quarta-feira, 29 de julho de 2015

Literatura Brasileira - Parte 01

 


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA BRASILEIRA – PARTE 01

O primeiro problema que se estabelece na Literatura Brasileira, é o da sua origem. O que quer dizer: conquanto tenha havido pronunciamentos sistemáticos e autorizados, nossa historiografia literária, fundamentada no método e na lucidez crítica do ensaio dos nossos dias, não chegou, ainda, a uma conclusão satisfatória. Por que? Porque quatro autores, correspondentes a quatro critérios, geram essas divergências: Pêro  Vaz de Caminha, José Anchieta, Bento Teixeira Pinto e Gregório de Matos.
 
No Brasil Colonia, tiveram eles sua posição e importância definidas. Se pusermos, todavia, em tese ou debate, os critérios acerca desses autores, de cada um particularmente, observaremos que as divergências têm razão de ser; quem, dentre eles, foi o iniciador da nossa literatura? Acha-se, por ventura, na Carta, de Pêro Vaz de Caminha, nos Autos, de José de Anchieta, na Prosopopeia, de Bento Teixeira Pinto, ou na poesia satírica de Gregório de Matos o início da nossa literatura? A Carta, de Pêro Vaz de Caminha, escrita num português europeu, isto é, numa língua já realizada no espaço e no tempo, pode ser considerado o primeiro documento, de natureza informativa, sobre a terra e a gente de uma região recém-descoberta. Elaborada no século XVI, a Carta documenta aquilo a que se convencionou chamar “ciclo do conhecimento da terra”, que não era outra coisa senão o Brasil.
 
Duplo de escritor, no mais auto sentido, e de cronista, na melhor tradição portuguesa, Pêro Vaz de Caminha, contudo, escreveu-a na linguagem oficial da Metrópole e a par com os sentimentos de um conquistador deslumbrado.
 
Os cronistas, tanto os portugueses, como Pêro de Magalhães Gandavo, Gabriel Soares de Sousa, quanto os estrangeiros, quais Hans Staden, André de Thevet e Jean de Lery – uns e outros, vindos posteriormente, nada mais fizeram senão reproduzir em suas crônicas, mais capazes uns do que outros, as visões da terra e da gente.
 
Constituiu-se, assim, com esses cronistas uma autêntica literatura de viajantes, para qual o novo meio físico e a humanidade que lhe correspondia, era, apenas, o que importava, como ocorreu com o cronista português Pero de Magalhães Gandavo em sua “História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil", em que retrata a vida dos colonos e dos indígenas, ou como sucedeu com Hans Staden em Meu Cativeiro entre os selvagens do Brasil.
 
Ob: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte. 
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 29.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 29

José Maria Eça de Queiroz (1845-1900) foi o maior romancista português. Começou no jornalismo, na Gazeta de Portugal. Publicou seu primeiro livro em 1876: O Crime do Padre Amaro, provavelmente o seu mais conhecido romance.

Ao lado da sua linguagem clara e do seu estilo escorreito, o que mais se destaca na sua obra é a sua ironia, uma ironia deliciosa de que se tem belos exemplos no Conde d'Abranhos e, especialmente, na Relíquia. Sintam o sabor desta última. Um moço boêmio é enviado por uma tia carola e muito rica ao Oriente Médio em busca de relíquias cristãs, onde ele compra uma coroa de espinhos qualquer que pretende impingir à tia como a autêntica coroa de espinhos de Jesus. Acontece que há uma troca inadvertida de pacotes e ele leva para Portugal a camisa de dormir de uma inglesa que havia sido sua amante durante a viagem: uma camisa em que estavam bordadas as iniciais MM. Avisada da compra da coroa e da chegada do sobrinho, a tia reúne todos os altos dignatários civis e eclesiásticos para vê-la. O pacote é aberto e surge a mencionada camisola. O rapaz é expulso de casa e perde a herança ambicionada. Ele então se lamenta: “Que burro fui, poderia ter dito que se tratava da camisa de Maria Madalena, que aqueles imbecis todos acreditariam. 
 
Eça também foi um criador de tipos e um grande analista da sociedade portuguesa da época. Dos seus tipos, o mais popularmente conhecido é o Conselheiro Acácio, um personagem do Primo Basílio; das suas análises sociológicas (O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias, A Capital), a melhor e a mais complexa é a tentada nos Maias, romance em que Eça faz uma radiografia dos meios aristocráticos do Portugal da época. Mas Eça também tem crônicas deliciosas, ainda atualíssimas hoje em dia: Cartas de Inglaterra. No Mandarim, Eça tenta uma análise brejeira do comportamento moral do homem ao levantar o problema de um pobre diabo que poderia herdar uma grande fortuna de um mandarim se estivesse disposto a matá-lo fazendo soar uma campainha. A situação é artificial, mas o livro é delicioso. O seu mais fraco trabalho, na nossa opinião, é A Cidade e as Serras, romance em que tenta um estudo do meio rural lusitano. Falso do começo ao fim, apesar de pretender ser uma análise sociológica séria e não uma simples travessura, como O Mandarim. Eça foi, sem a menor sombra de dúvida, o maior romancista português.
  
Obs: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte. 
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

No próximo post iniciaremos o relato sobre a História da Literatura Brasileira.  
 
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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 28.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 28

Segundo exemplo:

No meio d'uma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar em cima de um jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda gente deu esmola aos tais ciganos;
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver esse quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
 
Na sua crítica, Guerra Junqueiro investiu contra inúmeras instituições do seu tempo, mas a igreja foi a sua grande vítima. Contam, inclusive, uma anedota a seu respeito: Quando estava para morrer, pediu a presença de dois jesuítas, que fez sentar um de cada lado da sua cama. Como ele nada dissesse, os religiosos começaram a se impacientar e, por fim, um deles rompeu o silêncio perguntando ao moribundo qual a razão de os ter chamado, ao que o poeta respondeu: “Para morrer como Cristo, entre dois ladrões.” Apesar de esse episódio estar perfeitamente de acordo com o espírito sarcástico do poeta, é pouco provável que seja verdadeiro porque Guerra Junqueiro, no fim da vida, reconciliou-se de certa forma com a Igreja, como mostra esta passagem de Prosas Dispersas: “Eu tenho sido, devo declará-lo, muito injusto com a Igreja. A Velhice do Padre Eterno é um livro de mocidade. Não o escreveria já aos 40 anos.”
 
Ob: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Literatura Portuguesa - Parte 27.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 27
 
Deu-se o contrário com Guera Junqueiro, um poeta muito menos profundo do que Antero, superficial mesmo, mas um poeta verdadeiramente popular.
 
Abílio Guerra Junqueiro nasceu em 1850 e morreu em 1923. Publicou seu primeiro livro de poesias em 1874, A Morte de D. João, seguido depois por Musa em Férias (1879), A Velhice do Padre Eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração ao Pão (1902), Oração à Luz (1903), Prosas Dispersas (1920).
 
Pode-se dizer que existem dois poetas em Guerra Junqueiro: o lírico (Os Simples, por exemplo) e o panfletário satírico (A Velhice do Padre Eterno, por exemplo), e é difícil dizer qual deles é o maior. Como lírico, Guerra Junqueiro é realmente admirável, tanto pela ideia quanto pela forma, mas a poesia lírica é, sem dúvida, uma poesia vazia, sem interesse social. Por outro lado, na sua poesia panfletária satírica, Guerra Junqueiro é rude e até mesmo vulgar. Aliás, essa distinção que fizemos não é absoluta porque num mesmo livro temos exemplos admiráveis de lirismo e de sarcasmo. Veja-se, como prova, dois exemplos retirados da Velhice do Padre Eterno:
 
Primeiro exemplo?

Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caia mansa a noite, e as andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares.
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos das montanhas as canções das ceifeiras,
Como a alma de um justo ia em triunfo ao céu!...
E, mãos postas ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo a Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Ob: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte. 

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Literatura portuguesa - Parte 26.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL
LITERATURA PORTUGUESA – PARTE 26
 
O chefe desse grupo renovador era Antero de Quental, e tudo começou em 1865 com uma polemica (Questão Coimbra) entre ele e Castilho, o último dos grandes românticos ainda em plena atividade, que havia criticado escritos de Antero e de Teófilo Braga. Antero respondeu com um opúsculo que se tornou célebre – Bom Gosto e Bom Senso – e a luta se estendeu, envolvendo vários nomes célebres da época, ou que viriam a se tornar famosos: Camilo, Ramalho Ortigão, Castilho, Eça, Teófilo Braga, Herculano etc.
 
Entre os grandes nomes da escola realista portuguesa, vamos nos limitar a citar três, em geral tidos como os maiores: Antero de Quental e Guerra Junqueiro, na poesia, Eça de Queiroz, na prosa.
 
Antero Tarquínio de Quental nasceu nos Açores em 1842 e suicidou-se em 1891, em plena rua, com um tiro. Iniciou-se no campo da literatura com artigos de jornal, exerceu grande atividade política e publicou seu primeiro livro de versos em 1861: Sonetos. Sua poesia é profunda, filosófica, intelectualista, quanto à forma. Contudo, uma poesia divorciada da realidade social, apesar das vocações e, inclusive, das atividades socialistas do seu autor. Especialmente sua primeira obra, em que dá total vazão às suas tendências místicas e à profunda formação religiosa que recebeu na infância. Aliás essas características da sua personalidade ele nunca as perdeu, nem mesmo nas Odes Modernas (1864), que pretende ser uma poesia combativa e de agitação social.
 
Vendo fracassar suas esperanças de revolução social (?), Antero retira-se da vida atuante e se introverte ainda mais, tornando-se hermético, profundo e nebuloso nos seus escritos, preocupando-se com problemas filosóficos que nenhum sentido social e real podem ter: possibilidade de realização do absoluto, finalidade da evolução biológica, felicidade, liberdade total etc.
 
Apesar de ter sido chamado de “Santo Antero” pelo grande Eça, e de ter influenciado grandemente a intelectualidade do seu tempo, Antero não conseguiu nunca ser lido e entendido pelas massas, nem pelas da sua época, nem pelas de hoje. É um poeta praticamente desconhecido fora dos círculos literários.
 
Ob: Com relação as informações históricas e geográficas contidas neste post, favor considerar a época da edição do livro/fonte.
 
Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7.

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