quarta-feira, 13 de abril de 2016

Grandes vultos - Tiradentes - Parte III.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES 
   
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES)
 
Tiradentes diante da morte
 
O Alferes foi preso no dia 10 de maio de 1789.
 
Em Minas, foi decretada logo a severa ordem de prisão para todos os inconfidentes. De início foi preso o desembargador Tomás Antônio Gonzaga, o noivo de Marília, cujo casamento era aguardado como o que iria ser o mais belo em Vila Rica. Cláudio Manoel da Costa foi posto numa prisão na Casa dos Contos. Como previa o enforcamento, de conformidade com a rigorosa lei de então, não resistiu e suicidou-se, com grande sentimento para o povo. No Tejuco, depois de muito trabalho, foi preso o padre Rolim, enquanto o comandante das tropas, Francisco de Paula Freire de Andrade saía disfarçadamente para sua fazenda Caldeirão, sendo, porém, detido para ser posto no cárcere aos empurrões. Em S. João del Rei foi detido Alvarenga Peixoto, e na Vila de S. José o padre Carlos Correia de Toledo e Melo. Em breve as prisões se achavam cheias de sonhadores da liberdade, pouco a pouco remetidos para o Rio. Iam com os punhos acorrentados, a cavalo, enquanto os brutos soldados os humilhavam durante os 8 dias de marcha para os cárceres sombrios.
 
Tiradentes, que tinha sido o primeiro detido, foi jogado na prisão, apenas com a roupa do corpo. Depois de alguns meses foi levado à presença dos juízes, interrogado demoradamente, sem nada dizer que comprometesse os companheiros. Os juízes lhe faziam perguntas sobre coisas que só os inconfidentes sabiam; e ele ficava admirado deles saberem tanto sobre os planos do levante. Era que Silvério soprava, dizia, informava, através de bilhetinhos dirigidos ao Vice-rei, tudo o que sabia.
 
Os juízes desesperavam quando viam que o chefe, Tiradentes, nada informava, e excluía da acusação os antigos companheiros. Até que, já na 4ª audiência, mais de um ano depois que se encontrava preso, mandou um dos juízes que entrasse na sala Silvério. Tiradentes ainda sorriu para cumprimentá-lo, mas o infame delator deu-lhe as costas e se pôs a falar para os juízes, acusando todos e sobretudo o Alferes.
 
Tiradentes viu então de onde tudo partia. E enquanto falava Silvério, ele via com tristeza o sonho de independência desfeito; o Brasil continuava explorado por mãos estranhas, o povo sofrendo a opressão da Coroa, sem falar que aos poucos os companheiros se aproximavam da forca.
 
Quando Silvério se retirou, os juízes quiseram que ele tudo confirmasse. Tiradentes ergueu a cabeça e disse:
 
– Não há cabeças nem capatazes. Só eu sou o culpado e foi eu quem idealizou tudo!
 
Os que se encontravam na sala emudeceram, ante tamanha coragem.
 
No entanto, todos os companheiros ouvidos o acusaram de tal forma que só nele caiu a maior culpa. Uns diziam que ele era louco; outros, que era um falador sem nenhum propósito. Ninguém o defendeu.
 
Até que afinal, no dia 18 de abril de 1789 foi lavrada a terrível sentença. Na sala do Oratório da prisão, acorrentados, cerca de dez inconfidentes ouviram a sentença de morte por enforcamento, com esquartejamento a seguir. Lágrimas, blasfêmias, gritos, se seguiam quando o desembargador incumbido de ler a sentença pronunciava o nome do condenado. Já no Campo da Lampadosa se erguia a forca descomunal, a maior que se levantou no Rio. O advogado dos inconfidentes, José de Oliveira Fagundes, trabalhava sem cessar, procurando, através de sucessivas petições, convencer os julgadores de que deveriam perdoar, ou, no máximo, desterrar os inconfidentes, e nunca matá-los. O desespero tomou conta de todos, pois os juízes se mostraram inflexíveis. Quando já estava alta a madrugada do dia 20 de abril, e as tropas se estiravam pelas ruas, no rumo do Campo da Lampadosa, foi que um lampejo de esperança raiou. Os passos do desembargador pareceram mais rápidos e ele trazia um sorriso nos lábios. Entrou na sala e os condenados o cercaram, cheios de temor mas já com alguma esperança. A Rainha mandava que as penas fossem comutadas em degredo para a África!
 
Os gritos, as lágrimas, as saudações se erguiam de todos os lados em louvor à piedosíssima Rainha. Todos caíram de joelhos, erguendo os olhos e os braços, com as faces lavadas de lágrimas de reconhecimento pela mercê que acabavam de receber! Passados alguns anos poderiam voltar ao lar. á Pátria; e aquela inconfidência teria passado como um pesadelo. As correntes iam caindo dos punhos dos condenados, à medida que eram perdoados.
 
Só um condenado permaneceu de pé, com as correntes nos punhos: Tiradentes! Todos se abraçavam, sorriam, choravam. Passado o alvoroço, nem notaram que um companheiro sorria para eles, e os cumprimentava e formulava votos para que vivessem muitos anos.

21 de abril
 
O 21 de abril de 1792 foi um sábado. Muita tropa na rua e muita gente procurando um lugar por onde passaria o condenado em busca da forca. De todos os condenados, só o Alferes seria enforcado. Todo mundo se compadeceu daquela situação e muita gente saiu do Rio.
 
Às 8 horas da manhã, entrou na sala do Oratório o algoz. Trazia enrolada no braço a corda e tinha nas mãos uma longa camisola branca, chamada “alva dos condenados”. O padre confessor, Penaforte, aproximou-se de Tiradentes para ouvi-lo dizer: “padre, se eu tivesse dez vidas, dez eu daria para que os companheiros não sofressem nada”.
 
O negro Capitania, tremulo, se aproximou, e pediu ao condenado que o perdoasse. Tiradentes o encarou e disse: “Meu amigo! Deixa-me beijar teus pés e tuas mãos! És um inocente!”
 
Quando foi pedido que tirasse o paletó, ele tirou também a camisa dizendo: “O meu Salvador morreu também assim, pelos meus pecados!”
 
Tambores rufavam na rua, cavalos com crinas amarradas de fitas coloridas agitavam-se ante as esporas de prata dos cavalos que bradavam vozes de comando.
 
Às 9 horas, pouco mais ou menos, Tiradentes, vestido com o camisolão, pisou o chão da rua, empunhando um crucifixo, tendo a corda passada pela garganta, enquanto o Capitania segurava a ponta. Um meirinho gritava a frente apontando-o e chamando-o de “infame réu” que havia tentado libertar o país do poder da Rainha piedosíssima! “O Alferes caminhava trôpego , pois fazia quase três anos que estava encarcerado. Depois de andar sob um sol abrasador, mais de quilômetro e meio, entrou no triângulo formado por soldados. Rápido subiu as escadas do cadafalso. Um padre recitou um longo sermão, enquanto ele, em voz baixa, pedia que o Capitania acabasse logo o “trabalho”. A seguir o padre convidou o povo para rezar o credo, ouvindo-se clara, sem tremor a voz firme do Alferes.
 
Súbito, um rumor! Tiradentes foi jogado ao espaço enquanto o negro cavalgava seus ombros para rapidamente enforcá-lo. Tambores, vozes enérgicas de comando, brados, rumor enfim foram ouvidos, enchendo toda a praça.
 
A seguir, para ser cumprida a sentença, constatada a morte do condenado, foi erguido seu corpo ao estrado e, à vista do povo, seguiu-se o esquartejamento. Postos os quartos em sacos de couro, foram sendo semeados no caminho de Minas Gerais. A cabeça foi pregada num poste em Vila Rica para que o tempo a consumisse. Todos os bens foram confiscados e vendidos em benefício da Coroa, e considerados infames seus filhos e netos “se os tivesse”.
 
Assim foi desfeito esse belo sonho de liberdade, em virtude da traição de um companheiro.
 
Silvério teve perdoadas as dívidas. Recebeu da Coroa algumas honras; mas jamais pode voltar a Minas Gerais. Morreu alguns anos após roído de bichos.
 
Trinta anos depois da morte de Tiradentes raiou a Liberdade do país, isto é,a 7 de setembro de 1822 o príncipe D. Pedro proclamava a independência.
 
Um poeta disse de Tiradentes:
 
“Tombou! Mas esplenderam num céu azul de glória,
– Escritas com seu sangue – as páginas da História Da Terra da Liberdade por quem ele morria!”

 
Fonte: Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6, escrito por Luís Wanderley Torres.

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3 comentários:

RENATA CORDEIRO disse...

Estão interessantíssimos este dois capítulos sobre Tiradentes. Mais tarde, volto para lê-los melhor.
Beijo e bom dia*

CÉU disse...

essa personagem sempre me fascinou e tem feito correr rios de tinta, mas o importante é k ela faça escrever muito e muita gente.

beijos e bom fim de semana, Rosemildo.

Elvira Carvalho disse...

Interessantíssima esta narrativa. Obrigado por partilhá-la. São homens como este que mudam o rumo da história.
Abraço

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