quarta-feira, 30 de março de 2016

Grandes vultos - Tiradentes - Parte I.

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES   
 

  
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER (TIRADENTES)
[1746-1792]
...se eu tivesse dez vidas,
dez eu daria para que os
companheiros não sofressem nada”


Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha – o Tiradentes, nasceu na fazenda Pombal, município de São João del-Rei (Minas Gerais) no ano de 1746, em dia e mês até hoje ignorados. Foram seus pais: Domingos da Silva dos Santos (português) e Antônia da Encarnação Xavier (brasileira)


Irmandade: 

O futuro Alferes era o 4º filho, sendo ao todo 7 irmãos. Dois dos seus irmãos foram padres: Domingos (o mais velho) e Antônio, que era o 3º. Todos os seus irmãos lhe sobreviveram; por conseguinte: tiveram notícia da sua morte.

Situação familiar  

A família de Tiradentes era católica praticante. Seus pais, de bom coração, eram muito conceituados em São João del-Rei (hoje Tiradentes), sendo que o pai chegou a ser vereador, e o avô por parte de mãe, Procurador dos Quintos do Rei, emprego de alto destaque, de que dependia a fiscalização dos rendimentos da Coroa em S. José.
 
A fazenda Pombal se situava à margem direita do lendário Rio das Mortes, num vale amplo, com colinas afastadas das margens do rio, que deslizava tranquilamente até se perder de vista, ao longe.

Ali, em suas margens ou nas suas águas, brincaram felizes os 7 filhos do casal Domingos da Silva dos Santos, em companhia de alguns escravos pequenos, até o início da segunda metade do século XVIII, quando Antônia da Encarnação adoeceu gravemente, passando-se o pai do Alferes definitivamente para S. José, com toda a família. Data de 22 de julho de 1751 o testamento que ambos fizeram, estando Antônia da Encarnação <temendo a morte> e bastante doente, deitada numa <cama de doença que Deus Senhor foi servido dar-lhe>.

Curou-se, no entanto, e, já no ano seguinte lhe nascia uma filha, que recebeu na pia batismal o nome de Antônia Rita.
 
O futuro Alferes da Cavalaria Paga das Minas Gerais, o Protomártir da nossa independência, não teve uma infância feliz.
 
A 6 de dezembro de 1755 falecia Antônia da Encarnação, sua mãe, estando ele com apenas 9 anos. O fato de se ver sem os carinhos maternos em tenra idade se gravou tão fortemente em seu espírito, que, homem feito, tinha um ar espantado. Por outro lado, Domingos, seu pai, de uma ora para outra se viu cercado por 7 filhos, todos menores, tendo o mais velho 17 anos, e a menor, Antônia Rita, pouco mais de dois.
 
Uma sombra pesada de tristeza caiu sobre a família, vindo o pior ocorrer dois anos depois, quando levado pela saudade e pelo desânimo, falecia Domingos da Silva dos Santos.
 
Fatos contemporâneos
 
Quando nasceu Tiradentes era rei de Portugal D. João V, opulento, faustoso, beato, tendo-se caracterizado seu reinado pela corrupção aqui e na Corte portuguesa.
 
As minas de ouro do Brasil forneciam a riqueza que alimentava essa ostentação que desmoralizava os costumes, outrora severos, que fizeram Portugal grande e respeitado.
 
A Capitania de Minas Gerais tinha então, aproximadamente, 100 mil habitantes, espalhados em grande parte pelas serras e rios, na faina de descobrirem ouro e diamantes. Os diamantes, na sua totalidade, pertenciam à Coroa, enquanto o ouro era explorado pelos faiscadores que eram obrigados a pagar, depois do ano de 1751, um quinto do que extraia das lavras. Como era difícil fiscalizar a parte reservada ao fisco real, depois de muita discussão entre os representantes do rei e as Câmaras das Vilas, ficou estabelecido que o povo da Capitania pagaria anualmente de imposto, pelo ouro extraído, 100 arrobas anuais (1.500 quilos). Era uma imposição exagerada a que, pacientemente, se submeteu o mineiro, ante o temor de passar por inconfidente, isto é, de não merecer mais a confiança do rei, ser preso, os bens arrecadados para o Erário real, e em dados casos ser até enforcado e esquartejado. Isso era da lei e toda gente pagava com enorme sacrifício, pois além das 100 arrobas de ouro, quatro outros tributos caíam sobre o infeliz povo.
 
Os governadores nomeados para a Capitania das Minas traziam sempre instruções para fazerem cada vez mais renderem os tributos, enquanto nenhum melhoramento se fazia em benefício dos habitantes. O famigerado governador José da Cunha Menezes levou o tempo todo do seu governo em construir uma cadeia pública, onde os presos sofriam por qualquer coisa que muitas vezes nem estava na lei, mas que feria o orgulho do insolente governador.
 
Os soldados em geral, pertenciam a milícias particulares, e estes, em compensação, recebiam pomposos título em recompensa, entrando, no entanto, com as despesas da manutenção dessas milícias, que estavam sempre dispostos a defender os bens e interesses da Coroa. Não faltavam os vaidosos que assim compravam os títulos de Coronel, Tenente-coronel e outros mais. Entre eles, Joaquim Silvério dos Reis, que era Coronel da Cavalaria dos Campos Gerais, muito vaidoso, senhor de 200 escravos e muitas fazendas, que morava na Borda do Campo (hoje Barbacena).
 
Tiradentes entrou como soldado num regimento que pagava soldo. Era o Regimento da Cavalaria Paga das Minas Gerais, que servia junto aos governadores. Em breve era Alferes e passou a comandar uma patrulha que vigiava o caminho que ligava Vila Rica ao Rio de Janeiro. Levantava mapas de municiamento da tropa: prendia os contrabandistas de ouro e diamantes; informava todas as ocorrências sob sua vigilância. Era brando, comedido e leal para com seus comandados. Exercia também a profissão de protético, surgindo desse fato a alcunha de Tiradentes. Os escravos nas senzalas, o povo em geral, acorriam para que o Alferes aliviasse suas dores, e ele o fazia de boa vontade. Era quando ouvia as queixas com referencias aos pesados tributos que seus conterrâneos tinha que pagar a um rei sempre faminto de ouro. Começou ele então a murmurar, irado, contra isso. Ao mesmo tempo via que dependia em grande parte da sua vigilância o enriquecimento da Coroa.
 
À falta de escolas superiores tinham os pais de mandar para além-mar os filhos estudarem. Ficavam desterrados, às vezes por anos, e isso era um fator velado, de revolta. Mas ao voltarem, tinham os filhos outra mentalidade, e sofriam ao verem sua pátria em tão lamentável estado, sobre pesados grilhões de uma exploração sem fim.
 
Outros estudantes, filhos da América Inglesa (depois Estados Unidos) não puderam suportar esse regime de opressão, se levantaram contra a poderosa Inglaterra e proclamaram sua independência.
 
Poucos anos depois, um estudante brasileiro se encontrava na França com um desses jovens libertadores. Thomas Jefferson e pediu que auxiliasse o Brasil na sua libertação. Thomas Jefferson prometeu algum auxílio, mas nada se pode concretizar porque esse estudante brasileiro, que se chamava José Joaquim da Máia, pouco tempo depois falecia em Lisboa.
 
Tiradentes, porém, que há muito bradava contra a opressão do seu povo, continuava a falar em todas as oportunidades que se ofereciam, dizendo sempre que ele queria mais do que libertar! Ele queria restaurar a sua terra, explorada, roubada, ignorante, sem nenhum conforto e progresso, porque os cruéis dominadores nada construíam nela e só queriam oprimir e levar suas riquezas.
 
Em breve passou ele da palavra para os fatos. Destemeroso, possuído de uma flama patriótica invencível, pouco se lhe dava saber que poderia ser preso e esquartejado, se continuasse na sua pregação.
 
Veio ao Rio e fez uns requerimentos para conseguir canalizar as águas do Andaraí e Maracanã para dentro da cidade, construindo então chafarizes para vender a água, ruim e difícil na época. Pedia ainda à Coroa Real licença para construir um embarcadouro para gado, no porto. O terceiro seria a construção de um trapiche, para guardar as mercadorias a serem embarcadas ou as que se desembarcassem dos navios.
 
Depois de esperar que os requerimentos fossem à Lisboa e voltassem teve oportunidade de se encontrar com um moço, já formado, que voltava de além-mar para o Brasil. Era ele José Alvares Maciel. Passou a conversar com o Alferes sobre a independência americana e o que isso significava para a liberdade.
 
Tiradentes inflamado
 
Em dado instante Alvares Maciel encarou-o e disse:
– Lá na Europa todo mundo estranha que o Brasil não faça o mesmo que a América Inglesa. O Brasil é muito mais rico e poderoso, mas os moços são diferentes dos de lá...
 
O Alferes não se conteve. “Ah! Se todos tivessem o meu ânimo”, disse com olhar brilhante de revolta. E ficou repetindo a frase muitas vezes. “Sinto em mim a vontade de botar esse Vice-Rei abaixo, e mandá-lo para a Corte com um recado... Não precisamos aqui deles!”
 
Alvares Maciel ficou impressionado com tamanha exaltação, e viu que ali estava uma chama viva de amor à sua terra.
 
Continua não no próximo post.
Fonte: Forjadores do Mundo Moderno, Editora Fulgor, edição 1968, volume 6. Autor: Luís Wanderley Torres.

Visite também: 
Clicando aqui:

4 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Interessantíssimo o post de hoje. Desde menina que oiço falar no Tiradentes, mas nada sabia dele. Incluso imaginava que fosse um indígena, no estilo do Viriato, não sabia que era um militar, e menos ainda filho de um português.
Um abraço

CÉU disse...

embora esse post não esteja ainda concluído, tenho k lhe dar os parabéns pelo interesse do mesmo.
a História é uma ciência maravilhosa. o Tiradentes, desde criança, foi uma personagem k sempre me fascinou, embora tivesse dele, uma impressão um pouco tosca e rude. o achava bruto e destemido, e em certa medida, até o foi, mas sempre lutou pela sua Pátria e pelos direitos de seus conterrâneos.

beijos e dias de renascimento.

Andre Mansim disse...

Muito boa essa postagem meu amigo!

Bem cheia de informações e parece que você teve que pesquisar muito para escrever.

Parabéns meu amigo, gostei bastante!

Maria Teresa Valente disse...

Olá, Furtado!
Quando estamos na escola, pouco sabemos dos personagens que fizeram nossa história.
A sua dedicação, nos permite conhecer detalhes da vida de Tiradentes, que até então desconhecíamos, mas que agora, faz toda a diferença!
Agradeço, excelente semana, abraços carinhosos
Maria Teresa

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...