quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Grandes vultos: Rui Barbosa - Parte 03.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
RUI BARBOSA – PARTE 03.
Mas, a clarividência de Rui Barbosa, na questão da extinção do trabalho servil, ia além da simples substituição de uma forma de trabalho por outra. Ele sentia que havia necessidade de uma reforma muito mais profunda na estrutura da nossa sociedade, sem o que a abolição seria apenas um passo a mais, porém não o definitivo. Arguia com veemência: “abolicionismo é reforma sobre reforma; abolicionismo é reconstituição fundamental da pátria; abolicionismo é organização radical do futuro; abolicionismo é renascimento nacional. Não se há de indicar por uma sepultura com uma inscrição tumular, mas por um berço com um horóscopo de luta.”
Contra essa abolição sem reformas sociais capazes de transformá-la em um veículo de progresso da nossa estrutura social profligava, ainda, ao afirmar que após a extinção do labor escravo devia ser instituída “a liberdade religiosa, a democratização do voto, a desoligarquização do senado, o desinfeudalismo e a federação.
Era a previsão de um homem que antevia a necessidade de uma modificação nas relações de propriedade no campo, a fim de que a massa egressa das senzalas pudesse se enquadrar em um tipo novo de produção e não ficar como borra, elemento marginal, econômica, cultural e socialmente.
Depois de extinto o trabalho servil, Rui Barbosa volta à carga, denunciando a forma atabalhoada e compromissada como fora feita a abolição. Dizia: “estava liberto o primitivo operariado brasileiro, aquele a quem se devia a criação da nossa primeira riqueza nacional. Terminava o martírio em que os obreiros dessa construção haviam deixado, não só o suar do seu rosto e os dias de sua vida, mas todos os direitos da sua humanidade, contados e pagos em opróbrios, torturas e agonias. Era uma raça que a legalidade nacional estragara. Cumpria às leis nacionais acudir-lhe na degradação, em que tendia a ser consumida, a se extinguir, se lhe não valesse. Valeram-lhe? Não. Deixaram-na estiolar nas senzalas de onde se aumentara o interesse dos senhores pela sua antiga mercadoria, pelo seu gado humano de outrora. Executada, assim, a abolição era uma ironia atroz. Era uma segunda emancipação o que teria de empreender, se o abolicionismo houvera sobrevivido à sua obra, para batizar a raça libertadora nas fontes de civilização.” E concluía: “Evidentemente, senhores, as duas situações distam imenso uma da outra. Entre a posição do trabalhador e a do escravo não ha nada substancialmen
a antiga mercadoria, pelo seu gado humano de outrora. Executada, assim, a abolição era uma ironia atroz. Era uma segunda emancipação o que teria de empreender, se o abolicionismo houvera sobrevivido à sua obra, para batizar a raça libertadora nas fontes de civilização.” E concluía: “Evidentemente, senhores, as duas situações distam imenso uma da outra. Entre a posição do trabalhador e a do escravo não ha nada substancialmente comum. Mas uma relação de analogia as subordina à mesma ordem moral de ideias. A ambas interessa o trabalho: a primeira nas liberdades elementares e do cidadão, a segunda na independência econômica do trabalhador.”
Continua…
CLÓVIS MOURA

Um comentário:

CÉU disse...

Oi, Rosemildo!

O seu Brasil está precisando de um Rui Barbosa há muito, aliás, quase todos os países.
Abolição da escravatura, sim, mas todinha. Aos trabalhadores e aos escravos interessa o mesmo: o trabalho em liberdade e devidamente pago. A independência económica é o marco da liberdade do indivíduo.

Beijos e bom domingo.

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