quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 12.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 12

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

Dentre os romancistas obscurecidos pelo desabrochar do romance no século XIX – Mme. De Tencin (1681-1749). Mle. De Lussan (1682-1758), Mme. De Graffigny (1696-1758, por exemplo – é necessário destacar Bernardin de Saint-Pierre (Jacques Henri-Bernardin de Saint-Pierre – 1737-1814) escreveu “Paul et Virginie” (um dos episódios de “Études de la Nature”) no qual descreve o amor inocente de dois jovens em ambiente idílico. Ampliando os elementos pitorescos de Rousseau romancista, Bernardin de Saint-Pierre anuncia a aproximação do romantismo. Apenas um poeta lírico surge no século XVIII: André Chénier (1762-1794), que reformando a versificação tradicional através de recursos métricos, como a ampliação do enjambement, domina com maestria o ritmo e a melodia. Os poemas de Chénier reintroduzem a sinceridade de emoções na poesia e revelam imensa plasticidade de expressão.


Época revolucionária (1789-1815)

Os grandes pensadores do século XVIII foram expressões de um pensamento progressista que será convertido em atos em 1789, inaugurando um período de reformulação social e política literariamente expressada em lirismo e eloquência. O lirismo da revolução é sobretudo heroico e patético e atinge as grandes massas populacionais. Entronizada a Razão como única deusa eleva-se o anseio de liberdade nas praças públicas ao som da “Marseillaise”, de “Ça ira” ou do “Chant du Départ” e a palavra eloquente é de novo oferecida ao povo em ambientes abertos, como o ilustra Danton.

O movimento de expressão literária dos grandes pensadores do século anterior prossegue apenas reforçado em sua formulação revolucionária. Os estudos históricos e filosóficos encontram transcrição literária com Mirabeau (1749-1791), Robespierre (1759-1794), Danton (1759-1794), Condorcet (1743-1794) e Camille Desmoulins (1760-1794).

A queda de um mundo pelo poder da estabilidade violentamente ocorrida nas estruturas sociais, políticas e morais e o reconhecimento de que não traziam em si qualquer valor absoluto produz escritores cuja temática está centralizada na angustiante solidão do homem, como Chateaubriand (1768-1848), Benjamin Constant (1767-1830) e Mme. De Staël (1766-1817). Benjamin Constant escreveu “De l'Esprit de Conquête” e “De la Religion”, romances que refletem uma ação política positiva, e “Adolphe”, romance psicológico que apresenta os personagens na plenitude de sua complexidade. Mme. de Staël, como é conhecida Anne Louise Germaine Necker, escreveu numerosos panfletos políticos, tem imensa correspondência e livros como “Eloges”; “Réflexions sur la Paix”; “Essais sur les factions”; “Dix Années d'Exil”; “De l'influence des passions sur le bonheur des individus et des nations”; o ótimo ensaio “La Littérature considerée dans ses rapports avec les institutions sociales”; e, como obra-prima, o romance “Corinne” no qual surgem as primeiras reivindicações feministas. Mme de Staël, no entanto, é menos escritora que uma heroína romântica e divulgadora da doutrina romântica da primazia do gênio e da inspiração sobre a tradição e a imitação, bem como na atmosfera de inquietude, melancolia e exaltação lírica. François René, visconde de Chateaubriand, é o grande escritor pré-romântico que, através de suas obras (“Le Génie du Christianisme”; “René”; “Les Martyrs”; “Atala” e, principalmente, “Memoires d'Outre Tombe”, romance autobiográfico de imenso valor), caracteriza-se pela perfeição descritiva, imaginação poética, musicalidade de perfeito equilíbrio como é adequado a prosa, beleza de comunicação literária da realidade plástica, sentimento religioso – todos esse aspectos encontrando expressão graças à harmonia e vivacidade de um estilo profundamente lírico. A obra de Chateaubriand está estruturada em função de valores estritamente pessoais e não coletivos, o que indica o aparecimento do “eu” poético-romântico.

(Continua no próximo post.)

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 46/47.

Visite também:

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 11.



HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 11

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

Denis Diderot foi escritor de grande vivacidade de estilo, capaz de expressar-se em agradável estilo, autêntica conversa graciosa e acalorada. Como romancista é sobretudo o autor de “Le Neveau de Rameau”, romance dialogado no qual mescla realismo e lirismo de maneira a poder receber a classificação de escritor moderno, de “La Religieuse”, romance anticlerical. Para o teatro escreveu “Le Fils Naturel” e “Le Père de Famille” – dramas realistas burgueses do teatro de tese. Por suas ideias subversivas à religião e ao sistema aristocrático num ateísmo consequente e elevado uniu-se ao movimento político-literário do qual resultaria a Revolução Francesa a qual contribuiu com a idealização e colaboração na Enciclopédia. De fato, a Enciclopédia foi a autêntica súmula do racionalismo que fundamentou filosoficamente a vitoriosa ascensão da burguesia. Compreendida em 28 volumes publicados de 1751 a 1772, a Enciclopédia muito contribuiu para a divulgação dos conhecimentos científicos da época, e das ideias-força do progresso e da razão. Os maiores escritores e filósofos da França no século XVIII colaboraram na elaboração da Enciclopédia: Diderot dirigindo-a e colaborando; d'Alembert (1717-1783) redigindo o Discurso Preliminar que apresenta a orientação geral e as doutrinas filosóficas da empresa cultural; Jaucourt (1704-1779) encarregando-se de partes científicas, políticas e religiosas; Holbach (1723-1789) escrevendo as partes de química e mineralogia; Marmontel (1723-1799) responsabilizando-se pelas partes de literatura; Morellet (1727-1819) autor das partes de Teologia e de Metafísica; e muitos outros, como Condillac (1715-1780) e Helvétius (1715-1771). A Enciclopédia alcançou inteiramente seus objetivos ao ter estimulado o desenvolvimento da pesquisa científica e da atitude de livre-exame. Etienne Bonnot de Condillac é também autor de obras, das quais devem ser destacadas: “Traité des sensations” e “Essais sur l'origine des connaissances humaines”; Claude Adrien Helvétius autor de “De l'Eprit”, “Le Bonheur”; “De l'homme, de ses facultés intellectuelles et de son éducation” é o filósofo sensualista que lutou pelo reconhecimento da relatividade moral e pela igualdade de espíritos. Helvétius por sua crítica social e por suas preocupações econômicas é um precursor do socialismo e do materialismo científico de Marx.

Jean-Jacques Rousseau, também um dos enciclopedistas, é o autor de “Émile”, que introduz o princípio da bondade da natureza humana; “Contrat Social”, no qual apresenta a natureza de convenção contratual humana do direito e da moral; Nouvelle Héloise”, em que desenvolve a apologia da vida doméstica e campestre ao mesmo tempo em que prega a reforma dos costumes pelo estabelecimento de uma moral natural; “Conféssions” e sua continuação “Rêveries du promeneur solitaire”, ambos autobiográficos, porém, o segundo com maior potência emotiva; finalmente, a obra “Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes”.

Romancistas importantes exclusivamente como literatos e pertencentes ao século são: Marivaux (1688-1783), Prévost (1697-1763), Choderlos de Laclos (1741-1803). Pierre carlet de Chamblain de Marivaux tem dois romances principais: “Marianne” e “Le Paysan parvenu”, nos quais apresenta análises psicológicas convencionais, mas, ótima observação dos costumes; a glória de Marivaux procede de suas comédias “Le Jeu de l'Amour et du Hasard”, “Les Legs” e “Les Fausses Confidences” – que pertencem a um teatro de fantasia, de amor terno e profundo e de ação interior. O abade Prévost d'Exiles escreveu uma obra-prima intitulada “Manon Lescault”, que é o tomo VII das Mémoires d'un Homme de qualité”. “Manon Lescault” revela a influência que Prévost recebeu do inglês Richardson; nela observa-se a intensidade de sentimento expresso pateticamente mas sem exageros declamatórios devido a seu estilo simples e direto. Prévost inicia o exotismo literário e em suas personagens já está prefigurado o herói romântico. Pierre Choderlos de Laclos é o autor de “Liaisons dangereuses”, inicialmente intitulado Lettres recueillies dans une societé et publiées pour l'instruction de quelques autres”, notável por seus estudos psicológicos.

(Continua no próximo post.)

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 44/45. 

Visite também:

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 10.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 10

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

Século XVIII

Literalmente considerado, o século do absolutismo francês pode ser definido como o período de lenta transformação do classicismo em neoclassicismo e na quase imperceptível preparação do romantismo. A primeira metade do século assinala o artificialismo aristocrático enquanto a segunda metade presencia a exploração ideológica do sentido inesperado e revolucionário representada por Rousseau.

O classicismo decadentista pode ser representado por Jean B. Rousseau (1670-1741), Le Franc de Pompignam (1709-1784) e, sobretudo, por Ponce-Denis Ecouchard Lebrun (Lebrun-Pindare – 1729-1807) literato desprovido de valor durável e mero versificador prosaico.

Corrente mais literalmente válida encontramos na continuação de Saint-Simon e Voltaire por escritores como Montesquieu (1689-1755), Alain-René Lesage (1668-1747) e Voltaire (1694-1778).

O barão de Montesquieu, cujo nome é Charles Viscondal, distingue-se pela gravidade, eloquência e concisão da linguagem. Em sua primeira obra, o barão de la Brède et Montesquieu sutilmente satiriza o cartesianismo e o Estado absolutista, a Igreja e a literatura da época; este importante livro de estreia chama-se “Lettres Persanes” e foi publicado em 1721. Em seguida, inicia a moderna ciência histórica com “Considérations sur les causes de la grandeur des Romains et leur décadence”. Veio depois sua obra-prima, “Esprit de lois”, na qual procura relações sociologicamente necessárias e com a qual, praticamente, inicia a sociologia moderna. Sua última obra é “Défense de l'esprit des lois” com a qual inscreve-se como precursor do enciclopedismo ao defender e divulgar o sistema constitucional proposto por Locke.

Alain-René Lesage, dramaturgo e romancista, acompanha a empresa de Montesquieu ao escrever “Lettres Persanes” como se estrangeiros satirizassem a sociedade clássica: Lesage escreve “Le Diable Boiteaux” (1707) que é também uma sátira a sociedade clássica vista por um espião ajudado pelo diabo. Satiriza ainda, os romances de análise abstrata que conquistavam a popularidade entre o grande público. Escreveu, além de “Le Diable Boiteaux”, os seguintes romances: “Guzman d'Alfarache”, “Le Bacholier de Salamanque”, “Vie et Aventures de M. de Beauchêne” e sua obra-prima “Gil Blas”. “Gil Blas” é um romance picaresco profundamente humano e que gozou de amplo prestígio em toda Europa chegando a influenciar o grande escritor inglês Fielding.

François Marie Arouet, Voltaire, representam o apogeu do Iluminismo na França, segundo o qual a razão e a experiência concreta são os necessários e únicos instrumentos de que dispõe o homem para o conhecimento e reformulação do mundo e este é regido exclusivamente por leis naturais. Tendo se dedicado a todos os gêneros literários, apresenta como obras principais: no teatro, as tragédias “Mérope” e “Zaire”; na ficção satírica, “L Ingénu” e “Candide”; na história, “Le Siècle de Louis XIV” e “Remarques sur les Moeurs”; na épica, “Henriade”; na crítica, “Remarques sur Les Pensées de M. Pascal”; finalmente, na correspondência familiar, cerca de doze mil e setenta cartas. O racionalista Voltaire combateu, corajosamente com imenso humor, a tirania e a intolerância no campo intelectual, politico e eclesiástico. Suas ideias revolucionárias causaram-lhe uma série de perseguições, tendo inclusive motivado sua prisão na Bastilha e sua fuga para a Inglaterra, mas, sua causa seria vitoriosa na Revolução Francesa. Em sua obra-prima, “Candide”, critica o otimismo de Leibnitz e amplia esta análise satírica à humanidade total através do dr Pangloss. Excelente na concisão de suas frases rápidas e na limpidez e vivacidade de estilo, foi poeta supremo principalmente nas sátiras, nos madrigais e nos epigramas.

Esta corrente de crítica moral, dirigida sobretudo aos costumes e às instituições, alcança seu ponto supremo com Diderot (1713-1784), Rousseau (1712-1778) e Helvétius (1715-1771).

(Continua no próximo post.)

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 42/44. 

Hoje é dia do aniversário do Arte & Emoções!
Dá uma passadinha por lá!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 09.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 09

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

Reunidos ao redor do abade de Saint-Cyran, diretor espiritual da abadia de Port-Royal, encontramos alguns do melhores escritores do século, como Racine e Blaise Pascal. A adesão do grupo de Port-Royal ao jansenismo ocorre e influencia os solitários port-royalistas. Jean Racine (1639-1699) adota como doutrina moral a doutrina jansenista segundo a qual as paixões dominam inevitavelmente ao homem por ser este essencialmente fraco. Na análise das situações cotidianas, Racine demonstra o poder superior da paixão amorosa, caracterizada por extrema dramaticidade revelada em múltiplas manifestações. Entre as produções de Racine que melhor apresentam o trágico humano devem ser destacadas: “Andromaque”, Athalie” e “Phèdre”, considerada sua obra-prima. Blaise Pascal (1623-1662), modernamente considerado precursor do existencialismo kierkegardiano, escreveu a coleção de cartas reunidas sob o moderno título de “Provinciales” e a apologia do cristianismo “Penseés”: a primeira pode ser considerada um dos clímax da prosa clássica francesa, a segunda é um dos monumentos literários de toda a literatura de seu país.

Pierre Corneira (1606-1684) é o dramaturgo do homem idealizado pela grandeza e pelo heroísmo expressos em estilo enérgico, embora, às vezes, retórico. Nas situações extraordinárias de suas peças há sempre o combate entre a virtude e uma paixão dominante, normalmente a ambição ou a vingança. Conexione escreveu a comédia “La Menteur” e as tragédias excelentes “Horace”, “Cinna” e “Polyeucte”, que exaltam, respectivamente, o patriotismo, a clemência e o sacrifício a um ideal divino.

O teatro clássico francês apresenta-nos, além de Racine e Corneille, outro excelente autor: Molière. Jean Baptista Poquelin (nome real de Molière) produziu uma série de comédias de todos os tipos, mas sobretudo, as suas quase-criações: comédias de costumes e de caracteres. Seu estilo combina o vigor à naturalidade e seus enredos distinguem-se pelas brilhantes análises do caráter humano. Suas comédias principais são: “Précieuses Ridicules”, “Le Misanthrope”, “Tartuffe”, “L'Avare” e Les Femmes Savantes” (a primeira e a última são comédias de costumes; as demais são comédias de caráter).

Entre os escritores da segunda metade do século XVII citaremos, agora, os seguintes: La Rochefoucauld é o autor de “Reflexions ou Sentences et Maximes”, caracterizadas pela concisão de estilo e pela precisão descritiva; Mme. De La Fayette escreveu o maior romance francês do século XVII, “La Princesse de Clèves”; Jean la Fontaine é o autor das afamadas “Fables”, nas quais analisa os seres humanos com perfeição poética; Mme. De Sérvigné transcreve em suas fúteis “Lethres” os costumes do século; Nicolas Boileau-Despréaux codificou a doutrina poética clássica em sua famosa “Art Poétique”.

François de Salignac de la Mothe-Fénelon (1651-1715) escreveu com agradável fluidez de estilo sua obra-prima “Telémaque” e Jean de la Bruyére (1645-1691) retratou com maestria a sociedade em que viveu em seu livro “Les Caracteres”. O duque de Saint-Simon (1675-1742), Bernard Le Bovier de Fontenelle (1657-1757) e Pierre Bayle (1647-1706) encerram o século XVII e anunciam nova era para a literatura. Saint-Simon, uma das influências iniciais do movimento socialista, escreveu “Memoires” e “Systéme Industriel”, no qual defende a reorganização da sociedade pela aplicação de conhecimento científico e prega a união entre a burguesia e a realeza; Fontenelle também exalta o progresso da ciência e o divulga para as grandes camadas da população através de suas obras “Entretiens sur la Pluralité des Mondes” e “Éloges des Académiciens”; Pierre Bayle notabilizou-se pela defesa da liberdade de pensamento e pela divulgação das ideias do Iluminismo, bem como pela autoria do “Dictionnaire Historique et Critique”, de profunda influência para a afirmação das novas ideias.

(Continua no próximo post.)

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 40/42. 

Visite também: 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Literatura Ocidental - Parte 08.


HISTÓRIA DA LITERATURA MUNDIAL

LITERATURA OCIDENTAL – PARTE 08

LITERATURA FRANCESA

(Continuação do post anterior)

Orientação diversa do grupo de Plêiade é concretizada por dois autores que se aproximam do espírito renascentista de Erasmo: Rabelais e Montaigne. François Rabelais (1490-1553), poeta pleno de humor e de irreverência, exerce profunda influência sobre a literatura francesa que lhe é posterior, embora tenha sido até hoje reformulada a visão das diferentes épocas: quando as puritanas condenam o que consideram brutalidade de crítica; quando conservadoras, seu espírito crítico e de irreverência. O incontestável é seu valor evidenciado nas aventuras dos heróis Pantagruel, Gargântua e Panúrgio e no seu amor combativo pela justiça, pela cultura e, sobretudo, pela humanidade. Michel de Montaigne (1533-1592) representa a interiorização do anseio pela liberdade e pelo individualismo que não se exterioriza violentamente como em d'Aubigné e em Rabelais, mas, que, cultuando a Razão e a análise paciente e prudente, busca as bases objetivas para concretizá-lo. Suas meditações e comentários estão reunidos com simplicidade de estilo e veemência em seus “Essais”. A expressão literária não-cristã de Motaigne eclodirá, posteriormente, com Helvétius e Voltaire.


Século XVII

O século XVII será completamente diferente do anterior ao substituir a indisciplina e o pensamento combativo do século XVI por realizações disciplinadas e formalistas. Histórica e socialmente, a morte de Henrique IV assinala a pacificação aparente dos conflitos políticos, religiosos e sociais e a tarefa fundamental do governo em reforçar seu poder e reforçar a unificação.

A ordem, a calma e a frieza do “bom” burguês são os ideais de um dos principais escritores do século: Malherbe. François de Malherbe (1555-1628) é poeta (odes, sonetos, epigramas e paráfrases de salmos) e gramático, que prega a depuração da língua e transcreve em versos formalmente elegantes suas emoções superficiais. O combate aos neologismos, empréstimos dialetais e eruditos é continuado por Jean Louis Guez de Balzac (1594-1654) que escreveu “Lettres”,”Socrate chrétien” e “Aristippe”.

Opondo-se ao intransigente combate pela pureza da língua, Théophile e Saint-Amant defendem a plena liberdade de expressão, mas, a língua literária seguirá os cânones preconizados por Malherbe. Esta direção muito deve a Claude Favre de Vaugelas (1585-1650) e a Richelieu que em 1635 funda a Academia Francesa. Vaugelas diretamente contribuiu para a consolidação do bom uso linguístico com sua obra “Remarques sur la langue Française”; a “Académie” o fez em obediência a seus objetivos fundamentais de conservar e preservar a língua, bem como de estabelecer as regras literárias e julgar as obras novas.

As ideias do grande filósofo francês René Descartes (1596-1650) – dentre as quais, as de individualismo, primazia do pensamento e do bom senso, justo equilíbrio – exercem profunda influência sobre os escritores. Descartes elevou o francês à dignidade de língua capaz de expressar pensamentos filosóficos. Escreveu em francês: “Discour de la Methode”, “Traité de Passions de l'Ame” e Méditations Métaphysiques”. O justo equilíbrio foi mantido no pensamento religioso através do orador sacro Jacques Bénigne Bossuet (1627-1704), autor de aproximadamente duzentos sermões, dos quais apenas um publicado em vida. Bossuet escreveu, entre outros livros, as seguintes obras: “Traité de la Connaissance de Dieu e de soi-même”, “Logique” e “Politique tirée de l'Ecriture Sainte”.

Nicolas de Malebranche (1638-1715), filósofo, foi discípulo de Descartes, porém, cometeu a heresia do ocasionalismo. De suas obras merecem citação: “Méditations chrétiennes et métaphysiques” e “Recherche de la Vérité” – nesta última, aponta os perigos de uma razão livre.

(Continua no próximo post.)

Fonte: “Os Forjadores do Mundo Moderno”, Editora Fulgor, edição 1968, volume 7, páginas 39/41.

Visite também: 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...