sob a bandeira dos amigos da velha casa de seu sogro: Quintino Bocaiuva, Silva Jardim, Lopes Trovão, Olavo Bilac, Benjamim Constant e outros. Não era ele culpado da pretendida mistura, num só corpo, de duas causas distintas. Houve, até, quem pretendesse precipitar a vinda da república sem a abolição, pretensão essa que encontrou inabalável oposição de Patrocínio: “mas, uma república com milhões de escravos?”
Continua…
S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 09.


Apresentação alegórica no Teatro Lucinda em 13 de maio de 1902, comemorando a abolição da escravatura no Brasil
  GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 09.
Parece que o vaticínio estava escrito no livro do destino.
O libertador não admitia a ideia de proclamação da república antes da libertação e tinha conceitos lapidários como este: “que adianta uma república com milhões de escravos?”
Entretanto, os republicanos, tendo à frente Silva Jardim, não lhe perdoavam esta atitude. Certo dia, no auge da campanha, defrontaram-se os dois tribunos no Teatro Lucinda. Silva Jardim, com seu verbo inflamado, acusava-o de traição à causa: “o cativo de um beijo com que a princesa ameigara o filho”. Quando chegou a sua vez de falar, pronunciava palavras trôpegas, tímidas, num ambiente carregado. Seus amigos previram seu fracasso. Paula Nei, artimanhoso, misturou-se à multidão e soltou um desaforado aparte:
– “Cala a boca, negro!”
A injuria foi uma tremenda punhalada no coração do tribuno. Súbito o mesmo se recompõe e começa uma oração fulminante. Dos apupos que havia recebido antes, o povo passa às palmas. Sua vitória estava assegurada com o delírio final do povo o ovacionando sem cessar.
Na redação do jornal “Cidade do Rio”, o velho amigo que o aparteou, acabou confessando seu crime, que visou salvá-lo do abismo, pois, somente espicaçado, Patrocínio saía-se das enrascadas. Foi como se despertasse um titã.
Por causa do seu temperamento emocional, numa constante vivência de entrechoques, não conhecia amigos se estes se colocavam contra a causa redentora, sua obsessão. Tudo o mais era para ele secundário. Era tomado de um furor negro e quando lhe ressalvavam suas aparentes contradições, dizia aos amigos: “Sou filho de um padre com uma preta. Às vezes fala em mim a eloquência do padre; outras vezes, a língua da preta.”
Continua…
S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 08.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 08.
A festa da abolição durou 8 dias. José do Patrocínio foi alvo das mais diversas manifestações. O povo, em delírio, o carregava, tirava-lhe, como “souvenir”, botões de sua casaca, pedacinho de sua camisa, chegando, segundo relato de historiadores, a deixá-lo em frangalhos. No fim da semana de delírios populares, foi ele convidado pela mocidade acadêmica de S. Paulo para receber da mesma a homenagem merecida onde foi recebido em triunfo com a maior festa que a pauliceia tributava a um homem até então. “Foi carregado, abraçado e beijado pelos moços em delírio”. Conduzido ao Grande Hotel, onde todos esperavam ouvir sua palavra. Contudo, o herói do dia estava indisposto e cansado de tanta festa em que ele era a principal figura. Havia pronunciado naqueles dias mais de cem discursos e estava esgotado. Ao começar seu discurso, embora belo, arrastava-se sem um fecho de ouro, tornando-se interminável e monótono quando, então, o conhecido e notável satírico da época, Herculano de Freitas, puxou-lhe a aba da sobrecasaca e lhe sussurrou:
– “Fala em José Bonifácio… e acaba com isto”.
Patrocínio recebeu a sugestão de Herculano como uma tábua de salvação e se saiu muito bem, terminando sua oração por convidar o povo a ir com ele ao cemitério da Consolação e rezar pela liberdade. Este final salvou o resto do discurso, pois o povo, eletrizado, carregou o tribuno até o cemitério. Terminada a fase da abolição, Patrocínio se colocou em posição discreta, pois entendia que o terceiro reinado, com a Princesa Redentora, se tornara um imperativo de gratidão do povo brasileiro a Isabel, que lhe dera a lei Áurea, ainda que advertida por Cotegipe de que a libertação significaria a queda da coroa. Patrocínio colocou-se, então, numa espécie de dualismo político que seus amigos não compreendiam e seus inimigos criticavam. Era um dos primeiros republicanos, mas, ao mesmo tempo, grato a sucessora de D. Pedro II. Viu-se rodeado de inimigos ferozes, que não o perdoavam. João Marques, um de seus maiores amigos, na memorável noite de 13 de maio, em que o povo, alta madrugada, gritava pelas ruas incessantemente, seu nome, “Patrocínio!” “Patrocínio!”. “Viva Patrocínio”, vaticinou enfaticamente:
– “Que belo dia para morreres José! Nunca mais encontrarás outro igual!” e, completando seu pensamento, terminou:
– “Vais viver, meu velho, e vais para a política… e aquilo emporcalha, meu amigo!”.
Continua…
S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio Parte 07.

Princesa Isabell




GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 07.
Patrocínio, ignorando em sua extensão a campanha abolicionista em São Paulo, dizia, injustamente na “Gazeta da Tarde” de 1883, obediente a seu radicalismo sem tréguas: Ceará é o herói da abolição. São Paulo é o castelo forte do hediondo escravagismo”. Ressaltam seus biógrafos que a admiração de Patrocínio pelo Ceará nasceu da coragem dos jangadeiros, que se opunham a servir-se de instrumento aos núcleos escravocratas do sul, quando São Paulo e Minas faziam o comércio ostensivo desta mercadoria humana, pleiteando o alargamento do cativeiro em benefício de suas fazendas. Contudo, os paulistas José Bonifácio, com seu projeto de lei para extinguir o comércio escravo, Paulo Eiró, com seu drama “Sangue Limpo” contra a escravidão, Luís Gama, Antônio Bento, Raul Pompéia, André Rebouças e outros formavam grupos ativos na luta pela libertação, que não se pode ignorar. Há que sobressair, também, a libertação dos escravos do Largo de São Francisco.
Patrocínio tinha certa razão de mágoa contra o Sul porque o apelidaram de “preto cínico” e puseram sua cabeça a prêmio. Este aspecto da conduta radical de Patrocínio levou-o, na época, à prática de muitas injustiças, inclusive com amigos. Seu passionalismo não admitia ideias contrárias á abolição, assim como sua gratidão aos que “aquinhoaram” a Pátria com a chamada ”dádiva” da libertação, chegava às raias do dramático como aconteceu com à Princesa Isabel, por ele alcunhada de “Redentora”. No dia 13 de maio de 1888, José do Patrocínio, chegava aos pés de Isabel, carregado pelo povo, e, quando subiu as escadeiras do Paço, onde a mesma se encontrava após ter assinada a Lei Áurea, num de seus arroubos felizes, disse-lhe: “Minha alma, de joelhos, sobe as escadarias deste paço para beijar vossos pés”. Às palavras seguiu-se o gesto, tendo sido, então, obstado pelo Conde D’Eu, que lhe pôs as mãos aos ombros e disse: “Não exagere, Sr. Patrocínio, não exagere...”
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S. SILVA BARRETO


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 06.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 06.
Antônio Bento entrava, por sua vez, na luta, criando organizações de escravos de caráter ofensivo como os “Caifazes” que promoviam a sedição nas lavouras de café e tramavam as fugas, cada vez maiores, protegidas pelos ferroviários. Segundo relato de um historiador “não havia trem de passageiros no qual um negro fujão não encontrasse onde se esconder, como não havia estação onde diretamente alguém o não recebesse e orientasse”, apesar dos prêmios publicados em editais para quem capturasse escravo fugido”
Vários quilombos domésticos foram instituídos, onde se homiziavam os escravos após as fugas. Distinguiram-se neste mister várias famílias ilustres cariocas e paulistas. De São Paulo os escravos eram remetidos para o Rio, por Antônio Bento, Raul Pompéia, Luís Murat, Gaspar da Silva e a remessa era precedida de um aviso senha: Segue Bagagem. Embarcados na E. F. Central do Brasil, eram instruídos para, na estação do Rio, dirigir-se a um cavalheiro que trouxesse à lapela uma camélia branca, dando-lhe a senha “Raul”, obtendo como resposta “Serpa”, quando então poderiam julgar-se salvos.
A população escrava ultrapassava a casa do milhão num total de 14 milhões de brasileiros entre brancos e pretos.
Em toda parte formavam-se os famosos quilombos, organizações de negros fugidos, aperfeiçoadas dos rudimentares quilombolas, iniciadas nos primeiros lustres do século XVIII como pioneiros na luta pela libertação dos escravos. Dos primeiros destacaram-se por sua organização social perfeita o “Quilombo do Jabaquara”, em Santos e o dos “Palmares”, no Nordeste, dirigido pelo célebre rei Zumbi. O historiador Oiliam José chega a arrolar, em Minas, a formação de 9 quilombos, além de outros mais, de pequena expressão, pululando por todo o território mineiro.
Entrosava-se na campanha o grande Rui Barbosa, amigo íntimo de José do Patrocínio. Em seu célebre discurso no comício do Teatro Politeama, promovido pela Confederação Abolicionista em 28 de agosto de 1887, dizia: “O Partido Liberal belga dispunha-se a derramar sangue, para obstar a inundação ultramontana. Os abolicionistas brasileiros lutam apenas com a força persuasiva da palavra contra a escravidão. E querem sufocá-los! O Império inteiro comove-se; os “meetings” reproduzem-se até nas capitais mais poderosas do escravismo, como Campinas; e o trono parece insensível às ansiedades do País.
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S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 05.


  
GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 05.
Eram como sessões contínuas, regadas pela cerveja, entremeadas pelas pilhérias de Paula Nei e os versos de Bilac, onde a libertação era uma bandeira que todos faziam questão de desfraldar, numa união nunca vista no solo brasileiro. Apenas uma nota discordante se ouvia entre os escritores aristocratas, a do senador José de Alencar, que, infelizmente, levantou sua voz no Senado contra a “Lei do Ventre Livre”, depois de declarar não querer discutir o assunto, afirmando “Levantar um protesto contra esta grande calamidade social que, sob a máscara de lei, ameaçava a Nação Brasileira”.
A campanha abolicionista recrudescia em todos os sentidos; José do Patrocínio comandando as hostes populares; Nabuco no Congresso, com suas palavras candentes, funda em 7 de setembro de 1880 a célebre “Sociedade Brasileira Contra a Escravidão”. Num dos salões, em casa de seus familiares, na Praia do Flamengo, sob o troar de canhões que, segundo descrição de André Rebouças em “A Gazeta da Tarde” da época, Nabuco parecia dizer aos governantes: “Mentis! Não há liberdade, nem independência em uma terra de um milhão e quinhentos mil escravos”! No Rio Grande do Sul funda-se a “Sociedade Abolicionista Nabuco”; no Ceará, a “Sociedade Cearense Libertadora”. Na mesma época, surge, comandado por um grupo de mulheres, tendo à frente D. Virgínia Vila Nova, cunhada de José do Patrocínio, o “Clube Abolicionista José do Patrocínio”. Em 12 de maio de 1883, com o fito de agrupar em um só centro as diversas sociedades surgidas em todos os recantos do País, já, então, em número de 12, José do Patrocínio, seguido por André Rebouças, João Clapp e outros, fundam a “Confederação Abolicionista”, instalada solenemente em uma sala da redação da “Gazeta da Tarde”.
Em São Paulo, concomitantemente, Luís Gama e Antônio Bento comandam a campanha. O primeiro, num discurso pronunciado no Centro Operário Italiano, pulveriza o “direito” escravista e profere sentenças como estas: “O escravo que mata o seu senhor, seja em que circunstancia for, age em legítima defesa” e a seu filho ensinava como primeira lição da cartilha: “Trabalha para que este País não tenha reis nem escravos”.
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S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte - 04.

Luís Murat
GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES

JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 04.

Como redator da “Gazeta de Notícias” suas atividades chegaram a seu fim quando o mesmo se indispôs com a orientação limitada do jornal. Necessitava de um campo maior onde pudesse lançar, com a força de seu ímpeto, suas ideias abolicionistas, que não se submetiam a medidas. Patrocínio deixou-se envolver por imensa tristeza quando, então, seu sogro se dispôs a arranjar-lhe a quantia de quinhentos contos de reis para a compra da “Gazeta da Tarde”, jornal que acabava de perder um de seus donos, Ferreira de Menezes, também integrado na campanha. Novo ânimo se apossa do incontrolável e rutilante mulato e a “Gazeta da Tarde” desfralda, nas ruas do Rio de Janeiro, sua nova bandeira de guerra à escravidão, acompanhada pelos aguerridos soldados da pena. Luís de Andrade, Júlio Lemos, Gonzaga Duque, Campos Pôrto, Leite Ribeiro, Dias da Cruz e, na gerência, João Ferreira Serpa Júnior.

Dois grupos unidos pelo mesmo ideal, formaram-se durante a campanha abolicionista: o de Nabuco, chamado intelectual-filosófico, que procurava conquistar as elite, e o de Patrocínio, que comanda o povo, fá-lo vibrar pela causa redentora. Nabuco perante o Congresso, Patrocínio perante a massa popular.

Os escravagistas começaram a se insurgir contra sua campanha e o apelidaram de “preto cínico”. Sua cabeça era posta a prêmio pelos fazendeiros do sul. O terror não o abalava. Sua pena e sua voz sucediam-se em catadupas, cada vez mais arrasadoras, convincentes.

As atividades abolicionistas de José Carlos do Patrocínio dividiam-se, então, em quatro facetas distintas e convergentes: a do jornalista, destemido e radical; a do tribuno popular, fervoroso e dramático, nas ruas do Rio e, como caixeiro viajante, de São Paulo ao Ceará; a do escritor, poeta e romancista de parcos recursos, salvo algum soneto ou o poema intitulado “A Revista”, descrevendo uma cena de cativeiro e os romances “Mota Coqueiro, ou a pena de morte”, Os Retirantes” e “Pedro Hespanhol” ; finalmente, a do boêmio, nas mesas do Bar “Castelões”, da “Confeitaria Paschoal”, do “Recreio”, do “Ginásio”, da “Adega Maison”, onde se metamorfoseava no popular “Zé do Pato” entre seus diletos e fiéis amigos, Paula Nei, Luís Murat, Olavo Bilac, Coelho Neto, Guimarães Passos, Raul Pompéia, Aluísio Azevedo, Emílio Rouède, Artur Azevedo, Pardal Malet, Emílio de Menezes e outros escritores da época. A Paschoal era a preferida e ali entre a boemia, discutiam-se os destinos da Pátria e partia a voz de comando da campanha abolicionista, comandada pelo grande libertador de escravos.

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S. SILVA BARRETO

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Grandes vultos: José do Patrocínio - Parte 03.

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO – PARTE 03.
Quebradas as resistências, num belo dia, o padrinho Ferreira de Araújo dirigiu-se à Chácara de S. Cristóvão com a missão de oficializar o namoro, oculto até então. O casamento não tardou e a data ficou marcada por um incidente ocasionado pelo incorrigível Paula Nei que, incumbido de levar as chaves de um sobradinho novo, onde os nubentes iriam passar a lua de mel, esqueceu-as, causando enorme transtorno aos recém casados, à vista dos convivas. O jovem par foi obrigado a voltar para a chácara, onde um quarto improvisado, nos fundos, lhe serviu para aquela primeira noite de núpcias. O fato não deixou de ser observado pelo Capitão:
– Eu não dizia! Este meu genro começa mal...”
De seu casamento com Bibi, nasceram duas meninas, Marieta e Maina e três rapazes, Tinon, Maceu e Zeca. Os primeiros mortos ainda na infância. Apenas o Zeca – José do Patrocínio Filho – sobressaiu como homem de talento, porém, estrina e dispersivo, não logrou perpetuar sua memória a não ser por uma fantasia megalomaníaca com a espiã Mata-Hari que, se não fosse a diplomacia brasileira, tê-lo-ia conduzido ao cadafalso em Londres.
A campanha abolicionista, a maior glória de José do Patrocínio, começou, realmente, quando o mesmo, a 3 de agosto de 1880, pela vez primeira, no recinto do Teatro S. Luís empolgou a multidão que o lotava com sua oratória emotiva e dramática, arrancando aplausos e lágrimas da plateia comovida. Repete-a a 15 e 22 do mesmo mês com idênticas características que, mais tarde, a tornaram distinta das demais pelo seu cunho de agitação de massas, capaz de demover montanhas e arrastar consigo os corações de pedra que se deixavam convencer pelos falsos argumentos escravagistas de que a escravidão era uma necessidade econômica insubstituível e sua extinção traria, como consequência, a ruína social completa e imediato enfraquecimento da Pátria. Para Patrocínio “a escrevidão era um roubo”, frase que se tornou, mais tarde, o slogan do “Clube Abolicionista”.
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S. SILVA BARRETO

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