quarta-feira, 28 de março de 2012

Literatura Ocidental - Parte 25.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 25

LITERATURA INGLESA

Fim da idade média

As novelas medievais inglesas estão unidas no mais popular ciclo anglo-francês: as lendas do Rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda. A ele pertence a novela do século catorze escrita por autor anônimo em dialeto West Midland “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde”. Sir Gawain é composto também em versos aliterativos e apresenta grande perfeição de narrativa e de estrutura. A esta literatura épica pertencem igualmente os grandes temas comuns a toda a Europa, colocando ao lado do ciclo arturiano o ciclo de Carlos Magno. No fim do século XIV surgiram baladas de inspiração idêntica e que celebravam as aventuras de Robin Hood. No início do século seguinte um poeta ambulante desconhecido reúne diferentes episódios deste mito que lentamente se desenvolvera e forma um todo coerente – “Façanhas de Robin Hood” – sintetizador dos ideais, da fé, da cólera e da esperança de todo um povo. Autêntica criação coletiva, será durante um século retomada e enriquecida em aspectos fundamentais como o da inclusão de uma companheira de Robin para desenvolvimento de tema amoroso. Todos os mitos populares em que se projetam a crença no bem, no belo e no nobre estão resumidos nesta obra.

A grande figura inicial da literatura inglesa é, inegavelmente, Geoffrey Chaucer (1340-1400). Tradicionalmente qualificado de “Pai da literatura inglesa”, destaca-se por suas obras famosas “Troilus e Cressida” e “Contos de Canterbury”. Chaucer foi artista exímio no domínio das formas poéticas francesas e arguto observador do mundo em que vivia, bem como conhecedor profundo dos seres humanos aos quais contemplava com amigável e compreensivo sentimento. Esteve em proveitoso contato com Dante e com líricos franceses e italianos. Tendo traduzido obras para o inglês – como o Romance da Rosa, por exemplo – exerceu profunda influência sobre a língua ainda em processo de fixação.

Também John Wycliff (1320-1395) exerceu influência sobre a posterior fixação da língua inglesa ao traduzir a Bíblia. A versão de Wycliff foi terminada e completada por Hereford e Purcey. Este trabalho literário e religioso serviu de base para a versão definitiva da Bíblia inglesa.

Pouco antes da era elizabeteana, surgem dois importantes poetas líricos: Thomas Wyatt e Henry Howard, o Conde de Surrey (1503-1542: 1517-1547). Ambos sofreram influência imensa do lirismo petrarquiano e ambos utilizam afetadamente uma técnica muitíssimo desenvolvida.

Época elizabeteana (1560-1610)

O imenso desenvolvimento literário inglês que acompanha, com ligeiro atraso, a aceleração súbita do desenvolvimento interno e a extraordinária afirmação do poderio da época elizabeteana, demonstra a elevação cultural como resultante de lento processo natural de acumulação. Elizabeth, ao proporcionar a ampliação do ritmo de vida em todos os domínios e a consequente tomada de consciência do povo, coloca as bases sócio-econômicas para a riqueza literária subsequente.

A primeira antologia inglesa – Miscellany, escrita por Tottel em 1557 – é publicada um ano antes da ascensão de Elizabeth. As grandes obras clássicas e renascentistas são traduzidas ou adaptadas à linguagem poética e, desta multiplicidade, saem as formas inglesas que introduzirão autores do mundo literário extra-britânico como reais influências na literatura de alto nível e significação.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 66/68.

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quarta-feira, 21 de março de 2012

Literatura Ocidental - Parte 24.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 24

LITERATURA INGLESA


Período inicial anglo-saxônico

O solo da Gran-Bretanha presenciou a fusão de inúmeros povos que, sucessivamente, a invadiam. Quando a ilha de Bretanha foi invadida pelas legiões romanas no primeiro século anterior à era cristã, essas legiões conseguiram submeter à força os celtas, mas não os povos do norte – os scots e os pictos – que se concentraram em suas montanhas. As incursões desses invictos ancestrais dos escoceses forçaram a construção da muralha de Adriano ao redor da colônia romana. Como consequência da diminuição do poderio romano, os bretões tiveram que recorrer ao auxílio dos piratas anglos e saxões da Dinamarca para poder conter seus vizinhos scots. Os anglo-saxões vieram auxiliar os bretões, fizeram-no e, logo, os dominaram apossando-se do país. O primeiro rei anglo-saxônico mal terminava a formação de um só Estado quando retornaram com violência os dinamarqueses. Em 1066, finalmente, ocorre a invasão e o domínio normando comandado por Guilherme, o conquistador.

Os romanos haviam fracassados ao tentar a latinização dos celtas, os bretões não foram absorvidos pelos saxões e os dinamarqueses formaram uma camada marginalizada. Séculos foram necessários para que pudesse ser realizada uma síntese original das diferentes camadas de estratificação, seja no aspecto social, político ou linguístico. Evidentemente, não é de se estranhar que também a literatura apresente dois estratos bem afastados; um latino-cristão de inspiração religiosa e um popular que engloba tradições cristãs e não cristãs.

A primeira obra produzida na Inglaterra pertence à tradição saxônica anterior à invasão da Bretanha e ao grande fundo comum da tradição germânica. Trata-se da epopeia brutal de Beowulf, herói bárbaro escandinavo. Sua provável data de composição é do século VI a.C., mas, apenas como literatura oral. O único manuscrito que nos alcançou data de 1000 a.D. E apresenta estrutura não-cristã com inserção de aspectos cristãos. Este poema épico apresenta uma notável visão da vida dos saxões; é de agradável leitura, embora com dificuldades do dialeto em que está escrito; está fundado poeticamente no verso aliterativo; e, indubitavelmente, prova a existência de um grande poeta da civilização anglo-saxônica. Notável deve ter sido também outro poema épico semelhante a Beowulf e que comemora a batalha de Brunanburh ocorrida em 937. Infelizmente, de “A Batalha de Brunanburh” somente possuímos uma versão em prosa. Neste poema da literatura heroica não-cristã em processo inicial de cristianização exalta-se a força, a guerra e os massacres, sem que transpareça a ternura humana que intervém nas novelas francesas de cavalaria.

“A Batalha de Brunanburh” em sua versão prosaica está incluída na “Crônica Anglo-Saxônica” redigida pelo rei Alfredo no século IX. Cronicões semelhantes surgiram nos séculos posteriores. Inicialmente apareceram inúmeras vidas de santos escritas por clérigos e posteriormente tornaram-se frequentes os manuais práticos escritos em prosa e que, normalmente, consistiam de traduções do latim. Esta tradição histórica parece anunciar a predileção dos escritores ingleses pelo gênero biográfico. A estratificação da literatura em solo inglês é completada no período normando pela existência de uma escola literária de expressão latina e de uma escola literária palaciana de expressão francesa. A esta última pertencem obras conhecidas como “Façanha dos Bretões”, “Os Rebentos de Maria da França” e “A Procura do Santo Graal”.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 64/66.

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quarta-feira, 14 de março de 2012

Literatura Ocidental - Parte 23.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 23

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

A nova poesia francesa demonstra o prolongamento das experiências sofridas durante a ocupação da França pelas hordas do nazi-fascismo e a predominância dos ideais marxistas. Exemplificam os primeiros aspectos os conjuntos poéticos de “L'Incendie”, de Romain Weingarten, e “Seul et le Corps”, de Jean Laude; é bem representativo do clima poético de inspiração marxista o poema épico de Édouard Glissant intitulado “Les Indes”, panorama artístico da evolução social através da dialética do senhor e do escravo que se processa dolorosa e dramaticamente pelos séculos até mostrar o rumo do futuro da fraternidade humana concretamente alcançada. Em “Épiphanies” ou em “Nucléa”, ambos de Henri Pichette, observa-se a dramaticidade histórica como refletida pela angustia interior de um poeta em compromisso total. A dialética interioriza-se e identifica-se à poesia sob forma épica na criação de Yves Bonnefoy: “Du mouvement et de I'immobilité de Douve”.

Resta apontar a renovação teatral francesa em seu desenvolvimento e alcance do antiteatro, o que atinge significação artística em Eugène Ionesco e em Samuel Beckett.

Samuel Beckett (1906) reúne-se com sua produção às maiores expressões do século literário: Kafka, James Joyce e Sartre em “La Nausée”. Beckett dedicou-se ao romance com “Malone Meurt”, “Molloy”, “L'Innommable” e “Nouvelles et Textes por rien”, mas atinge o clímax de sua criatividade com as peças teatrais: “En attendant Godot” e “Fin de Partie”. Em Beckett o patético reúne-se ao desespero e o humor ao trágico e as duas realidades confluem na criação de intensa náusea perante a inexistência assim reduzida.

Eugène Ionesco é o dramaturgo de “Victimes du devoir”, “La Cantatrice chauve”, “La Leçon” “Les chaises” e “Amédée ou Comment s'endébarrasser”. Em sua temática são constantes: o caráter gratuito da linguagem, a consequente incomunicabilidade, a irremediavelmente indissolúvel união do trágico ao cômico, o caráter incompreensível da realidade.

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, página 64.

AGUARDEM!

No próximo post teremos a Literatura Inglesa.

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quarta-feira, 7 de março de 2012

Literatura Ocidental - Parte 22.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 22

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

O romance personalista aproxima-se do romance existencialista pela lucidez de denúncia e pela recusa de álibis extra-humanos; no entanto a consciência de uma ausência dramaticamente sentida implica, no romance personalista, uma presença de significação plenamente religiosa. Romancistas personalistas de significação podem ser considerados: P. A. Lesort, Jean Cayrol, Paul Gadenne, Louis Pauwels, Maurice Fourré, Marcel Schneider, André Pieyre de Mandiargues, Luc Estang.

P. A. Lesort destaca-se com seu romance “Les Reins et les Coeurs”; Luc Estang, com “Les Stigmas”. A esperança metafísica informa os romances de Jean Cayrol, sobretudo os de mais intensa força lírico-poética: “Je vivrai I'Amour des autres” e “Le Déménagement”. Tons simbólicos são atingidos nos romances “Sloé” e “Vent Noir” de Paul Gadenne, autor notável pela intensidade dramática, pela sinceridade e pela nobre gravidade de sua expressão literária e que elevou o simbólico a nível excepcional em seus romances seguintes: “La Rue Profonde”, “L'Avenue” e “L'Invitation chez les Stirl”. O mítico une-se ao romanesco da religiosidade herético-satãnica de Marcel Schneider, autor de “La Primière Ile” e de “Les Deux Miroirs”. A mitologia centralizada em temática de amor e morte caracteriza a extrema fluência estilística de Maurice Fourré em seus livros “La nuit du Rose Hêtel” e “La Marraine du Sel”. O misticismo satânico harmoniza-se com o surrealismo em “Saint Quelqu'un”, “Les voies de petite communication” e “L'amour monstre” escritos por Louis Pauwels. André Pieyre de Mandiargues é o excepcional narrador que recusa o desenvolvimento linear frásico ao ampliar o estilo com sinuosidades e retornos em “Musée Noir”, “Soleil des Loups” e “Les lis de Mer”, romances em que intenso erotismo estende-se a dimensões cósmicas.

A grande renovação no estilo do romance é a total ruptura com as formas tradicionais nos próprios aspectos que eram considerados essenciais durante o desenvolvimento de sua técnica, seja na etapa do romance heroico e romântico, seja na do realista ou, ainda, do metafisico. A este movimento denominado “nouveau roman” dois de seus representantes fornecem linhas teóricas divergentes: Nathalie Sarraute em “L'Ére du Soupçon” e Allain-Robbe Grillet em “Une voie pour le roman futur”. De acordo com Allain-Robbe Grillet a orientação do novo romance deve ser objetivista, o que será alcançado pelo abandono do visceral, analógico ou encantatório que caracterizavam o romance tradicional e significativo e pela transcrição desantropomorfizada do novo estilo ótico-descritivo. O objetivismo já pode ser encontrado em momentos de “L'Étranger” de Camus ou de “Chemins de la Liberté” de Sartre. Na orientação teórica de Nathalie Sarraute abandona-se a análise psicológica através de monólogos interiores e adota-se a revelação da realidade psíquica através do próprio comportamento dos personagens e da reformulação realizada pelo leitor: a lucidez será mais intensa quanto melhor for a apreensão trazida pelo leitor ao retirar o que está oculto nos movimentos sob a conversação. Tal subjetivismo também pode ser encontrado em “La Nausée” de Sartre. Filosoficamente as orientações objetivista e subjetivista corresponde respectivamente à afirmação fenomenológica do objeto e da posição existencialista quanto à consciência. Os principais romances objetivistas são “Les Gommes”, “Le Voyeur” e “La Jalousie” de Robbe-Grillet e “L'Emploi du Temps” e “La Modification” de Michel Butor (1926). Na orientação subjetivista destacam-se “Portrait d'un inconnu” e “Tropismes” de Nathalie Sarraute e “Le Square” e Moderato Cantabile” de Marguerite Duras.

Continua no próximo post.)

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 62/64.

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