quarta-feira, 6 de abril de 2016

Grandes vultos - Tiradentes - Parte II.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES 
   
Momento da prisão de Tiradentes
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES) PARTE – II

 
Logo estava Tiradentes de volta à Minas. A todos falava: pelo caminho, pelas estalagens, em todas as oportunidades, sem temer coisa nenhuma.


Essa exaltação logo cairia no ouvido do governador, agora Visconde de Barbacena.

 
A ideia de libertação, aliada à opressão terrível que sofria todo mundo, terminou por aliciar alguns patriotas que comungavam também com as ideias do Alferes. Em S. José morava o padre Carlos Correia de Toledo e Melo (filho de Taubaté), que passou a frequentar Vila Rica e lá conversar sobre essas ideias com o doutor Cláudio Manoel da Costa, grande poeta, solteiro e muito influente. Em São João del Rei, outro poeta, o Coronel Inácio José de Alvarenga Peixoto, esposo da poetisa Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira que muito influenciou o ânimo do marido para entrar na Inconfidência, aderiu com entusiasmo. Luís Vás de Toledo Piza, Sargento Mor, irmão do padre Carlos, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Domingos Vidal Barbosa,José de Resende Costa, pai e filho, e muitos outros,passaram a se reunir em casa do comandante da tropa Francisco de Paula Freire de Andrade, que residia em Vila Rica.

 
Tiradentes também convidou seu amigo Joaquim Silvério dos Reis, que devia muito à Coroa, de impostos atrasados, e não pretendia pagar. Sendo ele muito interesseiro, viu que o movimento daria certo, se todos ficassem empenhados em fazê-lo. Liberto o país, ele, Silvério,estaria livre de dívidas, em troca do serviço prestado à nova república que iria criar. Ficou contente com o plano dos inconfidentes e ofereceu seus 200 escravos para a luta pela libertação.

 
Domingos de Abreu Vieira, compadre de Tiradentes, ofereceu muitos barris de pólvora e o padre José da Silva de Oliveira Rolim levantaria o povo no Tejuco (hoje Diamantina).

 
Em breve eram muitos os patriotas, que se reuniam secretamente na casa do comandante das tropas de Minas, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, que era cunhado de Alvares Maciel.

 
Os planos iniciais foram lançados, sendo o ato principal para o levante, a prisão de Visconde de Barbacena na fazenda Cachoeira, cerca de três léguas de Vila Rica. O Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, grande poeta, que estava para casar com sua Marília (Maria Dorotéia) estava incumbido de redigir, em companhia de Cláudio, as leis da nação que seria fundada. Todos preferiam fosse uma República, em vez de Monarquia. Não haveria escravidão. As mulheres seriam amparadas pelo estado quando tivessem muitos filhos. A Capital da nova República seria transferida para S. João del-Rei e em Vila Rica se fundaria uma Universidade, para que a mocidade universitária não precisasse sair do seu país para instruir-se. As armas da República ostentariam um gênio quebrando uma correntes e gritando: “Libertas quae sera tamen” (Liberdade ainda que tardia) ideia de Alvarenga Peixoto, e a bandeira teria um triângulo, símbolo da Santíssima Trindade, ideia de Tiradentes. A moeda seria a oitava, em ouro, com o valor de 1$500 por oitava. Fábricas de todos os produtos que a terra produzisse seriam fundadas para que o povo não importasse coisas que a própria terra tinha. Além do mais, os braços, nas cidades, seriam ocupados, com grande proveito para o progresso futuro.

 
Aprovados esses planos, Francisco de Paula deu a senha: “tal dia é o batizado”. Os inconfidentes deviam se prevenir com armas e gente, para quando o governador mandasse lançar a derrama, isto é, a cobrança dos atrasados que o povo devia à Coroa. De há muito que as minas se encontravam decadentes, não se conseguindo mais pagar as 100 arrobas anuais. Mas o fisco real não dispensava, e queria as 100 arrobas, atribuindo à negligência na cobrança, ou ao contrabando a não arrecadação daquele montante. A dívida já estava em 596 arrobas (quase 9 mil quilos de ouro) que cerca de 400 mil pessoas deveriam pagar com os bens, vendendo o que pudessem dispor, mesmo que todo mundo ficasse reduzido à miséria.

 
O desembargador Gonzaga ainda explicou ao Intendente da Coroa, que aquela cobrança era desumana, e que se deveria apelar para a Rainha, D. Maria I, clamando por uma anistia.

 
Tudo debalde. Só restava o caminho da Revolução libertária.

 
Tiradentes viu seus planos em marcha e aguardou a senha do seu comandante.

 
Caso falhasse a Revolução, seriam todos presos, julgados, enforcados e aqueles que conseguissem a piedade real, seriam pelo menos desterrados para sempre às costas da África. Quem soubesse, por outro lado, de qualquer plano de independência, tinha o prazo de 30 dias para delatar, sob pena de ser considerado também inconfidente.

 
Estavam as coisas muito bem encaminhadas, quando Tiradentes outra vez seguiu para o Rio. Pelo caminho ia falando “que em breve teriam em Minas novos governadores!” Encontrando uns tropeiros na serra da Mantiqueira, com os burros carregados de sal, bateu ele na anca dos animais e gritou para os condutores: “Vão subindo! Vão subindo, que de muito sal iremos precisar nessas Minas!” Todo mundo se escandalizava com tamanha temeridade, pois estava ele publicamente pregando a independência.

 
Chegando ao Rio, viu que seus requerimentos ainda não haviam sido despachados, e ficou mais de um ano esperando. Enquanto isso, trabalhava na sua profissão e curava com medicina caseira os doentes que lhe procuravam. Assim é que pôs boa a filha da viúva Inácia Gertrudes de Almeida, de uma feia ferida num pé.

 
Enquanto impaciente, esperava, já muito saudoso da sua Vila Rica, em Minas, o seu amigo Joaquim Silvério dos Reis denunciava em muito segredo, ao Visconde, os planos dos Inconfidentes. Estava ele aterrorizado, pois Tiradentes falava muito e sem temor.

 
O primeiro ato do Governador foi suspender a derrama!

 
Isso significava o fracasso do movimento, pois iria deflagrar logo depois da derrama. Os inconfidentes ficaram petrificados! “Alguém denunciou o levante!” Pensaram.


Barbacena imediatamente comunicou-se com o Vice-Rei, no Rio por um portador enviado em segredo. A seguir exigiu que Joaquim Silvério fosse para o Rio e não perdesse de vista seu amigo Tiradentes, para se saber quais os inconfidentes que haviam ali. Silvério desceu lentamente, a cavalo, a estrada, talvez pensando no seu infame papel de delator dos seus companheiros, que certamente iriam morrer na forca, graças à sua denúncia. O país iria continuar escravo, os brasileiros oprimidos, os amigos presos, as famílias órfãs, e só ele, Joaquim Silvério dos Reis, iria ganhar com isso, pois teria as dívidas perdoadas e uma pensão vitalícia pelo serviço prestado, de 400$$ anuais. Não se lembrava que a História o iria apontar para sempre, como o mais covarde, o mais abjeto dos traidores.

 
Quando ele desceu do cavalo, o primeiro abraço que recebeu foi dado por Tiradentes, que, cheio de saudades e abrasado de entusiasmo, perguntava como ia Vila Rica e os amigos! A seguir, muito em surdina: “como vai o movimento nas Gerais?”

 
Silvério foi morar frente a habitação do Alferes, “para melhor observar seus passos” como informou em carta ao Vice-Rei.

 
Com muito disfarce foi visitar o poderoso Luís de Vasconcelos e Sousa (o vice-rei), que de tudo já sabia, graças ao portador enviado pelo Governador de Minas. Mas, mostrou-se surpreso, para dissimular. Despachou dois soldados disfarçados, com bigodes raspados, à paisana e encapotados, para que vigiassem à toda hora Tiradentes. Em todas as esquinas, por todo canto, estavam eles, tanto que o povo começou a temer, pois o Alferes tinha um ardentíssimo gênio e os partiria a espada. Outros, porém, serviçais do Vice-Rei, murmuravam: “Fujam de Tiradentes!” Toda gente se afastava e se escandalizava. Até que um amigo, o Tenente-coronel Sardinha, aconselhou Tiradentes a que fosse ao Vice-Rei reclamar contra a vigilância sem propósito. Mas, diante do Alferes, Luís de Vasconcelos disse que aquilo não era nada e ficasse sossegado.

 
Joaquim José resolveu então esconder-se. E numa noite, quando aquelas sombras perseguidoras o seguiam, ele enganou-as escondendo-se em qualquer ponto escuro, vendo-as passar rápidas e desorientadas, perdendo-se no escuro da noite. Tiradentes então seguiu por outras ruas daquele Rio de Janeiro escuro, até a casa da viúva Gertrudes de Almeida (aquela, cuja filha ele curara). A viúva o encaminhou à rua dos Latoeiros, onde tinha um compadre, Domingos Fernandes Cruz, natural da Vila de Mogi das Cruzes (S. Paulo), que o acolheu na madrugada de 6 de maio de 1789.

 
Dois dias depois, a viúva mandou ao esconderijo de Tiradentes seu sobrinho padre Inácio Nogueira de Lima, saber do que precisava. O Alferes pediu ao padre que procurasse Joaquim Silvério e indagasse dele se a inconfidência já tinha deflagrado em Minas, pois ele queria ir por dentro dos matos até lá.

 
Padre Inácio procurou Silvério, que estava desassossegado, pois o Vice-Rei queria dele que desse conta de Tiradentes sob pena de enforcá-lo. Foi um achado para Silvério aquilo. Padre Inácio deu o recado e Silvério quase não pode conter o contentamento. Pediu o endereço do esconderijo, mas o padre desconfiou e não deu. Silvério reclamou dizendo que era tanto amigo de Tiradentes quanto o padre. Nada conseguiu, no entanto. Como o padre estava acompanhado de outro, Silvério agradeceu o comunicado, mas conservou junto de si esse companheiro do padre Inácio e aproveitou perguntar onde padre Inácio residia. Depois, dirigiu-se rápido ao palácio e em breve estava o padre Nogueira preso e levado ao Vice-Rei. Ouviam-se na rua os gritos de Luís de Vasconcelos, enquanto o padre nada informava. Depois de muita ameaça (até de fogueira) padre Inácio tudo informou. Um sargento e alguns soldados foram despachados e a casa da rua dos Latoeiros foi cercada. O sargento e os soldados subiram na água-furtada do prédio e lá encontraram Tiradentes empunhando um bacamarte, disposto a abater o primeiro que tentasse prendê-lo. Ao ver tratar-se de companheiro de farda, que apenas obedeciam ordens, rendeu-se. Foi levado à presença do Vice-Rei, que logo o reconheceu, sendo a seguir mandado para as masmorras da fortaleza da Ilha das Cobras onde ficou incomunicável. Na mesma fortaleza, mas em cárcere diferente, foi também preso Joaquim Silvério.

 
O sonho de Independência da Pátria estava desfeito.

 
Continua não no próximo post.

 
Fonte: Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6, escrito por Luís Wanderley Torres 

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3 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Obrigado amigo por esta partilha que me deu a conhecer mais um pouco da vossa história em época comum à nossa.
Um abraço

Andre Mansim disse...

Nossa história é rica. Existem controvérsias. Uns historiadores admitem a história que vc contou tão bem. Outros denigrem o nome de Tiradentes. Mas um dia quem sabe a história absoluta apareça.
Talvez isso nunca aconteça e o mundo das suposições continuem.

Mas seu trabalho foi muito bem feito.

Obrigado por compartilhar.

CÉU disse...

estive cá e li seu post, Rosemildo.

mto interessante, mas a História não é uma ciência exata e quem a faz são pessoas, portanto com ideais diferentes.

beijos.

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